A malta gosta de bola, prontos. Uma vez até fizemos um site, que se chama maisfutebol. Somos jornalistas e tudo. Mas aqui não. Diagnósticos, prognósticos e inseguranças técnico-tácticas para maisfutebol@iol.pt

quinta-feira, março 31, 2005

Afinal, para que servem os suplentes?

Desde que Scolari é seleccionador Portugal marcou 68 golos em 31 jogos. Desses, 22 foram marcados por suplentes, com Nuno Gomes (7) e Hélder Postiga (6) no top das contribuições. Falamos de quase um terço do total (32 por cento). E para quem não quer fazer contas, diga-se desde já que esta é uma percentagem anormalmente alta. Se fizermos a comparação com a Superliga, por exemplo, vemos que a equipa que mais marca através de suplentes, o Belenenses, se fica por 8 golos em 35 (23 por cento). As percentagens de Benfica (12), F.C. Porto (10), Boavista (15), Sp. Braga (13) e Sporting (6 por cento), são ainda mais irrelevantes.

Se ficarmos só com os 12 jogos oficiais da Selecção (Europeu e Mundial), temos 10 golos vindos do banco para um total de 29. A percentagem é ainda um pouco mais alta (34 por cento), e reduz a margem admissível para se falar de acaso. Claro que os números, só por si, valem pouco quando não permitem interpretações claras. E aqui é que a porca torce o rabo. Porque é possível olhar para esta realidade e argumentar que Scolari, além de ter estrelinha, é um técnico astuto que sabe tirar partido do banco nas alturas certas para valorizar a equipa. Mas também é possível defender o contrário: que tem sido a inspiração dos suplentes, a golpes de sorte sucessivos, a corrigir erros de «casting» e de estratégia.

Fiquem com o copo, e digam vocês se ele está meio cheio ou meio vazio. Qualquer que seja a escolha, podem ficar descansados porque estão certos: no futebol, o tempo prova tudo e o seu contrário. Ter razão é só uma questão de paciência.

(by Espoliado de Incheon)

«Post» confessional

Eu sei que o desporto devia ser uma escola de virtudes. Que é feio ser-se rancoroso. Que nunca na vida me passou pela cabeça vibrar com um golo de Israel. Mas pronto, aí vai: poucas coisas me dão tanto gozo como ver a França perder um jogo (ou, vá lá, sofrer um empatezito mixuruca) à beira do fim. E com o Barthez a dar barraca. São fraquezas, o que é que querem?

(by Espoliado de Incheon)

Ricardo e Quim, uma falsa polémica

Não sou grande fã das qualidades de Ricardo e acho que a sua titularidade na Selecção é tudo menos indiscutível. Agora, depois de ter assistido, esta semana, ao nascimento e à morte da falsa polémica sobre a eventual titularidade de Quim no jogo com a Eslováquia, e ao ar desapontado de muitos comentadores perante o óbvio - isto é, que Scolari não tinha qualquer razão para retirar confiança ao seu número 1 desde o primeiro dia - não posso deixar de sentir-me especialmente satisfeito com as duas excelentes defesas (em particular a primeira) com que garantiu o 1-1 em Bratislava.

Sejamos claros: tendo Scolari mantido a aposta em Ricardo contra ventos e marés, a única razão por detrás da hipotética mudança, nesta altura, tem um só nome: Benfica. É pelo facto de ter ganho a baliza da Luz, e de o Benfica estar à frente do campeonato que Quim – o «duvidoso Quim», de quem os próprios benfiquistas diziam não chegar aos calcanhares de Moreira – passou, de um momento para o outro, a ser a aposta mais segura para as redes da Selecção.

Sinceramente, não penso que Quim seja inferior a Ricardo. Acredito até que possa vir a recuperar o lugar que um dia, sem explicação aparente, António Oliveira lhe retirou em proveito do actual número 1. Mas foi bom para a Selecção – e também para o próprio Quim – que isso não tivesse acontecido agora. Como o demonstrou o Mundial-2002, e o posterior desgaste de imagem de Vítor Baía e Ricardo, a longo prazo ninguém sai a ganhar de confusões evitáveis.

(by Espoliado de Incheon)

Olhem, e agora sem mãos!

