A malta gosta de bola, prontos. Uma vez até fizemos um site, que se chama maisfutebol. Somos jornalistas e tudo. Mas aqui não. Diagnósticos, prognósticos e inseguranças técnico-tácticas para maisfutebol@iol.pt

quarta-feira, agosto 31, 2005

A cadeira

Foi apenas um momento. Um momento (como é que é a palavra, mesmo?) singelo, mas cheio de significado. Poucas vezes o futebol português foi tão profundamente retratado em sete segundos.

Pelas 13.10, com as TV's em suspenso e os directos preparados, José Veiga entrou na sala de imprensa da Luz com ar imperial, acercou-se da mesa e das três cadeiras preparadas para a cerimónia. Duas em posição central, uma terceira mais chegada ao lado direito da sala, quase a fugir da mesa e do enquadramento das câmaras. Ao passar por ela, Veiga deu duas pancadinhas discretas no tampo da mesa e olhou para trás. A linguagem corporal foi mais clara do que qualquer frase em italiano: «este é o teu lugar, rapaz». Karagounis sentou-se.

Depois, Veiga seguiu para a cadeira do lado esquerdo, ainda assim bem mais dentro do enquadramento. E então, só então, Vieira entrou na sala e sentou-se também. Confiante, tranquilo e cheio de autoridade. Percebe-se: tinha ganho, de uma só vez, um directo televisivo sem perguntas desagradáveis; um reforço para anunciar aos sócios; a certeza de que este fim-de-semana não haverá jogo, nem críticas a Koeman; e - acima de tudo - a confirmação de que ainda ninguém se atrevera a sentar-se na cadeira. A sua cadeira no centro da sala.

(by Espoliado de Incheon)

segunda-feira, agosto 29, 2005

Teoricamente... (III)

Começando pelo P.S. : O Douala joga em todo o lado e, falando a sério, são mesmo necessários dois para o defender. A Udinese percebeu isso (e mais umas coisas) muito bem. O Marítimo foi descuidado e ingénuo. E podia ter ido para o intervalo com três ou quatro.

Voltando ao Koeman. Seja qual for o sistema, acho-o medroso. Se olharmos para o Benfica de sábado percebemos que tem menos um «jogador de bola» do que no ano passado. Em casa, frente ao Gil Vicente, deu-se ao trabalho de mexer naquilo tudo e a única coisa que conseguiu foi dar a titularidade a Beto e deixar Geovanni no banco. Qualquer um faria isso mexendo menos.

Assim de repente, acho que o Benfica deve jogar com três no meio e três na frente. E também acho que se existem dois laterais esquerdos é duvidoso dar esse lugar a Ricardo Rocha. Pelo menos em casa, frente ao Gil Vicente.

Com Simão e Geovanni, alas que gostam do meio, a equipa ganha se tiver dois laterais que subam com cabeça e gostem de pisar a linha: Dos Santos/Léo e Nelson à direita.

No dia em que equilibrar a defesa, Koeman poderá passar à fase seguinte: o meio-campo.

Também aqui é preciso optar. Na Luz, com equipas pequenas, não podem jogar Petit, Manuel Fernandes e Beto. Um dos lugares deve ser de Karyaka ou Nuno Assis. Se Koeman quiser alguém capaz de aproveitar os espaços que surgem, é urgente escolher um médio que assegure pelo menos dois ou três passes «de morte» por jogo e se desmarque de forma competente. Seja russo, português ou esteja para chegar há dois meses.

Na frente, Simão, Nuno Gomes e Geovanni garantem as movimentações necessárias.

Resumindo (I): Trapattoni carrega a fama de ser um treinador defensivo, mas até ver Koeman ainda desconfia mais do plantel do que o italiano.

Resumindo (II): Acho que o Benfica pode ser campeão a jogar à Trap. Mas não é provável. Nem dessa forma nem de outra qualquer. Mas também não é provável, até ver, que F.C. Porto ou Sporting sejam campeões. Talvez o Rio Ave.

Resumindo (III): Vou mandar o endereço do blog ao Koeman. Ele tem agora duas semanas sem jogadores, sempre pode querer vir beber um copo e convencer-nos de que o Beto vai ser o novo Miguel (sem o Dias Ferreira, de preferência).

