A malta gosta de bola, prontos. Uma vez até fizemos um site, que se chama maisfutebol. Somos jornalistas e tudo. Mas aqui não. Diagnósticos, prognósticos e inseguranças técnico-tácticas para maisfutebol@iol.pt

segunda-feira, fevereiro 28, 2005

Só mais um pouco de Mourinho, desculpem lá, prometo ser breve

Estava ontem a ver uma reportagem da cimeira europeia que contou com a presença do presidente americano. No final do encontro lá estavam na conferência de imprensa George Bush e Durão Barroso, ou José Manuel, ou José Manuel Barroso, ou José Barroso «nice to meet you».

Enquanto toda a gente ouvia com uma expressão séria o presidente americano falar, José Barroso «nice to meet you» não evitava um sorriso na cara, soltando gargalhadas a cada tentativa de George Bush em evitar perguntas complicadas com um humor capaz de envergonhar o próprio Camilo de Oliveira.

No final da conferência, José Barroso «nice to meet you» fez um compasso de espera para aguardar pela passagem de George Bush, aproveitando para cumprimentar efusivamente o presidente americano enquanto este respondia com um gesto mecânico. As câmaras filmaram-no, por amor de Deus! Para o ridículo ser perfeito ainda encheu o peito de orgulho.

Por esta altura deve estar o leitor a interrogar-se o que é que isto tem a ver com futebol. Não tem, é um facto, e quanto a isso não posso fazer nada. Piadas básicas à parte, queria só estabelecer um paralelo com Mourinho. O homem pode ser arrogante, convencido, petulante, pode ser tudo isso, mas tem da minha parte o enorme crédito de não olhar ninguém de baixo para cima.

Bem pelo contrário. Nunca se tem em menor conta, nem apresenta aquela expressão de felicidade por estar ser cumprimentando pelo senhor tal. Mesmo que esse senhor tal tenha um coeficiente de inteligência mais baixo que a maioria da população mundial e seja presidente dos Estados Unidos.

Se algum legado Mourinho vai deixar, e prevê-se que deixe vários, esse legado será a capacidade de nós, portugueses, olharmos para outros ao mesmo nível. Sem complexos de inferioridade. Um legado que, acredito, sobreviverá a todas as figuras de urso de José Barroso «nice to meet you».

(by O Homem a quem lhe aconteceu não sei o quê)

domingo, fevereiro 27, 2005

Rivais na TV Cabo

O Canal História vai ter concorrência. Foi Luís Filipe Vieira quem o anunciou, no mesmo dia em que tentou convencer-nos ter um projecto empresarial para o Benfica.

(by O Homem a quem lhe aconteceu não sei o quê)

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Trap e o fantasma

Trapattoni faz mal em comparar o seu Benfica a outros de um passado recente para demonstrar que as coisas não estão tão mal como o dizem os lenços brancos. A questão nem é ter ou não razão no que diz: o técnico do Benfica esquece que a nostalgia é a companheira preferida do desencanto. Por isso, as nossas equipas conjugam sempre melhor o verbo jogar no passado. Ao desafiar um fantasma, Trap entrou num terreno parcial, subjectivo e irracional. E trava um combate perdido à partida, porque «parcial», «subjectivo» e «irracional» são middlenames de um adepto irritado.

(by Espoliado de Incheon)

Adenda

Três posts mais abaixo insinuei que não havia justiça no futebol. Normalmente não há. Mas de vez em quando há excepções. Quem viu aquela interminável troca de passes verdes na banheira de Roterdão, aos 81 minutos; quem se irritou com o derrube a Rochemback de um holandês derrotado dos pés à cabeça; quem viu o mesmo Rochemback tomar balanço e encher o pé para retomar aquela jogada, dando-lhe a única conclusão admissível, sabe do que estou a falar.

(by Espoliado de Incheon)

Os falsos italianos

Cinco jogos em dois dias. E duas exibições simplesmente perfeitas para guardar na memória. A do Sporting em Roterdão, claro, mesmo descontando a fragilidade de um adversário à imagem do seu treinador: muito nome, prestígio e boas memórias, escassa competência. Mas acima de todas, que me desculpem os sportinguistas justamente entusiasmados, a do Milan em Manchester.

Não vale a pena perder muito tempo com o banho táctico que Ancelotti deu a Alex Ferguson: os treinadores britânicos, mesmo com braços-direitos portugueses, não nasceram para outra coisa e além disso não conheço quem ligue a TV para ver um banho táctico. Agora o que o Milan (e em particular aquele meio-campo do Milan, Gattuso incluído) fez em Old Trafford é simplesmente sublime: pegou nas palavras «inteligência», «movimento» e «colectivo» e fez um poema com 90 minutos.

Os anti-italianistas convictos poderão argumentar que uma equipa italiana nunca faz poemas em campo. E eu concordo. Mas aquele Milan, quando joga assim, não é italiano: é património da Humanidade.

(by Espoliado de Incheon)

Agora todos em coro: «Chapéus há muitos!»

Ver equipas portuguesas em acção contra equipas italianas nas taças europeias é como dar com a «Canção de Lisboa» na RTP1, por alturas dos Santos Populares. Já todos vimos o filme pelo menos 354 vezes, sabemos de cor os diálogos e as piadas mais catitas, sabemos como começa e como vai acabar. E no entanto continuamos por ali. A olhar. À espera de quê?

(by Espoliado de Incheon)

Se houvesse justiça no futebol...

...as equipas onde joga o Materazzi perdiam sempre no último minuto. Com um autogolo do Materazzi.

(by Espoliado de Incheon)

quinta-feira, fevereiro 24, 2005

A bola genuína

Quando era miúdo, ir à bola significava subir a aldeia até aos pinhais e assistir aos jogos do Valonguense, num campo pelado de uma aldeia perto de Águeda. O Campo António Pereira Vidal não era mais do que uma bancada de madeira e chapa, óptima para celebrar golos, e uma grade à volta do campo com duas casinhotas a fazerem as vezes de balneário.

Em dias de festa, rumava-se ao "velhinho" Mário Duarte, em Aveiro, para ver os jogos do Beira-Mar, em épocas de sobe e desce constante. A primeira vez que vi o Benfica, em 1982 (porque o Veloso se tinha transferido de Aveiro para a Luz), o "Beira-Beira" encaixou 8-2, com uma equipa de reservas das "águias". Nada que se compare com os dias de hoje.

No Valonguense, a história e os intervenientes eram outros. Equipas de bigodes e quase-barrigudos, que eram operários durante o dia e jogadores à noite e domingos à tarde, quando havia jogatanas. Os derbis locais eram coisa séria e, cada apito do árbitro, um caso de vida ou morte. "Gatuno" devia ser a palavra mais meiga que o senhor de negro, ainda mais cheiinho na cintura, ouvia...

Revivi isto tudo, ontem à noite, a ver mais uma vez o - involuntariamente divertido - «Liga dos Últimos», na RTPN. Esqueçam-se os "bitaites", gozem-se as reportagens: sobre as equipas que se arrastam pelos pelados/sintéticos dos campeonatos deste país, com febras e coiratos e minis a acompanhar jogadas de fraco rigor táctico que fariam engasgar Gabriel Alves. Assistir refastelado no sofá ao Coimbrões-Oliveira do Douro, genuíno e ingénuo, dentro e fora do campo, foi quase um acto de reconciliação com o futebol.
(by Apanha-bolas)

A birra do melhor

Mourinho não leva boas recordações do regresso a Barcelona. Entrou pela porta grande, é verdade, mas saiu pela pequena. O Chelsea somou a segunda derrota consecutiva e só não levou para Inglaterra um resultado mais pesado porque Maxi Lopez só entrou aos 63 minutos.