Dois jogos de castigo para Mourinho. Se bem o conheço, já está a alimentar-se desta contrariedade para aumentar a motivação. Como aqueles putos que insistem em fazer cada vez mais acrobacias com a bicicleta: primeiro sem mãos, depois sem mãos e pés, depois sem mãos, pés e de olhos vendados. Não deve estar fora do seu horizonte ganhar a Liga dos Campeões sem mãos, sem pés, de olhos vendados e a pedalar de costas, sendo obrigado a orientar a equipa a dois continentes de distância. A sério, às vezes penso que ele faz de propósito...

(by Espoliado de Incheon)

Figo na Selecção: uma questão política

Luiz Felipe Scolari iniciou ontem a campanha nacional para o regresso de Luís Figo à Selecção. Não é uma surpresa, bem pelo contrário. Numa altura em que no interior da própria FPF há sinais de que o consenso, criado de dentro para fora, em redor da imagem do seleccionador começa a ser posto em causa, é inevitável que Scolari procure aliados de peso para manter a coesão do grupo. É esse o seu principal mérito, em dois anos de permanência no cargo, e foi esse o trunfo que lhe permitiu escapar incólume aos momentos de maior pressão.

É irrelevante lembrar agora que essa pressão foi, quase sempre, criada por intervenções inábeis do próprio seleccionador. Para lá das opções discutíveis (mas qual o seleccionador que as não tem?), tenho para mim que o maior handicap de Scolari é aquilo que uma canção dos Clã designa por «Problema de expressão». A avaliar pelos resultados, com outra clareza no discurso, com menos afirmações redundantes de autoridade, menos fórmulas ocas dirigidas ao coração do «povão» e mais habilidade na defesa das suas ideias, Scolari estaria hoje virtualmente ao abrigo de facadas nas costas. Não é esse o caso, e o golo de Postiga apenas adiou a expressão pública das primeiras fissuras no edifício da FPF.

Scolari sabe-o. E sabe também que, com o esboroar da máquina de futebol montada por Mourinho - que o ajudou decisivamente na campanha do Europeu, e cuja última aparição pode bem ter acontecido em Bratislava - se torna agora mais claro que lhe faltam vozes fortes no grupo para além da sua. Com a saída simultânea de Figo, Rui Costa e Fernando Couto, o núcleo de jogadores que Scolari escolheu para fazer a campanha do Mundial não tem uma liderança evidente. Pauleta não tem personalidade de comando, Cristiano Ronaldo é demasiado novo, Deco demasiado discreto e Simão demasiado solitário. Nuno Gomes e Petit poderiam, com o tempo, ser referências, mas não são titulares. Sobra Costinha, o único com perfil de general – mas sem estatuto suficientemente forte para o exterior, até pelo facto de se ter imposto tarde na Selecção.

O apelo ao regresso de Figo, que vai prosseguir nas próximas semanas, com autores e formas diversas, é assim, antes do mais, uma questão política interna. Scolari não quer um extremo direito, quer um líder no balneário que lhe dê cobertura. Porque um grupo de jogadores com liderança diluída é mais vulnerável a interferências externas e menos capaz de manter um rumo inalterado face às contrariedades.

Resta a questão puramente desportiva, muito mais aberta a discussões de café. Pode argumentar-se com a idade de Figo, e com a idade que Figo terá daqui por 15 meses, com a sua motivação, com a necessidade de dar confiança às novas soluções, numa perspectiva de futuro. Tudo isso faz sentido, mas perde importância com uma verdade universal: o talento, se acompanhado com motivação e personalidade, não passa pelo B.I.

Falando de Figo, talento e personalidade não se discutem, resta a questão da motivação. Mas com a provável saída de Madrid no horizonte, com o início de outra etapa, talvez a última numa carreira ímpar, é natural que, já no próximo mês de Junho, Figo seja um jogador ultra-motivado com a perspectiva de um novo desafio. Sem choradinhos e sem mitos salvadores da Pátria, quem viu o jogo de Bratislava só pode ter ficado com a certeza de que há lugar para Figo nesta Selecção.

(by Espoliado de Incheon)

quarta-feira, março 30, 2005

A reter

A força aérea portuguesa está em défice perante a anti-aérea da Eslováquia.

Confesso que já tinha saudades de ouvir o grande Gabriel Alves.