(by Falso lento)

Dias felizes

Não há altura como as autárquicas. Concretamente, a campanha. Que maravilha primaveril, tantos são os rebentos. Que maravilha natalícia, tal é o espírito. Mesmo com a pior das azias não consigo permanecer mal disposto. Por mais trombudo que esteja (e queira mesmo estar) é impossível não sorrir de volta a tanta simpatia por esse País espalhada.

Ou não fosse esta a altura em que senhoras e senhores que não conhecemos de lado algum, de quem nunca ouvimos falar (e de cuja maioria nunca mais vamos ouvir falar outra vez) nos distribuem um sorriso do tamanho do céu azul. E são aos molhos, espalhados por aí. E trazem sempre consigo uma frase simpática... ou de esperança ou optimismo ou outra coisa qualquer – sempre a levantar-nos o astral...

Não consigo ficar indiferente a tanta felicidade. Mesmo que esteja mais virado p'ra fossa sou apanhado pela corrente e só me safo com umas braçadas neste imenso mar de rosas que tanto banha o IC 19 como a Nacional 125. Que bom! Por isso e porque só dura até a um domingo que já não anda longe, aproveito: rotunda a 100 metros com sorriso ao centro, à direita e à esquerda.

(by Em Busca do Prejuízo Perdido)

Neologismos & Nicolaumelismos (I)

Deslizamento táctico:acção que consiste em ir aproximando gradualmente um jogador da linha lateral até o puxar de vez para o banco de suplentes. Ex: o que Koeman está a fazer a Beto no Benfica.

(by Espoliado de Incheon)

Teoricamente, mas só de raspão, não se incomodem

Eu cá é que não quero meter o bedelho nestas considerações bitácticas, tanto mais que ainda não perdi a esperança de ver a polémica resolvida «à homem», isto é, numa sessão de pêra à moda antiga. Até tenho um gong em casa para assinalar o fim dos «rounds». Mas tenho de responder à questão deixada pelo Pibe no P.S. do último «post». E a resposta, a avaliar pelos quatro jogos oficiais do Sporting este ano é: sim, joga.

(by Espoliado de Incheon)

Teoricamente... (II)

Há aqui dois pontos de vista. Ou se aceita que o Benfica pode ser novamente campeão a jogar à Trap (no 4x3x3 ou no 4x2x3x1, já que a diferença é o adiantamento dos extremos) ou se compreende que um treinador não se reveja num jogo em que as coisas correram mal e tente mudar. Koeman aceitou o risco de as coisas correrem mal e apostou em ter mais bola perto de Nuno Gomes. Deu-se mal, mas não me parece que isso tivesse acontecido por culpa do 3x4x3, mas sim porque não existe um jogador capaz de organizar o ataque, seja nesta nova táctica ou no tradicional 4x3x3. Por isso, tantas quebras, por isso tantas dificuldades em recuperar a força junto à área de Jorge Baptista.

Koeman esteve mal quando avaliou em demasia Beto (que, parece-me, anda há já alguns jogos a perder o gás da pré-época, seja como médio-defensivo ou como médio direito) e voltou a não acreditar em Dos Santos (acreditou na substituição para poder compensar a equipa caso quisesse voltar, como aconteceu, ao sistema inicial). É verdade quando se diz que o Benfica foi campeão com mais Dos Santos do que com Fyssas (que já lá não mora), mas não me parece que o francês seja indiscutível. Beto não foi feliz como seria previsível face à falta de velocidade e de drible, Nélson esteve bem para primeiro jogo e funções diferentes.

Não acredito que o 3x4x3 esteja assim tão errado. E falando teoricamente, perante dois avançados móveis do Sporting, arriscar na igualdade numérica lá atrás poderá ser mais grave do que voltar ao sistema antigo. E mesmo assim, no final do jogo de Alvalade, podemos estar a falar dos pecados do 5x2x3, porque os laterais nunca serão médios dada a presença de Douala e companhia. Poderá ser novamente capa de jornais («Koeman volta a inventar e dá galo») e razão de críticas ao holandês.

Koeman não está cheio de razão (a aposta em Kayaka e o regresso ao banco no jogo seguinte é sintomática), mas também não está assim tão errado. Pelo menos, para já. Acredito que o 3x4x3 com outros jogadores - Moreira; Anderson, Luisão, Ricardo Rocha; Nélson, Manuel Fernandes, Petit e Léo (ou Dos Santos); Simão, Nuno Gomes e Karyaka (ou Geovanni) - possa dar outros frutos. Não necessariamente frente ao Sporting...