O treinador português não gosta (mesmo nada) de perder e por isso no final fez birra. Não foi à sala de imprensa. O Chelsea diz que o silêncio do técnico e dos jogadores tem como base um alegado incidente no túnel, durante o intervalo, entre um adjunto do Barcelona e o árbitro do jogo.

O clube inglês diz que vai apresentar queixa à UEFA, mas não se pense que é para evitar a multa pela falta de comparência de Mourinho e dos seus pupilos na sala de imprensa. Já todos sabemos que Abramovich não tem falta de dinheiro.

Com queixa ou sem queixa a verdade é que todos ficaram sem saber como é que o melhor treinador do Mundo ia justificar a derrota na Catalunha. E, diga-se, os jornalistas e os adeptos do Chelsea não têm culpa do que possa ter acontecido no túnel.

Os melhores também fazem birra. Disso já todos sabíamos, mas sair de Barcelona cabisbaixo depois de ter entrado de peito aberto e com a frontalidade que o caracteriza é algo que não fica bem a Mourinho. Quando a birra passar poderemos saber o que vai na alma do treinador do momento…
(by Processo Sumaríssimo)

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Arrogância ou certeza de que se é o melhor?

Há quem diga que é arrogante, outros veneram-no, outros preferem fazer que o ignoram. A verdade: acho que a maior parte o inveja. Porquê? Simples, por que é mesmo o melhor. Sim, falo de José Mourinho. Sou completamente fã. Desculpem lá se não me choca que alguém diga que é um vencedor e um dos melhores se realmente o é! Pior é ver «aprendizes de feiticeiro», que nunca serão treinadores na vida a tentarem imitar o que é único.

Mourinho queria vencer todas as competições em que estava envolvido. É ambicioso, não se acomoda, mas isso incomoda... Perdeu essa oportunidade ao ser eliminado da Taça de Inglaterra, mas ainda tem muitas competições para ganhar e acredito que tem todas as condições para fazê-lo. Porquê? Por que é viciado em sucesso e vitórias e contagia quem o rodeia.

Todos ficam «chocados» com o tratamento que Mourinho dá aos jornalistas ingleses e com o que disse ao jornalista espanhol. Eu não. Trabalhei com este treinador em dois clubes, Benfica e U. Leiria, e em momento algum foi mal educado. Irónico, sim. Mas com piada. Toda a arrogância e ironia escondem uma outra pessoa.

Para quem gosta de astrologia, José Mourinho é um típico aquariano. Aqui ficam alguns traços que podemos rever no treinador português:

«Os nativos deste signo não são fáceis nem tão pouco monótonos. Embora possam parecer frios, distantes e sejam os mais individualistas de todos os signos do Zodíaco, os nativos de Aquário são também os mais humanitários de todos eles e muitos são os seus actos de bondade.

Líderes natos e dotados de uma inteligência quase sempre brilhante, são por vezes demasiado excêntricos, evidenciando determinadas atitudes rebeldes que podem ir mesmo contra determinadas regras e leis. Adoram as Leis, mas apenas para as poderem mudar e, uma vez estabelecidas, será preciso revê-las para que não se tornem obsoletas.

Muito comunicativos e sociáveis, a sua mente aberta e sem preconceitos faz com sejam, sem qualquer dúvida, a personalidade mais independente e liberal do Zodíaco.

Não se deixam levar por críticas nem convenções, não se deixam intimidar por quaisquer tipo de obstáculos e nada interfere nas suas convicções, conseguindo sempre o que querem. Dotados de uma rapidez de raciocínio incrível, têm uma intuição óptima e uma visão maravilhosa e utópica do futuro, por mais absurdo que este lhes possa parecer. Muitas vezes, são dados a premonições o que muitas vezes os leva a assumir o papel de "dono da verdade", acabando por dar origem a uma série de atritos. As suas acções e reacções são, na sua maioria, imprevisíveis, ditadas pela intuição do momento e com a rapidez de um relâmpago. Mas, às vezes, os Aquarianos podem exagerar... Para eles as coisas são brancas ou pretas, não há cá quaisquer tonalidades de cinzentos, e quando emitem uma opinião o seu radicalismo pode assustar os outros interlocutores.»
(retirado da secção de Astrologia do «Clix»)

Acho que esta quarta-feira vamos assistir a um grande jogo: Barcelona-Chelsea. Que ganhe o melhor, mas digo, com toda a sinceridade, que o melhor seja a equipa de Mourinho e companhia. Não estou a escrever uma notícia, nem sequer estou a trabalhar e não crio ilusões em ninguém. É óbvio que também tenho as minhas equipas favoritas e esta é uma delas. É treinada por Mourinho e tem jogadores que muito admiro como atletas e pessoas. Boa sorte!

(by Bola ao poste)

Original

Já disse que aprecio o estilo rebelde de José Couceiro na sala de Imprensa. Há ali muito sangue de José Mourinho a correr nas veias. Nas palavras que utiliza, nas afirmações, nas ideias que defende e na forma de colocar a pressão do outro lado da mesa. Como diria Jaime Pacheco, nos bons velhos tempos, Couceiro «é uma fotocópia de um original já gasto». Não chegaria tão longe. Até porque o original é sempre o original. «Original», entenda-se...

(by Livre de Marcação)

terça-feira, fevereiro 22, 2005

Assim se vê a força dos rublos

O Dínamo de Moscovo vai acentuando o seu domínio no futebol português. Não, não é uma teoria da conspiração, apenas uma constatação. Senão vejamos: primeiro foram os milhões de euros gastos em contratações de jogadores que actuavam na liga portuguesa.

Agora, porque os russos já mostraram que os jogos são onde e quando querem. Estava tudo acertado para que a equipa mais portuguesa da Rússia viajasse para o Bessa nesta terça-feira para jogar com o Boavista. Assim obrigava o acordo feito aquando da transferência de Frechaut. Os boavisteiros há muito que preparavam tudo para o jogo, tendo assegurado todas as condições logísticas e de segurança para que este se realizasse. E pagando para isso, claro.

Eis senão quando…A cerca de 24 horas do encontro, um treinador com um bigode quase estalinista e uma teimosia capaz de mover montanhas, decide que não quer fazer a viagem para o Norte. O presidente insiste, lembrando os compromissos assumidos. Oleg Romantsev mostra-se irredutível. E, à boa maneira portuguesa, tudo acaba por se resolver abrindo os cordões à bolsa.

Se o Dínamo não vai ao Boavista, vai o Boavista ao Dínamo. Ou melhor, a Alcochete. Pagam-se as despesas que já estavam feitas e aí vão os axadrezados, estrada fora, para fazer a vontade ao senhor Romantsev e para que os jogadores do Dínamo, que ainda não estão em competição, não se cansem. Afinal, manda quem tem dinheiro. E quem não o tem sujeita-se à lei dos rublos.

(by Situação perfeitamente normal)

João Manuel

Infelizmente, a bola nem sempre é redonda...

(by Livre de Marcação)

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

O melhor? Voto no Nuno Carrapato!

Melhor guarda-redes não é, mas aposto que uma camisola da Selecção com o nome dele nas costas ficaria bem a qualquer um. Mas abdicava do Nuno, ficava só "Carrapato".
(by El Pibe da Trafaria)

Zé, o joga-no-pé

Durante a maratona da noite eleitoral, ouvi de longe que o futuro primeiro-ministro José Sócrates terá admitido, ou alguém por ele, o seu benfiquismo. Pensei de imediato: para que raio foi o futebol para aqui chamado?

