Um post menos feliz
Um dos piores e mais insidiosos inimigos do futebol português é o «menos bem». Toda a gente já se cruzou com o género, mas segue o exemplo para quem tem dúvidas: uma equipa – qualquer equipa – vem de uma vergonhosa sequência de resultados, acabou de perder o último jogo, em casa, por 5-0 e viu três jogadores expulsos (um por agredir o árbitro, outro por baixar os calções em resposta aos insultos e um terceiro por cuspir numa velhinha que estava na primeira fila).
No fim do jogo, o treinador reconhece, a custo, que a sua equipa esteve (incluir aqui pausa demorada, como quem procura a expressão mais justa) «menos bem». Um dos jogadores expulsos admite, depois de muito pressionado, que houve alguns momentos (ehhh…) «menos felizes» à mistura. Mas o vice-presidente para o futebol mostra-se confiante em melhorar rapidamente a imagem (…) «menos boa». Presume-se que à custa de uma série de resultados «mais bons», seja lá isso o que for.
Pode parecer uma embirração mesquinha, mas tenho para mim que o pavor que técnicos, jogadores, jornalistas e comentadores sentem em classificar como «fraco», «mau», «péssimo» ou até «merdoso» o que não merece outra designação é um sintoma do envergonhado respeitinho salazarento que continua a inquinar-nos os processos mentais, mais de 30 anos depois. Um sintoma que, muito para lá da semântica, abre a porta para uma coisa bem mais grave: retocar, distorcer e adaptar realidades evidentes ao sabor das conveniências. E da falta de memória.
À luz do discurso futebolisticamente correcto, o último episódio de «Os Malucos do Riso» teve algumas larachas «menos conseguidas», a «Quinta das Celebridades» proporcionou momentos esteticamente «menos felizes», as análises técnico-tácticas do Gabriel Alves são, por vezes, «menos perceptíveis» e o nível de debate da campanha eleitoral em curso está a ser «menos bom» do que o desejável. E só de escrever estas inanidades coro de vergonha.
Tempos houve em que nos faltavam 30 metros para sermos grandes. Agora, entre outras coisas, faltam-nos adjectivos nos sítios certos para sermos simplesmente honestos. O futebol português até pode dar-nos espectáculos deslumbrantes de vez em quando e conseguir resultados brilhantes nos confrontos internacionais. Mas enquanto continua a fazer contorcionismos verbais para evitar olhar as coisas de frente e aplicar-lhes os nomes justos, vai permanecer um reino de eufemismos envergonhados e hipócritas. Talvez mesmo o «mais menos bom» da Europa quanto a clareza moral e liberdade de expressão.
(by Espoliado de Incheon)
No fim do jogo, o treinador reconhece, a custo, que a sua equipa esteve (incluir aqui pausa demorada, como quem procura a expressão mais justa) «menos bem». Um dos jogadores expulsos admite, depois de muito pressionado, que houve alguns momentos (ehhh…) «menos felizes» à mistura. Mas o vice-presidente para o futebol mostra-se confiante em melhorar rapidamente a imagem (…) «menos boa». Presume-se que à custa de uma série de resultados «mais bons», seja lá isso o que for.
Pode parecer uma embirração mesquinha, mas tenho para mim que o pavor que técnicos, jogadores, jornalistas e comentadores sentem em classificar como «fraco», «mau», «péssimo» ou até «merdoso» o que não merece outra designação é um sintoma do envergonhado respeitinho salazarento que continua a inquinar-nos os processos mentais, mais de 30 anos depois. Um sintoma que, muito para lá da semântica, abre a porta para uma coisa bem mais grave: retocar, distorcer e adaptar realidades evidentes ao sabor das conveniências. E da falta de memória.
À luz do discurso futebolisticamente correcto, o último episódio de «Os Malucos do Riso» teve algumas larachas «menos conseguidas», a «Quinta das Celebridades» proporcionou momentos esteticamente «menos felizes», as análises técnico-tácticas do Gabriel Alves são, por vezes, «menos perceptíveis» e o nível de debate da campanha eleitoral em curso está a ser «menos bom» do que o desejável. E só de escrever estas inanidades coro de vergonha.
Tempos houve em que nos faltavam 30 metros para sermos grandes. Agora, entre outras coisas, faltam-nos adjectivos nos sítios certos para sermos simplesmente honestos. O futebol português até pode dar-nos espectáculos deslumbrantes de vez em quando e conseguir resultados brilhantes nos confrontos internacionais. Mas enquanto continua a fazer contorcionismos verbais para evitar olhar as coisas de frente e aplicar-lhes os nomes justos, vai permanecer um reino de eufemismos envergonhados e hipócritas. Talvez mesmo o «mais menos bom» da Europa quanto a clareza moral e liberdade de expressão.
(by Espoliado de Incheon)
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