P.S. Acho prematuro dizer-se que o Benfica não tem jogadores para o 3x4x3 e que nesta táctica perde os extremos. Eles continuam lá. Douala também não joga ao mesmo tempo na esquerda e na direita ou joga?

(by El Pibe da Trafaria)

Teoricamente...

...todos os sistemas são bons. Até o de Koeman.

Na prática, como no sábado, acho que acabou por não haver um sistema.

Ricardo Rocha não foi bem um central, de facto. Só havia um ponta-de-lança no adversário, quando o Benfica tinha a bola Ricardo lá subia. Como se sabe, não é o ponto forte.

Um pouco à frente, Nélson flectia da linha para o meio, tendência natural do seu pé direito. Conseguiu dois desequilíbrios, depois fechou a loja.

Na direita, Beto nunca foi à linha. Não é essa sua natureza. Apareceu duas vezes pronto a marcar. Falhou. Chutar na grande área é coisa a que não está habituado.

No meio, pedia-se a Petit e Manuel Fernandes que aproveitassem os espaços que as correrias de Simão e Nuno Assis geravam, metros à frente. O número 6 fê-lo duas vezes. Numa não conseguiu rematar, na outra cruzou para um golpe de cabeça de Nuno Gomes.

Por falar no ponta-de-lança, foi o melhor da equipa. Como já sucedera antes.

A agitação e as oportunidades que o Benfica conseguiu foram mais resultado da inadaptação do adversário (os laterais desataram a correr atrás de Simão e Nuno Assis, em vez de defenderem à zona e marcarem quem caísse naquele espaço) do que mérito do sistema.

Se Koeman tivesse acrescentado talento (e mais uma dúzia de treinos, pois sempre valerá de alguma coisa os jogadores encontrarem-se todos os dias de calções em cima de um relvado) ao sistema talvez tivesse ganho o jogo. Ou, pelo menos, talvez o Benfica tivesse jogado bem. Assim deu um passo atrás.

No fundo, o Benfica abandonou por instantes o sistema que lhe deu o título na época passada, só por causa de um empate em Coimbra.

Alvalade será um bom teste à coerência de Koeman. Depois de uma derrota como a de sábado acho que sem dúvida se justifica novo sistema.

Desde já avanço uma humilde sugestão de onze: Moreira; João Pereira e Nélson (dois laterais direitos, por causa de Douala); Luisão a sobrar; Anderson e Ricardo Rocha (para Liedson e Deivid); Dos Santos e Léo (dois laterais esquerdos porque Douala pode aparecer na direita); Petit, sempre; Simão e Nuno Gomes.

Como na escola, as equipas só deviam passar para o lição seguinte depois de terem provado compreender a anterior. Alguém jura que o Benfica já encantava em 4-1-2-3 ou lá o que era aquilo?

(by Falso lento)

domingo, agosto 28, 2005

Deixem jogar o Sonkaya

O Sonkaya parece bom rapaz. Na Figueira da Foz, não foram raras as vezes em que se via o lateral turco de braço levantado e gestos de gingão a pedir a bola, ao jeito daqueles estranhos que se ofereciam para jogar nas peladas de rua da nossa juventude. Nessas alturas, Vítor Baía também não lhes deve ter passado a bola. Afinal, só estavam ali para que a equipa não tivesse menos um.
(by El Pibe da Trafaria)

A cunha de Adriaanse

Adriaanse deverá fazer parte da próxima comissão de treinadores da UEFA, que terá por objectivo avaliar as alterações feitas às regras do jogo. Ao que conseguimos apurar, o treinador do F.C. Porto terá reunido de emergência o estado-maior portista no sentido de recolher argumentos para meter uma «cunha» na próxima reunião: a introdução de substituições defesa-ataque, a exemplo do que acontece no andebol. Devido à tendência goleadora de César Peixoto, o holandês não quer ver o lateral perto da baliza de Vítor Baía.
(by El Pibe da Trafaria)

Já liguei ao Jorge Baptista

Liguei-lhe logo depois do último post, mas ele não pôde atender. Parece que tiveram de chamar um reboque, devido a um problema nos amortecedores. Fonte do clube disse que o responsável foi o Jorge Baptista, que não parava de se atirar de um lado para o outro nos bancos de trás do autocarro.
(by El Pibe da Trafaria)