O discurso de vitória do socialista foi dos mais insossos que ouvi, mesmo se lhe juntarmos tudo o que habitualmente se diz antes, durante - um insulto ou um palavrão pode ser por vezes um grande exercício de retórica - e depois do pontapé na bola. Sócrates, o político (não confundir por favor com o antigo internacional brasileiro e, já agora, com o pai de todos eles, o filósofo), fez-me lembrar aqueles jogadorzecos, que, depois de um grande passe de um companheiro ao qual não conseguiram chegar, ficam a apontar para o quinto metatarso do pé que está mais à mão a indicar o lugar para onde devia ter ido a bola.

Convenci-me. Sócrates é um joga-no-pé. Se fosse futebolista, não conseguiria usar a inteligência para prever o passe do companheiro, não gostaria sequer de ser posto em causa por um adversário, correria sempre em linha recta e nunca em diagonais. Iria acreditar até ao fim que tudo lhe cairia do céu: o meio-campo contrário passar-lhe-ia a bola, os defesas tropeçariam no guarda-redes e a baliza ficaria deserta. Depois aplaudiria... "Não te disse para jogares no pé?". (Passou-me agora uma terrível imagem pela cabeça: o Santana todo vestido de preto, inclusive a bandolete, como guarda-redes, e o Morais Sarmento e o Gomes da Silva, de meias apenas até aos tornozelos e chuteiras dois números acima a serem separados pelo ex-primeiro-ministro).

Sócrates não ganhou por ser Sócrates, ganhou por não ser Santana ou Portas. Não ganhou pelo que fez ou disse, mas pelo que os outros não fizeram ou disseram. É como um jogo entre o Brasil e as Ilhas Fiji: basta passar-lhes a bola que eles quase marcam na própria baliza. Se o futebol português parece ter evoluído nos últimos anos, com os títulos do F.C. Porto e o vice-campeonato da Selecção no Euro, ainda continuam a faltar trinta metros à política portuguesa.
(by El Pibe da Trafaria)

domingo, fevereiro 20, 2005

Um clube de espírito jovem

Talvez para combater os maus resultados dos últimos tempos, o Gil Vicente oferece agora promoções aos seus adeptos. Por dois euros, por exemplo, podem adquirir o pack Pepsi, que inclui uma Pepsi e um saco de pipocas. Por mais cinquenta cêntimos adquirem o pack Grolsh, que inclui uma Grolsh e um pacote de tremoços.

Acho bonito ver como um clube de noventa anos consegue ser dinâmico.

(by O Homem a quem lhe aconteceu não sei o quê)

sábado, fevereiro 19, 2005

Quaresma e o futebol de doze

Quem aprecia futebol não pode deixar de olhar com agrado para Ricardo Quaresma, sobretudo pela inesgotável capacidade de nos surpreender. Entra em todas as jogadas pela via do talento e isso obviamente agrada.

Mas Quaresma é também um enorme problema para os treinadores. Os dias passam e ele não dá qualquer sinal de compreender o jogo em que é estrela. Quer dizer, Quaresma tem do futebol uma ideia muito particular, quase só dele.

Se o colocam na direita, esquece-se de fechar. Se joga na esquerda é fatal que vai procurar o meio e agarrar-se de mais à bola.

No Restelo, Couceiro procurou uma terceira via. Quaresma jogou no meio, junto a Postiga. Quando a equipa não tem a bola, a opção é boa, pois a estrutura defensiva não se desequilibra por alguém ter deixado para mais tarde o trabalho que é inadiável. Em termos ofensivos não deu para ver, tão mal a equipa jogou, embora seja justo referir que Quaresma esteve entre os menos maus.

Mas a verdade é que só parece existir uma verdadeira solução para este problema: quem tem Quaresma deve poder jogar com doze. Os treinadores ficam mais tranquilos e nós assistimos deliciados à inspiração em movimento acelerado que Quaresma nos oferece todas as semanas.

(by Falso lento)

Alvo trocado

Gosto de Costinha (e com estas três palavras já ganhei insultos de 354 leitores não-portistas). Gosto da sua personalidade, da coragem física e da inteligência com que, no campo e fora dele, assume sempre a defesa dos interesses do grupo. Mesmo quando o faz à custa de atitudes intimidatórias, estas são sempre pensadas, sempre com um objectivo lúcido - o que faz toda a diferença em relação à brutalidade descontrolada de um Paulinho Santos, por exemplo.

Há três semanas, na derrota com o Sp. Braga, em casa, Costinha foi o símbolo perfeito da mais desnorteada exibição do F.C. Porto dos últimos anos: perdido em campo, sem referências colectivas para encontrar a sua utilidade e com o desejo evidente de sair dali o mais rapidamente possível. Ontem, o gesto com que festejou o golo do F.C. Porto no Restelo (apontar para o escudo de campeão, como já fizera em Guimarães) é a sua cara: uma irritação controlada, um apelo ao respeito pelo colectivo e pela memória recente.

Festejar um golo decisivo com a mão a apontar para dentro ("estes somos nós") em vez do braço esticado para fora ("olhem, este sou eu") é o traço de alguém que há muito percebeu no futebol um jogo que só faz sentido quando os egos e os interesses particulares se diluem na equipa. O problema é que há poucos a acompanhá-lo nessa certeza. Por isso me parece que o seu gesto falhou o alvo: em vez de correr para a lateral, dirigindo-se aos adeptos e às câmaras, talvez fosse mais eficaz mostrar o escudo de campeão a Ibson, Leo Lima, Hélder Postiga, Cláudio Pitbull, Pepe, Diego e Luís Fabiano e, depois, prosseguir durante a semana, nos gabinetes da SAD.

(by Espoliado de Incheon)

Semana decisiva

A vitória no Restelo não foi nada brilhante, mas a verdade é que Couceiro conseguiu que a sua equipa alcançasse o resultado desejado, que lhe permite segurar o primeiro lugar. Ou seja, à entrada para uma semana absolutamente decisiva, o F.C. Porto já sabe que irá receber o Benfica pelo menos em igualdade pontual. Esse seria, aliás, o melhor cenário possível para esta Superliga que não pára de nos surpreender.

Os dias que se seguem vão ser de diferença para os lados das Antas. Primeiro, a pausa no «black-out» para se falar sobre o Inter de Milão, depois o próprio jogo com os italianos, finalmente o tal embate com o Benfica. O Dragão vai voltar a encher, o entusiasmo vai reaparecer, mas só na segunda-feira à noite se poderá perceber se o golo de Costinha no Restelo foi um sinal de ressurgimento ou um mero estertor do campeão moribundo.

(by Arquero)

sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Coisas que eu gosto de ouvir no futebol português

«Boa noite, estamos agora em directo do estádio Eng. Rui Alves, na Choupana, que esta noite regista casa cheia, cerca de três mil espectadores para mais este jogo da Superliga».

É isto e música clássica ao intervalo.

(by O Homem a quem lhe aconteceu não sei o quê)

Melhor guarda-redes português?

Deve ser o Bruno Vale.

(by Falso lento)

Vá lá, perguntem-me quem é o melhor guarda-redes português da actualidade...

Eh, pá! Com essa agora é que vocês me lixaram. É que não faço a mínima ideia.

(by Espoliado de Incheon)

Boavista-Marítimo

Um post que vem com uma semana de atraso, mas mais vale tarde do que nunca: Boavista-Marítimo. A referência nada tem a ver com o jogo jogado (onde já ouvi a expressão?) nem com a dinâmica do resultado (3-2), mas com o que se passou nas bancadas. No domingo, cerca de oito mil pessoas preencheram as cadeiras de um estádio que costuma ter assistências confrangedoras para quem se assume como o quarto grande. Não foi o Marítimo que arrastou a multidão; muito menos o Boavista. O jogo disputou-se à tarde. Às 16 horas. Num horário que vai ao encontro das necessidades dos adeptos. Está provado que é a televisão – e não a qualidade do futebol praticado na nossa Superliga - que desmobiliza as pessoas dos estádios por causa da hora tardia das transmissões.