(by Livre de Marcação)

Uma das grandes "chapas" do ano



(Foto de Martin Zabala/Efe)

12 Dezembro de 2004. Os adeptos do Newell's Old Boys festejam a conquista do Torneio Apertura da Argentina, depois de uma derrota frente ao Independiente (2-0). A foto ganhou o terceiro prémio de fotojornalismo do ano nos Estados Unidos.
(by El Pibe da Trafaria)

terça-feira, março 29, 2005

A propósito de meter ou não meter o pé

Até porque o rigor de expressão não é, de todo, um dos fortes do seleccionador, ainda não se percebeu bem qual o alcance exacto do recado de Scolari quanto à necessidade de os jogadores «meterem o pé» sempre que estão na selecção. Mas este alerta, populista e óbvio, tem o mérito de tornar ainda mais claro que a relação entre clubes e selecções é cada vez mais assente em interesses divergentes, ou mesmo opostos.

Enquanto os clubes, especialmente os europeus, suportam o lado industrial do futebol, as selecções remetem-nos para o lado afectivo e emocional, aquele que está mais próximo das origens da paixão por este desporto. Nenhum dos dois é dispensável: se os clubes fornecem a mão-de-obra que alimenta as selecções, poucas coisas valorizam mais um jogador do que uma presença marcante na sua equipa nacional. E, fechando o círculo, esse é um ingrediente de base para grandes transferências, essenciais para os ciclos económicos dos clubes.

Dito isto, o actual modelo europeu de qualificação para Campeonatos do Mundo e da Europa começa a parecer contraproducente, até para os que, como eu, consideram o espaço das selecções como a jóia da coroa do futebol internacional. Entre cada fase final, uma selecção de topo, como a de Portugal (ou Inglaterra, Espanha, Itália, França e mais cinco ou seis) tem mais de metade dos seus jogos oficiais diante de equipas de segundo ou terceiro plano. Percebe-se, assim, que os clubes façam contra-vapor face ao risco de as suas estrelas se lesionarem num relvado de má qualidade de Tirana, Vaduz ou Baku.

E como a qualidade dos jogos é invariavelmente má – escorregadelas como a de Portugal no Liechtenstein, há uns meses, resultam do nivelar por baixo das boas selecções e não da superação das mais fracas – nem sequer o argumento de que no desporto todos são iguais até prova em contrário começa a ser suficiente para se justificar jornadas sucessivas em que os grandes gerem esforços e somam vitórias mais ou menos sofridas diante de adversários que pouco mais fazem do que defender e esperar por um dia de sorte.

A criação de duas divisões, hierarquizadas pelos pontos conseguidos nas últimas competições, não é uma ideia nova e já foi defendida por diversos treinadores. Os menos cotados entrariam em cena mais cedo, discutindo entre si o direito de aceder à segunda fase, onde os pesos-pesados já não teriam direito ao erro. A fórmula já é aplicada, sem contestação, nas qualificações da Ásia, África e América Central. Com a pulverização da Europa pós-1989 em inúmeros países de futebol incipiente, talvez seja a altura de pensar a sério nessa hipótese. A geografia mudou, a economia também, mas o princípio permaneceu inalterado, talvez demasiado tempo. Recorrendo à matemática da escola, este parece mesmo ser um daqueles casos em que menos (jogos) por menos (desgaste inútil) dá mais (qualidade) ao futebol.

(by Espoliado de Incheon)

domingo, março 27, 2005

Guerreia, filho, guerreia... Tu gostas disso, não é filho?!

As palavras de shô Scolari antes do jogo fizeram com que se tivesse perdido o interesse em relação ao dito. Não imediatamente, mas durante. O que se viu em campo, foi muita luta e pouquíssimo futebol, claro. Muita guerra. "Quem vem à Selecção e não meter o pé, não volta mais", avisou o chefão. Meteu-se o pé, claro. E a bola não gostou, como se fosse daquelas que se vende em brinde-surpresa de 1 euro às portas de papelarias e cafés.

Bem, é o Felipão, de que estavam à espera? Se ele tivesse dito: "Queremos ganhar porque nos dá moral. E jogar bem, com combinações alinhavadas nos treinos, livres combinados e algumas surpresas... Se ganharmos melhor, se não não há problema. Há coisas mais importantes do que os golos!"... Sim, eu sei que ele nunca o diria. Mas, reitero, se o tivesse dito não seria Scolari, mas um treinador.

(Nesta fase, vão começar os insultos: "Lá estão a dizer mal do homem", "Ele disse o que tinha de dizer, os jogadores não querem fazer nenhum..." ou "Se fosse português nunca diriam isto").

Azar! O modelo que vingou na Selecção no Euro foi o de Mourinho e não o de Scolari. A desculpa de que não tinha razões para alterar o onze até à derrota inaugural com a Grécia não pega... Quantos finalistas Portugal ganhou na rota para o Europeu? Alô?