Especulação bolsista

Consta que os principais investidores da Bolsa de Lisboa estão muito preocupados com o PSI 20 para a reabertura na próxima segunda-feira. Teme-se que as acções de uma conhecida empresa de criação de aves caiam vertiginosamente depois de José Peseiro, treinador do Sporting, ter anunciado que o guarda-redes Ricardo sai da equipa nos jogos com o Marítimo e Benfica.
(by El Pibe da Trafaria)

Koeman, o conceito e a aplicação

Será que Koeman inventou assim tanto? As selecções jovens já há algum tempo que o praticam. Lembro-me de Jesualdo nas Esperanças, de Agostinho Oliveira desde quase sempre. O 4x3x3 é habilmente transformado em 3x4x3, em algum momentos, consoante o adversário. E com sucesso. Certas equipas nacionais até o fizeram durante os jogos dependendo dos jogadores que tinham: lembro-me de Caneira a subir de defesa para trinco ou descer de trinco para defesa, consoante a equipa tinha a bola ou não. Certo, isso não se passa no Benfica. Mas será assim tão estranho passar de um 4x3x3 para um 3x4x3?

O treinador holandês não se revê na exibição de Coimbra. Se calhar, esperava muito mais da equipa do meio-campo para a frente. Mudou. Fez bem? Muitos dizem que não. Não me parece que seja assim tão errado. Dizer que três centrais para um homem do Gil era de mais também não parece o mais adequado, já que a situação era mais de três defesas do que de cinco, com Rocha a fechar à esquerda e Anderson à direita. Beto raramente foi lateral, Nélson andava muito pouco cá atrás. Os defesas aproximaram a bola muito mais da baliza do que em jogos recentes.

O erro de Koeman, parece-me, passou pelas adaptações, sobretudo a de Beto. Nélson poderá enquadrar-se perfeitamente neste esquema (o lugar também seria perfeito para Miguel, sim!) na direita, e no outro lado Léo ou Dos Santos não deverão estranhar o adiantamento no relvado. O certo é que em 20 minutos o Benfica podia ter resolvido o jogo e se tivesse vencido todos elogiariam ontem e hoje o holandês. Fala-se de que não se testou nunca o novo esquema. Mas seria mesmo tão necessário? Com Ricardo Rocha na equipa, o Benfica não tem momentos de três centrais claros?

Na frente, a outra questão: a interioridade de Simão e Nuno Assis. Nuno Gomes ganha mais companhia - talvez tenha sido o melhor jogo do avançado nos três jogos oficiais já realizados -, há menos gente nas alas. O esquema permite que em certos momentos Simão ou Nuno Assis estejam ao lado de Nuno Gomes e o outro numa das alas. Simão e Nuno Assis (ou Geovanni) não podem ter essa função e desempenhá-la bem? Parece-me que sim.

O grande handicap do Benfica nestes primeiros jogos foi a quebra de ritmo. Talvez isso seja explicado pela falta de alguém que assuma a bola e organize o jogo da equipa. Aí é que o campeão falha: falta-lhe um bom número 8 para este esquema. No 3x4x3, até prova em contrário, só cabe um número 10 se se abdicar de um dos extremos ou então ele tem de partir de uma das laterais. Ou então, o risco é ainda maior e sacrifica-se um trinco.

O conceito do qual Koeman partiu não é assim tão errado, falhou foi a aplicação do mesmo.

(by El Pibe da Trafaria)

Avisem o tipo

Dêem um toque ao Jorge Batista. Já fomos todos dormir, pode parar de defender, coisa irritante.

(by Falso lento)

«Caso Miguel»: agora foi mesmo o fim

O Benfica não tem reforços porque o presidente passou os dias a resolver o «caso Miguel».

O Benfica não tem reforços porque o homem do futebol passou os dias a tentar encontrar-se com Miguel, para resolver, claro, o «caso Miguel».

O Benfica não tem reforços porque Koeman não consegue decidir qual o sistema táctico da equipa e, para cúmulo, montou um esquema mesmo à medida de Miguel.

O Benfica perdeu com o Gil Vicente e a única boa notícia é que o «caso Miguel» acabou. Os dirigentes vão ter de encontrar outra desculpa.

(by Falso lento)

sábado, agosto 27, 2005

Coerência

José Peseiro quer que o Sporting deixe de ser a equipa que joga bem e não ganha nada. A avaliar pelo que se tem visto vai no bom caminho: começa a ser muito duvidoso sustentar que este Sporting joga bem.