(by Livre de Marcação)

Benfica: está tudo nas mãos do tratador da relva

Só vi os últimos quinze minutos do CSKA-Benfica, mas tudo indica que não perdi nada: nem um grande jogo, nem uma prestação digna do passado europeu do Benfica.

Não vi o jogo, mas li as declarações de Trapattoni no final. Se bem percebi, a culpa foi do relvado e na Luz, numa relva que fala português, tudo será bem diferente.

Não podia estar mais de acordo com o treinador do Benfica, de resto. O presidente nada disse; o gestor abanou a cabeça, não era dia de falar sobre Pinto da Costa; os jogadores, já se sabe, estão impedidos de conversar com os jornalistas, provavelmente para evitar que se constipem. Sobra Trapattoni, mas a culpa não pode ser de um treinador prestigiado e com um currículo que não permite a mais leve suspeita. Logo, se o Benfica perdeu por 2-0 com uma equipa russa que acabou de chegar de férias, a responsabilidade só pode ser da relva. Em Lisboa eles vão ver.

P.S.: O Benfica nunca deu a volta a uma eliminatória europeia depois de ter perdido 2-0 na primeira mão. Mas há sempre uma primeira vez. Só depende do tratador da relva.

(by Falso lento)

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Tenham misericórdia deles

Confesso, venceram-me. Provavelmente por cansaço, mas venceram-me. Não suportei mais e dei-me por derrotado. Depois de tantos meses a ouvir dizer que é o parente pobre da Superliga, que é vítima de uma perseguição, que ninguém lhe dá o valor que tem, que é marginalizado, que é um pobre coitado enfim, também eu fiquei com pena do Boavista. Serei apenas mais um, é verdade, mas todos juntos já somos bastantes. Parabéns a Jaime Pacheco. Parabéns a João Loureiro.

(by O Homem a quem lhe aconteceu não sei o quê)

Uma falta absurda

Nunca percebi para que serve uma falta dura sobre um adversário que está de costas, junto à linha lateral. No entanto é um movimento recorrente no futebol português. Na quarta-feira foi assim, vítima do vício, que Custódio viu o primeiro amarelo que logo ali o afastou do jogo da segunda mão, em Roterdão. E o médio do Sporting é um dos mais inteligentes e contidos jogadores da Superliga. No entanto, nem ele conseguiu fugir ao hábito de bater mais do que o necessário e por causa desse amarelo saiu mais cedo quando obrigado a fazer uma falta útil, na segunda parte.

P.S.: Mourinho, mas sem entrar na discussão da «pressão alta», até por não ter a certeza de que o ponto forte do treinador do Chelsea seja o treino. Quer dizer, ele é de certeza bom, muito bom, a escolher os cones, distribuir coletes e planificar exercícios. Mas parece-me sempre que onde está muito à frente de todos os outros é na atenção ao que o rodeia (media, mercado, jogadores...) e na relação que estabelece com o grupo. Querem um exemplo de algo que Mourinho nunca faria? Na quarta-feira o Sporting tinha dois centrais em risco de suspensão caso vissem um amarelo em Alvalade. Pois bem, Beto e Enakarhire eram precisamente os escolhidos por Peseiro, ficando Polga no Banco! Uma situação sem sentido que a lesão de Beto, uns segundos antes do jogo, emendou.

(by Falso lento)

Sem intenção

A meio da segunda parte do Sporting-Feyenoord levantei-me para ir buscar uma cerveja. Ao passar pela TV toquei ao de leve com o cotovelo no ecrã. O Liedson caiu e agarrou-se à cabeça.

(by Espoliado de Incheon)

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

O que é e o que parece

No domingo, com o Rio Ave, o inspiradíssimo Sá Pinto teve um acesso de egoísmo e pôs os interesses particulares (o suplemento de moral trazido por um golo) acima dos interesses da equipa (definidos pela indicação prévia do treinador sobre quem faz o quê em campo). Não foi bonito.

Liedson, directamente afectado por esta atitude, e vendo-se privado de mais um golo na corrida ao título de melhor marcador, levou a mal. Fez birra, não comemorou os golos com os companheiros e pôs, de forma também evidente, os seus interesses acima dos interesses da equipa. Não foi bonito.

José Peseiro, que deve ter sentido a sua autoridade posta em causa, admitiu nas entrelinhas que Sá Pinto foi além do que devia ter ido. Mas reduziu a importância do sucedido ao mínimo, remetendo-o para o balneário. Fez bem: há alturas (como o atribulado regresso de Liedson antes do Sporting-Benfica) em que vincar as questões de princípio para o exterior não é o mais sensato nem o mais importante. Desde que - e esta é a condição decisiva - o grupo continue a perceber que há ali quem comanda, mesmo que não tenha o hábito de falar muito alto.

Não sei se foi isto que aconteceu em Alcochete por estes dias. Sei que aos 36 minutos do jogo com o Feyenoord Sá Pinto inventou uma linha de fundo na direita e fez um cruzamento perfeito para a cabeça implacável de Liedson. O brasileiro começou a comemorar o golo e depois lembrou-se de domingo, mudou de direcção, correndo para Sá Pinto de dedo apontado: «foste tu». Sá Pinto, por sua vez, afastava os companheiros, também de dedo apontado para Liedson: «não, foste tu».

Mais do que uma fábula moral, esta história é a ilustração perfeita de que o bom senso, no futebol, começa pela distinção entre o que é fundamental e o que apenas o parece.

(by Espoliado de Incheon)

A conspiração

Pausa para introduzir uma alucinação não futebolística. Depois do intenso debate de ontem, em que todos nos deparámos com um Santana de regresso aos comentários de «Donos da Bola», mas introduzindo assuntos políticos e bem sérios (não se deve brincar com coisas sérias), aproveito a ideia deixada por Philip Roth em «The plot against America» para imaginar como seria Portugal se tudo fosse inverso. Ou seja, se o poder fosse tomado por alguém que nunca lá poderá chegar, ao contrário desta rotatividade entre PS e PSD (os nossas democratas e republicanos, trabalhistas ou conservadores).

Na tal América de Roth fala-se do fascismo promovido por Lindbergh, um ícone nacional condecorado por Hitler no anos 30. Se a história tivesse sido diferente, se os republicanos tivessem indicado este ex-aviador como candidato à presidência, provavelmente a América não se teria juntado aos aliados e o império nazi demoraria a extinguir-se.

O caso de Portugal, obviamente, não é tão grave. Não se fala de guerras, tiros, catástrofes e mortes, antes de boatos e uma ou outra proposta concreta. Numa altura em que a credibilidade dos políticos está rente ao chão, imaginemos se Portas conseguia alcançar a maioria absoluta. O que seria deste país? Tentem só construir esse quadro, com Bagão Félix, Celeste Cardona, Nobre Guedes, Lobo Xavier e outros assim. Qual código de trabalho ou aumento das reformas. No mínimo, voltava-se a ir fardado para as escolas, cantava-se o hino pela manhã e fazia-se o culto do líder... O mote está dado, expressem-no no dia 20.

P.S.: A pressão alta. Se bem que seja uma expressão introduzida por «mestre» Mourinho, convenhamos que não foi ele que a inventou. Ele estudou-a, como tantos outros, mas soube aplicá-la como ninguém. Mas, na minha perspectiva, a fórmula do sucesso advém da periodização táctica, essa sim uma diferença para todos os outros. Tudo o que é feito no treino está estudado ao pormenor, desde a colocação das barreiras aos 90 minutos cumpridos religiosamente. Ao contrário do treino integrado, aplicado, por exemplo, por Fernández, Mourinho sente que o caminho do sucesso está em formas diversas de abordar o trabalho diário. Os resultados estão aí.

(by Arquero)

Que raio de expressão, a pressão alta...

Uma expressão com a qual embirro, "pressão alta", ficou na moda por causa de Mourinho, quando a introduziu no vocabulário de pessoas interessadas em acompanhar as novas tendências. A partir desse momento, todas tentativas de pressing, apesar de variantes da utilizada pelo campeão europeu e nacional, foram invulgarmente chamadas assim.

Esta estratégia inteligente, utilizada pelo melhor treinador do mundo - a pressão como arma de recuperação de bola, quando o adversário arma jogo ainda no seu meio-campo, e que funcionava com duas vertentes: o abafar do estilo do opositor, ao retirar-lhe tempo para pensar, e o recuperar da bola para o contra-ataque quase sempre perigoso com menos metros para correr com ela - valeu muitos títulos ao F.C. Porto.

Tentar explicar os primeiros maus resultados da época - faço já a habitual vénia a acompanhar o pedido de desculpas por este post vir tarde de mais - pela ausência da "pressão alta" nos jogos orientados por Fernández e Del Neri terá sido uma conclusão demasiado superficial dos analistas. Juntando 2+2, acredito que se a pressão alta tivesse sido implementada em todos os jogos por outro treinador que não Mourinho o risco de fracasso aumentaria ainda mais.

Porquê? Porque o italiano, o espanhol e agora o português Couceiro não trabalham esta estratégia como o fazia o agora homem-forte dos blues. Nenhum deles tem Rui Faria, que aplicava em todos os exercícios físicos uma bola para atrapalhar, ou preparava as diagonais para aumentar a capacidade pulmonar durante os treinos num decalque do que lhes seria exigido nos jogos. Não é a toa que portistas e agora londrinos sabiam e sabem exactamente o que fazer. Eles transpiram e transpiravam o jogo por todos os poros.

Embirro com a expressão porque nunca vi outra equipa defender como o F.C. Porto/Chelsea de Mourinho, apesar de Sportings, Rios Aves e outras equipas terem aplicado em certos momentos modelos plagiados. Embirro porque se a pressão não for alta (não valem correrias loucas dos avançados a esfarraparem-se por uma bola à qual sabem que nunca vão chegar), uma pressão baixa significa a habitual marcação à zona ou individual para cá do meio-campo. Ou no limite, um carrinho de um defesa em desespero.

P.S. Se o futebol fosse um jogo de lego, bastava importar blocos de jogadores para a coisa funcionar. Não é, e até com algumas peças iguais, a imagem pode ficar retalhada, longe de um aspecto final. Só Mourinho é capaz de resolver os mesmos puzzles com peças de outras caixas.
(by El Pibe da Trafaria)

terça-feira, fevereiro 15, 2005

A vida é um líbero alemão

Beckenbauer, Schuster, Matthäus, Thon, Hässler. Sim, são todos alemães, mas têm outra coisa em comum: quando envelheceram e perderam pedalada passaram a jogar atrás, comandando toda a equipa a partir da posição de líbero. O maior de todos foi o velho Franz, um amigo cá da casa. Revelou-se ao Mundo no Inglaterra'66, como médio de ataque, mas só quando tranformou o acto de jogar à defesa numa coisa nobre, digna e criativa se tornou verdadeiramente imortal. A partir daí fez-se escola (não foram os alemães a inventar isto, claro, mas pragmáticos como sempre tiraram a patente à ideia) e todos os outros nomes que citei de entrada copiaram o mestre, obviamente com menos classe e sucesso.

Serve esta pequena aula de arqueologia futebolística para lançar uma dúvida: será que a vida imita o futebol alemão? Será que a partir de certa altura, quando as pernas e outras coisas nos começam a falhar, a atitude mais sensata é jogar à defesa? A saída mais digna é mesmo, com o benefício do recuo, comandar os outros com a voz autoritária de quem já não faz mas ainda se lembra como se fazia?

Quem souber que responda. Eu, que cada vez corro menos, atrás de uma bola ou de outra coisa qualquer, adoro ver jogar os bons líberos. Mas não consigo deixar de me angustiar com o momento seguinte. Aquele em que, tendo recuado tudo o que lhe era possível, o líbero acaba fora de campo, atrás da linha de fundo e dos placares publicitários, a resmungar baixinho ordens para dentro, e a reclamar a autoria moral daquele golo, daquele passe, daquele livro, daquele filme, daquela canção, daquela miúda que acabou de dobrar a esquina e nem sequer deu por nós...

(by Espoliado de Incheon)

Coisas que não acontecem só às Claras

Maradona está na Colômbia para uma operação. O objectivo é, segundo a agência argentina Télam, reduzir o tamanho do estômago e a «massa adiposa ventral». Passando por cima de graçolas fáceis relacionando a Colômbia com o estado a que chegou o mais genial pé esquerdo da história (incluindo o do Daniel Day-Lewis), apetece pedir para fazerem mais um jeitinho. Apertem-lhe o estômago, sim, mas estrangulem-lhe também o ego, triturem-lhe a auto-comiseração e, com as sobras, façam-lhe um anexo ao cérebro. E, para que não restem dúvidas, garanto que este é o voto de um maradonista-fundamentalista. De cartão passado.

P.S.: Já depois de ter postado isto achei que tinha qualquer coisa familiar. Fui ver, e era um plágio descarado, e com menos piada, de uma coisa que o Hugo Vasconcelos tinha escrito no Bola na Área há quase um ano. Nessa altura o pretexto era o coração, e não o estômago. Azar. Hugo, se quiseres processa-me. Mas fica lá com este abraço.

(by Espoliado de Incheon)

O efeito Mourinho

Será que ainda é cedo para falar de um futebol português antes e depois de José Mourinho? Os tempos que correm estão a dar essa resposta. Uma coisa é já pelo menos inquestionável: a sua referência é incontornável.

O campeonato deste ano tem dado muito que pensar sobre o que se passa no futebol português: se são os grandes que estão mais fracos; se são os pequenos que estão mais fortes...

Se calhar, é um pouco de tudo. O que é um facto é que na primeira época pós-saída de Mourinho de Portugal, o equilíbrio no campeonato é uma coisa nunca vista à 21.ª jornada: no meio de todas estas alternâncias de liderança, por exemplo, há três jornadas havia um líder, há duas havia dois e agora há quatro. Se calhar, é (muito) significativo...

Antes de Mourinho como que se cultivava um marasmo que fosse o fio condutor do presente, um reinar dos conceitos vigentes desconfiados da inovação, a falta de ousadia, o receio de ambição, com as costas voltadas à petulância e ao risco.

Após Mourinho aposta-se nas qualidades aí à espera de serem exploradas; assume-se com a ambição do êxito o investimento feito por uma carreira; arrisca-se. Sobretudo, acredita-se. E, a partir daí, faz-se por isso.

E é este o verdadeiro «efeito Mourinho» em Portugal; pelo menos, a primeira (e a até agora visível) das suas manifestações: o acreditar. É a confiança que daí advém em lutar por obter algo mais do que o que é esperado e aceite como satisfatório pelos padrões – ou não tivesse o modelo mostrado como é mesmo possível.

Quanto ao resto... O resto é como em tudo. Há uns que têm mais jeito do que outros!