(by Espoliado de Incheon)

quinta-feira, agosto 25, 2005

Esta selecção é um prodígio

A discutir a baliza estão, nesta altura, o guarda-redes mais inseguro e acossado do país e o suplente do campeão nacional. Que acaba de perder a titularidade para o menino bonito dos sócios do seu clube, por este ser mais novo.

Como opção para lateral-direito temos uma terceira escolha do Benfica, recém-transformada em reforço de um clube da segunda metade da tabela na Liga alemã. Como provável titular a lateral-esquerdo, um jogador metido no congelador pelo seu próprio clube, que há dois meses o impede de competir e até treinar no seu espaço natural.

No meio-campo, a suposição, que imaginamos partilhada pelo seleccionador, de que Costinha e Maniche não desaprenderam de jogar com o frio. Nunca mais ninguém os viu em acção desde que partiram para o exílio, mas um telefonemazito deve bastar para tranquilizar o espírito confiante do seleccionador.

Nas alas, tudo previsível também: o incontornável Santo padroeiro da era-Scolari, agora suplente no Inter e o seu indiscutível herdeiro (pelo menos dentro de campo, que fora dele são outros quinhentos) a titulares, o eterno incompreendido, em versão Calimero, e o eterno ignorado como seus suplentes.

Restam Pauleta, com o «record» de Eusébio transformado em muralha mental, e Postiga, a aposta mais exclusiva e claramente ganha da teimosia do seleccionador. Nuno Gomes parece ter caído pelo ralo e por agora ninguém parece muito disposto a perder tempo a perguntar por ele. Por agora...

Que tudo isto ainda faça algum sentido; que as alternativas, pelo menos em alguns casos, sejam escassas ou nulas; e que mesmo assim Portugal esteja a um passo de carimbar a qualificação mais fácil em 75 anos de Mundial - dominando, é certo, o grupo mais fraco que alguma vez se atravessou no seu caminho; eis, decididamente, um daqueles prodígios que remetem o mais empedernido incréu de volta à esfera da fé.

Afinal de contas, é bem provável que Deus exista, fale brasileiro e tenha costela transmontana. Com unhaca do mindinho saliente e camisa aberta com vista sobre crucifixo em cama de pêlos. E tudo o resto a que um bom portuga aculturado tem direito.

(by Espoliado de Incheon)

sábado, agosto 20, 2005

Bom dia ao fórum!

Anda por aí uma grande polémica e mais não sei quê, porque a Liga fez um acordo de patrocínio com uma empresa chamada Weetandbix, e o campeonato deixou de chamar-se Superliga para passar a chamar-se Liga Wetandblind.com. Ora eu, como diria a minha tia Beatriz, também tenho sentimentos. E além de sentimentos também tenho opiniões. E como ao fim-de-semana não há fórum TSF, vou deixar aqui as minhas sobre esta polémica da Liga Betamax. Então é assim:

Para começar, hã?, sou como o major: nunca entrei no site da Wetandbind, não sei como é que se aposta na Betadine, nem como é que o esquema de pagamentos da Woodandbend e também acho que «o jogo é um mal» e «ninguém devia jogar» (esta última frase ficava melhor com um «de» entre o «devia» e o «jogar», mas pronto).

Dito isto, também percebo que se a Beguindebeguine.com tem dinheiro e disposição para investir no futebol português isso deve ser aproveitado. É certo que a Santa Casa e os casinos protestam. Dizem que a Bedandwine faz concorrência desleal e não paga impostos sobre os lucros que obtém em Portugal. E se calhar têm razão.

Mas, pergunto eu: se os clubes andam há 20 anos a arranjar maneira de não pagar impostos, não faz todo o sentido que o seu campeonato seja patrocinado por uma empresa especializada em fazer o mesmo? A mensagem é evidente: «Nós fazemos como a bicuáite.com, não pagamos impostos em Portugal, não jogamos a ponta dum chavelho e mesmo assim safamo-nos. Você também pode ser assim».