(by Em Busca do Prejuízo Perdido)

Alguém pode avisar Luiz Felipe Scolari...

...que o facto de ser brasileiro não o isenta de críticas? Há muitos e muitos anos que adoro música brasileira, futebol brasileiro, a Sónia Braga, literatura brasileira, comida brasileira, a Sónia Braga, caipirinhas, o equipamento do escrete e a Sónia Braga, entre muitas outras coisas que não vale a pena enumerar. Acho que muito do que o futebol português tem de bom foi determinado por influência do Brasil, que o Otto Glória foi um grande revolucionário, que Ricardo Gomes foi um dos jogadores com mais classe a pisar relvados nacionais e que o primeiro episódio da Gabriela, com a Sónia Braga a fugir da seca, mudou para sempre a minha relação com o mundo e as mulheres.

Dito isto, preferia ter um seleccionador nacional que aceitasse, nem que fosse de vez em quando, discutir as críticas pelo que elas representam. Alguém capaz de ouvir, responder e convencer com argumentos. Alguém que não se sentisse obrigado a entrar a pés juntos e a bater no peito, lembrando que quem manda é ele quando se sugere que nem tudo o que faz é perfeito. E, claro, alguém que não atribuísse todas as discordâncias a eventuais desconfianças sobre o seu passaporte. Desculpe lá mister, são feitios. Posso?

(by Espoliado de Incheon)

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

O desafio de Peseiro

Custódio, Hugo Viana, Carlos Martins e Rochemback formam o melhor meio-campo da Superliga, sem extremos, como se deles não precisassem.

Mas o desafio de Peseiro é o mesmo de Fernando Santos e de Boloni: conseguir que o leão seja maduro longe de Alvalade, de galões puxados do meio-campo para trás, sem vontade para aturar a irreverência de quem tem as mesmas ambições quanto ao jogo, mas não em relação a troféus. Se conseguir o que os outros falharam, o título será mais do que um sonho.
(by El Pibe da Trafaria)

Quem disse que eram precisos golos?

Grande jogo em Braga, péssimo em Guimarães, o mesmo resultado. Quem disse que eram precisos golos para que um jogo fosse bom? Se alguém o disse, lamento contrariá-lo, mas o que se viu no Sp. Braga-Benfica foi um dos melhores encontros da temporada e seria injusto qualquer outro resultado que não fosse o empate ou, se fosse possível, a vitória das duas equipas. Duas equipas com personalidade, excelência de processos na tentativa de desmontar estratégias adversas, apenas um ou dois jogadores abaixo do que se esperava.

Depois, assisti ao F.C. Porto-V. Guimarães à espera de que o antídoto Couceiro já tivesse eliminado a virulência que entrou pelo Dragão. Vi um candidato ainda candidato por força das circunstâncias frente a um aspirante europeu sem aspirações maiores que o seu campeonato dos menos grandes. Empataram sem ideias. Justamente. Mas deviam perder os dois.
(by El Pibe da Trafaria)

domingo, fevereiro 13, 2005

Só há um «blackout» preocupante

É o que sucede no relvado. No caso do F.C. Porto é especialmente notado por suceder depois de dois anos de glória.

(by Falso lento)

Blackout do F.C. Porto

Saia uma travessa de imaginação para aquela mesa...

(by Livre de Marcação)

sábado, fevereiro 12, 2005

Ricardo Nascimento

Vai fazer falta à Superliga por mil e um motivos que não vêm à razão deste post. Diz-se que Ricardo Nascimento tinha lugar nos grandes ou que os grandes andaram a dormir ao longo do tempo. Sinceramente, nem uma coisa nem outra. Ricardo Nascimento é que adormeceu à sombra do seu próprio talento, um filme já visto e revisto no futebol português.

(by Livre de Marcação)

sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Não tem importância nenhuma...

...e aposto que ninguém perdeu alguma vez dez minutos de sono (e não vou ser o primeiro, garanto) a tentar perceber a coisa. Mas gostava de saber. Gostava de saber qual o problema de Yuri. Sim, porque deve ter algum. E delicado. Sempre que o vejo gosto. Quer dizer, percebe-se que o avançado do Estoril desejaria uma bola só para ele e por não ser pragmático jamais entraria para um governo do professor Cavaco, mas, mesmo assim, gosto muito de o ver trabalhar, como diria um amigo (mas ele a pensar no ministro Portas). Numa equipa como a de Litos, por que não joga Yuri mais tempo? Foi titular três vezes, conseguiu três golos. João Paulo, também ele com cara de quem dá um excelente genro, está cansado de jogar (acreditem, fui ver, são mais de 1300 minutos) e tem os mesmos três golos. Sim, de facto este tema não interessa nada, tudo se passa no Estoril. Mas gostava de saber, pronto.

(by Falso lento)

quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Para quem gosta do Cech...

... e de números. O checo que Mourinho foi buscar a casa de Boloni (agora que ele foi para longe recuso-me a continuar a ter trabalho com os ¨ ao quadrado!) está há um ror de minutos sem sofrer golos. O «Guardian» fez as contas. E ainda nos dá outras curiosidades. Uma delícia.
(Quando fundámos o Maisfutebol, há quase cinco anos, éramos irresponsáveis ao ponto de querermos ser tão bons como o www.footballunlimited.co.uk. Não somos. Mas continua a ser bom olhar para eles.)

(by Falso lento)

Curto e grosso

Miguel Ribeiro Teles demitiu-se de vice-presidente do Sporting, depois do manifesto conjunto com o Benfica e em discordância com o presidente Dias da Cunha. O futebol português deixa cair um dos dirigentes mais serenos, low profile e inteligentes que apareceu cá pelo burgo nos últimos anos.
(by El Pibe da Trafaria)

Manel, o puro-sangue

O Benfica criou finalmente um grande jogador pós-Rui Costa, apesar da inexperiência ainda o rotular por vezes de protótipo ou de, expressão que abomino, diamante por lapidar. O Manel tem de facto muito a aprender, um pouco mais do que têm aqueles que já planeiam o final da carreira, mas igualmente muito a dar ao futebol português. Mourinho já o chamou de novo Makelele, comparando-o com o médio do Chelsea e revelando a habitual perspicácia para dizer sempre coisas em que nunca pensámos mas que se tornam verdadeiras depois de serem ditas.

Uma das coisas que mais gosto no miúdo é aquele jeito, ganho nos jogos de rua, de pisar a bola para a manter e entreter, virando as costas a quem o pressiona. Um hábito que se ganha na terra ou no alcatrão com os amigos e que normalmente se esquece quando se entra no futebol dos pontos ganhos e perdidos. Aquele movimento é uma imagem de marca e para um trinco ter uma, desde que não seja o recorde de adversários derrubados, é muito bom sinal.

Manuel Fernandes é um puro-sangue. Tem força, habilidade e inteligência, e será certamente um dos grandes jogadores da sua geração, desde que a sorte o acompanhe. A estreia na Selecção foi justa e torna-se um acréscimo de responsabilidade. O resto desta temporada e a próxima serão importantes na sua consolidação e evolução como futebolista. Não me surpreende se no final desse período o Chelsea ou outro gigante o vier buscar para encantar os adeptos do seu país...

(by El Pibe da Trafaria)

Futebol é (hoje em dia)...

Aquele plano inicial das transmissões televisivas. Bola quieta com bota em cima, outra bota, um par logo ao lado. Depois um apito que só ouvimos, a bola move-se e um plano aberto mostra-nos o estádio. Até esse momento todos os jogos são perfeitos.

(by Falso lento)

Um pontapé de bicicleta

É um dos momentos mais belos e raros, e também dos mais injustiçados do futebol. Todos nós rebobinamos e voltamos a passar na memória - depois de termos assistido em directo ou descoberto em resumos alguns (às vezes muitos) anos depois - a melhor defesa de sempre, interpretada pelo inglês Gordon Banks no Mundial de 1970 após cabeçada de Pelé, o golo de ângulo (quase) recto de Van Basten a Desaev na final do Euro 88, o slalom de Maradona no México 1986, o penalty picado do checo Panenka na final do Campeonato da Europa de 1976, o livre impossível de Roberto Carlos à França, o chapéu de Rui Costa na Luz frente à Irlanda... mas somos incapazes de recuperar em câmara lenta alguns dos mais belos golos de pontapé de bicicleta. Que injustiça para o mexicano ex-Real Madrid Hugo Sánchez, que fim-de-semana sim fim-de-semana não coleccionava um para o currículo! Lembro-me apenas que eram bonitos, de dar vontade de encher todos os dias os estádios onde ele jogava, mas pouco mais.

Para recuperar mentalmente um golo de bicicleta, sou obrigado a recorrer à ficção. A filmes como "Fuga para a Vitória" (Victory, de 1981), no qual Pelé decide desta forma o jogo com os nazis com menos uma costela e de braço ao peito, mas com força q.b. para mandar o jogo violento dos boches pelo cano. Ou "Hotshot", de 1987, com Pelé a ensinar um jovem norte-americano a fazer o tal overhead kick. O primeiro provou-me que os maus jogadores nesse tempo iam sempre para a baliza (Stallone), o segundo faz-me apostar que se os americanos percebessem muito mais de bola, os pontapés de bicicleta seriam quase tão obrigatórios no futebol como um "slamdunk" ou um "home run" em cada jogo de basquete ou de basebol.

A beleza do jogo parece ter desaparecido com o pontapé de bicleta. O futebol é mais rígido, tem menos arte. Que bom seria se clonassem o Leónidas para "fins medicinais" ou então se inventassem uma máquina do tempo para que pudesse voltar à altura em que depois de ter visto um golo do Hugo Sánchez tentava repetir o movimento na areia da Praia das Maçãs.

P.S.: Belos tempos. Lembro-me que estava a ficar perito a acertar no ângulo superior direito da omoplata esquerda do pai da minha namorada, para quem exibia todo o meu talento, quando a relação se deteriorou.
(by El Pibe da Trafaria)

quarta-feira, fevereiro 09, 2005

Microfones ao alto

O exemplo vem, como quase tudo, dos States. Quem assistiu e resistiu ao último Superbowl deve ter percebido que por lá o futebol, aquele jogado com armações e capacetes, é entendido como um fenómeno absolutamente mediático, capaz de capitalizar milhões de dólares por todos os sítios onde passa.

A National Football League (NFL) há muito que encontrou a «mina» e continua a escavar túneis, procurando novas formas de construir o fenómeno. Uma das fórmulas do sucesso é a mediatização total do desporto, com iniciativas totalmente inovadoras, que rompem com os processos demasiado conservadores dos europeus. Microfones e câmaras nos balneários, conversas em privado, gravações de treinos e momentos de jogos vistos na primeira pessoa, com as frustrações e emoções próprias de quem vive as emoções ao extremo. Tudo está contratualizado, previsto e rentabilizado. Todos ganham e o espectador sente-se agarrado ao espectáculo.

De repente, tudo isto me fez reflectir sobre as ridículas limitações existentes em Portugal. Já nem falo na falta de pessoas nos estádios, mas nas tremendas falhas de organização, que começam na ausência de um produto atractivo e terminam nas regras aplicadas aos jornalistas, demasiadas vezes privados de realizarem trabalhos criativos e atractivos, enfim diferentes. Se muita da culpa reside nos clubes, a Liga terá, igualmente, de ser responsabilizada, porque simplesmente não sabe como lidar com o fenómeno.

Normalmente, o atraso português costuma ser de vinte anos. Dá para esperar mais dez ou quinze para que algo mude?

(by Arquero)

O que não percebo mesmo é...

1. por que Valdir não está no plantel principal do Sporting, quando o seu potencial parece superior ao de Paíto e se prepara (que pena, Rui!) a passagem de testemunho do veterano Rui Jorge;

2. o que faz Edgar Marcelino no Penafiel, quando o Sporting anda órfão de extremos desde as saídas de Ricardo Quaresma e Cristiano Ronaldo;

3. por que Miguelito não está na Selecção e agora voltou Rogério Matias;

4. por que Ricardo Nascimento tem de ir para a Coreia para jogar num clube com maiores ambições;

5. por que Rogério não joga sempre a lateral-direito no Sporting, quando é melhor que todos os outros e só faz número no meio-campo;

6. o que se passa com Polga, que anda desencontrado com as boas exibições;

7. o que pode trazer de novo Pitbull ao F.C. Porto, quando antes estava lá Derlei;

8. por que o Benfica não encontrou ainda um médio que possa entrar na equipa quando Petit e Manuel Fernandes não podem;

9. por que Simão não pode descansar quando a equipa já vence confortavelmente;

10. se Couceiro será capaz de manter unido todo o balneário à sua volta.

Entre outras coisas...
(by El Pibe da Trafaria)

Não me surpreendem...

... os dois golos de Hugo Almeida nos sub-21. Portugal tem finalmente o ponta-de-lança que nunca teve. Um jogador que nunca foi capaz de produzir, por circunstâncias genéticas (o que nos vale é que os chineses são mais baixos que nós!) ou porque seguiu em demasia a máxima que estabelece que a altura atrapalha quem gosta de acarinhar a bola, como dizia Valdano. É no agora avançado do Boavista que está o futuro do futebol português. Porque é grande e sabe o que fazer com os pés, porque é mortal nas áreas adversárias, o que era, até aqui, um privilégio apenas de quem jogava contra a Selecção Nacional. Que me perdoem Pauleta, Hélder Postiga e Nuno Gomes, mas finalmente há agora quem possa lutar para marcar golos de cabeça. E muito mais.

P.S. Só lhe falta uma equipa onde possa crescer...
(by El Pibe da Trafaria)

terça-feira, fevereiro 08, 2005

Anti-racists 'R' us

Tive de explicar ao meu filho por que razão a selecção portuguesa vai jogar de preto e branco esta quarta-feira, em Dublin. Não foi fácil fazer-me entender, tão bizarra lhe pareceu a ideia de algum pseudo-adepto ver em Miguel, Jorge Andrade, Manuel Fernandes, Thierry Henry, Ronaldinho ou Drogba algo a mais ou a menos do que grandes jogadores de futebol. Nada como a lógica obstinada de um miúdo de cinco anos para nos fazer ver o absurdo de alguns conceitos “adultos”.

Dito isto, faz-me impressão ver esta iniciativa directamente associada a uma e uma só marca de artigos desportivos, com o aplauso unânime dos organismos oficiais – leia-se federações. O combate ao racismo não deve ser confundido com mais uma campanha brilhante da Nike. As camisolas e pulseiras são bem bonitas, o pretexto é bom, mas a mensagem que permanece em fundo é a de que os “nossos” equipamentos são melhores e mais atentos às causas sociais do que os dos outros. Neste contexto, em particular, soa bastante mal.

(bv Espoliado de Incheon)

Já é vontade de embirrar!

O melhor médio criativo da Superliga (para os mais distraídos: chama-se Ricardo Nascimento e jogava no Rio Ave) está de partida para a Coreia do Sul. Rai’s parta aos coreanos. Não lhes chegava “aquilo” do Mundial ainda têm de vir aqui dar-nos cabo do que resta de magia a este campeonato?