Aliás, se pensarmos bem, pusemo-nos mesmo a jeito. A nossa tendência para torrar os restos mortais do Orçamento do Estado no Euromilhões (e não me venham com a conversa de que é por causa da Marisa Cruz, porque também lá anda o outro bidé com pernas para contrabalançar) só podia chegar aos ouvidos dos senhores da Blackandwhite.com. Que não são parvos (ao contrário do partenaire da Marisa) e perceberam o tamanho da coisa que tinham entre mãos (esta última frase também não me saiu muito bem, mas prontos).

Ora a Bandwidth não criou a sua sólida reputação à custa de hesitações: lá da Áustria, ou lá o que é, chegou o senhor Betandeane (Bet da parte da mãe, Deane da do pai), pôs o cheque na mesa e o major, que uns minutos antes nunca tinha ouvido falar da Wentandbing, passou a defender, com voz de trovão, os direitos do seu novo patrocinador. E com argumentos que não podem deixar de ecoar entre as orelhas do povo, como o já célebre «não estamos aqui a promover o jogo, estamos a promover uma empresa».

Que bem a promovem, senhores: na última semana, o nome Bitandwen andou na boca de todos os portugueses. Foram sem dúvida milhões, ou pelo menos alguns, os portugueses que decoraram a fórmula milagrosa e escreveram nos seus computadores o famoso url (www.bigandbouncy.com) na esperança da fortuna fácil e rápida.

Eu por mim não sei, senhor Manuel Acácio, mas desconfio que a Beatandrun é o futuro, e o futebol português não pode, hã?, não pode ficar prisioneiro de legislações ultrapassadas e destinadas a defender sempre os mesmos interesses, hã? Eles querem é poleiro, prontos! Isto só lá vai com outro Salazar. Bom dia ao fórum!

(by Espoliado de Incheon)

domingo, agosto 14, 2005

A RTP do nosso descontentamento

Tudo certo no comentário anterior ao documentário da BBC, que a RTP transmitiu sobre José Mourinho. No original, a coisa chamava-se «Mourinho, the special one». Mas imaginem que título lhe deu a estação pública de televisão? «José Mourinho: ganhe como eu», o nome da forte campanha publicitária do BPI com o mesmo Mourinho. Coincidência? Não. No mínimo: OBSCENO.

[Termina o programa. Que anúncio passa imediatamente a seguir? Sim, bingo! «BPI. Ganhe como eu!»]

(by Apanha-bolas)

sexta-feira, agosto 12, 2005

A BBC do nosso contentamento

No Euro 2004 olhávamos para o lado e sorríamos: eles tinham tudo. Um imenso camião para personalizar a emissão, mais uns carritos. Um toldo, uma mesa e umas cadeiras para suportar o calor português. Um senhor que só fazia tostas mistas e servia cervejas. Uma senhora que passava a roupa a ferro. E, claro, na BBC estavam alguns dos nossos ídolos que entretanto tinham passado de jogadores a comentadores.

Às vezes íamos ver os jogos para o que sobrava do toldo deles. Foi o mais perto que estive de trabalhar na BBC (uma vez em Glasgow também utilizei um microfone deles, mas era BBC Escócia, enfim).

Entre os comentadores estava o Gary Lineker. Aliás, era o pivot. O jogo acabava e ele, mais dois ou três só em camisa, descontraídos, explicavam tudo. Sempre com imagens, sempre com aquela economia de palavras que só o inglês permite. Era tão bom que irritava. Tão simples.

Dei por mim a pensar exactamente isso ao ver o documentário de José Mourinho, apresentado por Gary Lineker e produzido pela BBC. O irritante é que não há ali nada de particularmente novo, nenhuma ideia especialmente brilhante, nenhum ângulo surpreendente (a não ser talvez ter conseguido pôr Vale e Azevedo a falar, ele que supostamente estava proibido de se aproximar de um microfone). É bom, muito bem feito, «só» isso.

As peças estão todas no local certo. Eles falaram com as pessoas correctas (enfim, podiam ter detalhado um pouco mais os anos em Portugal...), tinham as melhores imagens (resulta sempre muito bem rever as pessoas com menos 10, 15 anos), os «figurantes» diziam apenas o essencial, a entrevista com Mourinho (ele ajuda muito...) excelente.

Depois de recolhido o material, a montagem é o momento em que tudo pode falhar. Com a BBC nunca falha. Os vivos escolhidos tinham sempre a dimensão certa, não faltava a musiquinha, Mourinho aparecia e desaparecia com subtileza e propriedade. E depois havia Lineker. Fez todas as perguntas. Sempre no tom certo, entrando no momento exacto, com o sentido de oportunidade que o transformou num dos maiores goleadores da história do futebol inglês. A pergunta «Alguma vez teve falta de confiança?» foi a minha preferida, pela forma como Lineker a fez, parecendo por um instante encontrar uma brecha, uma sombra de dúvida, na história de Mourinho.