(by Espoliado de Incheon)

Uma aposta

Tudo por junto, vi Silvestre Varela em acção aí uns 50 minutos, em três jogos dos sub-21. Um passe para golo com a Rússia, um golo e dois passes decisivos com o Luxemburgo e um delicioso toque de calcanhar com a Irlanda. É pouco, mas chega-me para ter a certeza de que o clone de Drogba, emprestado pelo Sporting ao Casa Pia, pode ser um caso muito sério no futebol português. Apelo sentido aos oportunistas dos mais variados quadrantes: por favor não estraguem mais este.

(by Espoliado de Incheon)

sábado, fevereiro 05, 2005

O que faltou no debate

Parece que aquela coisa do debate foi à americana (agrada-me o futebol, um jogo em que não temos nada a aprender com os americanos, apesar de alguns poderem pensar o contrário depois do Mundial 2002) e por isso deve ter sido bom. Não queria interromper a discussão sobre tão relevante tema. Só notar que nenhum jornalista, comentador ou sequer militante reparou na grande falha da luta Sócrates-Santana: a não ser que tenha acontecido naquele bocado em que adormeci, não escutei uma única referência ao manifesto de Benfica e Sporting. O que pode muito bem ser o único sinal positivo desta campanha.

by Falso lento

Nove passos intrigantes

No Blackburn-Chelsea o Kezman colocou-se à frente da bola para retardar um livre sobre o meio-campo. O árbitro disse-lhe para ir ganhar uma vida e deixar de ver a Superliga. Depois pegou na bola e andou com ela nove passos (se contei bem), para alegria dos blackburnes. O procedimento é útil e faz sentido. Mas levanta uma dúvida: o limite é a bancada?

by Falso lento

Uma coisa irritante

Nós a vermos o lance, sossegados no sofá. Foi «penalty», sim, não, talvez. Eles a comentarem lá longe. Eles a dizerem que sim, foi. A repetição a dizer que não. Eles a quererem convencer-nos de que se passou de uma forma diferente daquela que nós estamos a ver. Uma, duas, três vezes. É sempre mais fácil no sofá. Mas admitir um erro fica bem. Tentar enganar os tipos que estão tranquilos em casa soa falso. E fica mal. Dar o braço a torcer não está entre as dez mais bonitas expressões de uso comum. Mas é a única saída.

sexta-feira, fevereiro 04, 2005

O Braga anda a pensar em outras coisas

Sim, esta noite perdeu em Guimarães e até nem jogou lá essas coisas. O Sporting de Braga foi crescido na primeira parte, deixou andar o suficiente para encaixar um golo no início da segunda e quando tentou voltar falhou duas ou três oportunidades. Mas, apesar disso, fiquei convencido de que a equipa quer mais qualquer coisa da Superliga. Aconteceu no momento em que Jesualdo Ferreira desatou aos saltos (e foi agarrado pelo quarto árbitro!) por causa de um queda de Paulo Sérgio na área do Vitória, no minuto 2 dos descontos. Eles até podem dizer que é só a Europa e tal, mas por que diabo andaria o professor naquelas figuras se fosse só para ir a Badajoz? Ali tem coisa.

by Falso lento

José Couceiro

Aprecio o estilo rebelde de José Couceiro. Um estilo de palavras fortes e de atitudes firmes que podem ter um efeito de esponja no F.C. Porto. Terminar com a crise de confiança que atormenta a equipa e colocar um ponto final nas fragilidades psicológicas de um grupo habituado a ganhar são o seu maior lema. É verdade que treinadores assim fazem falta ao futebol português. Capazes de controlar o balneário de fora para dentro à custa de mensagens estrategicamente pensadas para provocar uma determinada consequência.

Mas depois há o resto. Bem, o resto é que os treinadores são a junção de duas partes distintas. A imagem, em que José Mourinho é o maior especialista na arte de convencer e motivar as suas tropas; o futebol-propriamente-dito, em que é preciso montar e desmontar todos os conceitos do jogo. Aqui coloco algumas dúvidas. José Couceiro subiu e desceu o Alverca e fez um trabalho digno de registo no V. Setúbal. Uma boa classificação e um futebol vistoso encantaram os adeptos. Mas é pouco. É pouco para chegar a um grande do futebol português e arejar a crise de um futebol enfadonho e sem rasgo de ideias.

Há outro aspecto. Olho para José Couceiro, vejo-o de fato e gravata naquele seu estilo sóbrio e a transpirar confiança. Se nunca o tivesse visto num banco de suplentes, a dirigir a equipa no relvado, a dar instruções ao grupo, a preparar as substituições, a tirar satisfações aos árbitros, se nunca o tivesse visto com a braçadeira de treinador, se nunca o tivesse visto a desempenhar as suas funções, pensaria que estava na presença de um dirigente de futebol dos tempos modernos...

(by Livre de Marcação)

quinta-feira, fevereiro 03, 2005

Um post menos feliz

Um dos piores e mais insidiosos inimigos do futebol português é o «menos bem». Toda a gente já se cruzou com o género, mas segue o exemplo para quem tem dúvidas: uma equipa – qualquer equipa – vem de uma vergonhosa sequência de resultados, acabou de perder o último jogo, em casa, por 5-0 e viu três jogadores expulsos (um por agredir o árbitro, outro por baixar os calções em resposta aos insultos e um terceiro por cuspir numa velhinha que estava na primeira fila).

No fim do jogo, o treinador reconhece, a custo, que a sua equipa esteve (incluir aqui pausa demorada, como quem procura a expressão mais justa) «menos bem». Um dos jogadores expulsos admite, depois de muito pressionado, que houve alguns momentos (ehhh…) «menos felizes» à mistura. Mas o vice-presidente para o futebol mostra-se confiante em melhorar rapidamente a imagem (…) «menos boa». Presume-se que à custa de uma série de resultados «mais bons», seja lá isso o que for.

Pode parecer uma embirração mesquinha, mas tenho para mim que o pavor que técnicos, jogadores, jornalistas e comentadores sentem em classificar como «fraco», «mau», «péssimo» ou até «merdoso» o que não merece outra designação é um sintoma do envergonhado respeitinho salazarento que continua a inquinar-nos os processos mentais, mais de 30 anos depois. Um sintoma que, muito para lá da semântica, abre a porta para uma coisa bem mais grave: retocar, distorcer e adaptar realidades evidentes ao sabor das conveniências. E da falta de memória.

À luz do discurso futebolisticamente correcto, o último episódio de «Os Malucos do Riso» teve algumas larachas «menos conseguidas», a «Quinta das Celebridades» proporcionou momentos esteticamente «menos felizes», as análises técnico-tácticas do Gabriel Alves são, por vezes, «menos perceptíveis» e o nível de debate da campanha eleitoral em curso está a ser «menos bom» do que o desejável. E só de escrever estas inanidades coro de vergonha.

Tempos houve em que nos faltavam 30 metros para sermos grandes. Agora, entre outras coisas, faltam-nos adjectivos nos sítios certos para sermos simplesmente honestos. O futebol português até pode dar-nos espectáculos deslumbrantes de vez em quando e conseguir resultados brilhantes nos confrontos internacionais. Mas enquanto continua a fazer contorcionismos verbais para evitar olhar as coisas de frente e aplicar-lhes os nomes justos, vai permanecer um reino de eufemismos envergonhados e hipócritas. Talvez mesmo o «mais menos bom» da Europa quanto a clareza moral e liberdade de expressão.
(by Espoliado de Incheon)

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Se me propusessem...

... contratar o Jorginho, por cinco épocas, para fazer só um jogo por ano e marcar um golo como o de Alvalade, eu aceitava.
(by Espoliado de Incheon)

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