Num ambiente assim, o treinador do Chelsea falou de tudo e mais alguma coisa. Fui ver aos jornais e parece que o documentário teve 45 minutos, mais coisa menos coisa. Para mim foi como beber um copo de água numa tarde de Verão. Perfeito.

(by Falso lento)

quinta-feira, agosto 11, 2005

A boa imprensa

O presidente do Alverca diz que o Benfica não pagou tudo o que devia por Mantorras. Mete-se no meio da notícia da pré-falência, numa página do fundo.

O Benfica reage e desmente tudo. Obviamente primeira página.

O Alverca diz que a história ainda não terminou. Já não há paciência para esta estória, pois não?

Um dos grandes problemas do futebol português é a boa imprensa dos três maiores clubes.

(by Falso lento)

sexta-feira, agosto 05, 2005

O ponta-de-lança

Cada dia que passa sem que o Benfica apresente um ponta-de-lança aumenta a pressão sobre o pobre que, enfim, aceitar o convite.

Se ainda não veio só pode ser bom. Muito bom. Excelente. Impagável. Único.

Só os jogadores muito bons são difíceis de convencer.

O Figo, por exemplo. É bom que se farta. Por isso demorou e só aceitou o Inter quando diversos autores mexicanos discutiam já a possibilidade de escrever uma novela sobre a saída do Real Madrid. Agora chega lá e resolve, como sempre.

É isso que se espera do ponta-de-lança do Benfica. Que seja Deus. Ou pelo menos parecido. Mas que resolva aquele enorme problema entre Geovanni e Simão.

(Falso lento)

terça-feira, agosto 02, 2005

Racismo?

O incidente de Miguel e amigos na madrugada algarvia motivou diversos comentários na imprensa. Alguns foram racistas e pertenceram a jornalistas com responsabilidades editoriais. Infelizmente ninguém parece reparar.

(by Falso lento)

segunda-feira, agosto 01, 2005

zzzZTARUSSCHHHH!

É a melhor e mais expressiva onomatopeia que conheço, mas só pode aplicar-se em situações extremas, ilustrando fatias de perfeição numa narrativa entre amigos.

zzzZZZTARUSSCHHHH!

Serve para contar a quem não viu remates de fora da área, daqueles que abanam a trave, nos martelam a emoção pelos olhos e depois entram (zzzZZZTARUSSCHHHH!) como um foguete, que já levam o destino anunciado ainda antes de a bola descolar completamente da parte de fora do pé.

Por exemplo:«E o Muhren cruzou da esquerda, o Van Basten, quase encostado à linha de fundo, deixou-a vir quase 40 metros e sem deixar cair zzzZZZTARUSSCHHHH! no ângulo do Dassaev»

Daqueles que, ainda a bola vem no ar, a suspender o tempo, e já lavram gritos de golo na garganta, daqueles que conjugam força, potência e precisão para desenhar um destino inevitável e glorioso.

Por exemplo:«E o Rui Costa deixou o Phil Neville desmoronar-se aos seus pés, virou da esquerda para o meio e, de fora da área, zzzZZZTARUSSCHHHH! o James nem a viu passar!»

Eu sei o que estou a dizer, porque me aconteceu um momento assim
zzzZZZTARUSSCHHHH!
uma vez em toda a minha vida. E todos os dias que se seguiram, até hoje, foram passados a recordar, para mim ou para os outros, esse remate perfeito. E a lamentar todos aqueles que vivem uma vida inteira sem se cruzar, mesmo que apenas como espectadores, com um instante desses,

Por exemplo:«Então o Jairzinho tocou para o meio, o Pelé parou o movimento, tocou para a direita, e o Carlos Alberto, que vinha a correr há 60 metros, zzzZZZTARUSSCHHHH!, para o viveiro»

a lamentar os que passam anos e anos a dar-lhe de bico, com a canela, com a sola e nunca experimentaram, nem sabem possível, um orgasmo em forma de chuto a colar-se para sempre à nossa memória, como uma tatuagem.

(by Espoliado de Incheon)

Who Links Here