O Portugal-Canadá foi em 90/95 por cento uma perda de tempo (os jogadores não o sabiam?). Ficámos mais contentes porque provámos que conseguimos bater uma equipa onde Fernando Aguiar era titular aqui há uns anos? Conseguimos garantir que continuamos tão goleadores como nos tempos recentes dos 7-1 à Rússia ou dos 5-0 ao Luxemburgo? Provámos que Quim não é mau na baliza? Que ao lutarmos muito ganhamos sempre? Alguém duvida de que lutar muito e lutar desde cedo faz crescer? Alguém duvida de que quanto mais se corre e carrinhos se faz menos discernimento para jogar à bola se tem?

Os 5/10 por cento que faltam para que tenha sido uma perda de tempo explicam-se com o nome de Manuel Fernandes (que provou já ter maturidade para jogar nos AA) e para Postiga recuperar o sentido de baliza.


(foto: Lusa)

(by El Pibe da Trafaria)

E agora, um post sobre algo verdadeiramente importante que aconteceu no Portugal-Canadá:

Eh pá, afinal não. Falso alarme.

(by Espoliado de Incheon)

sábado, março 26, 2005

Deve haver petróleo em Gaia...

Outro dia fui ver um jogo do Dragões Sandinenses e aquilo mexeu comigo. Quer dizer, mexeu um bocadinho. Não mexeu, pronto, confesso que não mexeu, mas não conseguia evitar uma forte sensação de estar perante o Qatar do futebol português. Em versão nacional, claro, muito revista e encolhida. Uma espécie de El Dorado de jogadores que um dia ainda conseguiam correr mas que agora só querem ganhar umas coroas antes de se mentalizarem que a reforma já vem tarde.

Senão veja-se. Tem Paulo Vida, esse Batistuta da Superliga. Tem Carlos Ferreira, uma espécie de Hierro que era trinco no Salgueiros e que agora só já consegue ser libero. Tem Dyduch, que em tempos foi o Frank de Boer da Académica, ora central, ora lateral, ora trinco. Tem Figueiredo, que esteve para o Santa Clara como o Guardiola para o Barcelona. Tem Marco Freitas, o Dominguez só que em dextro, tão tecnicista que se fintava a ele próprio. E tem Damas, que um dia enganou o Sporting tão bem como Ronald de Boer enganou o Barcelona.

P.S. Ainda tem Jorge Silva, mas não me lembro de nenhum guarda-redes campeão em dois meses que algum dia tenha passado pelo Qatar.

(by O Homem a quem lhe aconteceu não sei o quê)

quinta-feira, março 24, 2005

Um subsídio que choca

Não moro em Lisboa, não trabalho em Lisboa. Mas a notícia chocou-me: o município aprovou um subsídio de 135 mil euros à Federação Portuguesa de Futebol «com vista à promoção desse importante acontecimento desportivo, de que a cidade se orgulha de receber». O importante acontecimento é a final da Taça UEFA, a 18 de Maio.

É provável que esteja a ficar velho rapidamente e por isso incapaz de perceber o alcance desta decisão, tomada por maioria, com quatro abstenções. Uma final da UEFA é algo que está promovido por natureza. Mesmo que assim não fosse, por que raio não se encarrega a CML de promover ela própria o evento? Seguramente terá técnicos mais competentes para o fazer do que a FPF. Depois, a Federação recebeu recentemente muito dinheiro da UEFA, sou capaz de me lembrar, de cabeça e sem respirar, do nome de dez organizações a quem 135 mil euros permitiram fazer muito pela cidade de Lisboa.

Ninguém se indigna com estas coisas?

(by Falso lento)

Nada a ver com futebol

Este post nada tem a ver com futebol. Queria só partilhar esta reportagem do José Bento Amaro, no «Público» de quarta-feira. É sobre Santa Filomena, na Amadora, um local onde os carteirosnão entram há dois anos. Por medo. O Zé Bento é enorme nesta área, o texto é bom, o assunto grave. Vale a pena.

(by Falso lento)

quarta-feira, março 23, 2005

Aviso: este «post» só contém evidências

Com a moral em alta pela situação de privilégio no grupo 3 e pela boa forma de alguns jogadores-chave, a Selecção Nacional tem daqui por uma semana, na Eslováquia, um jogo que pode deixá-la, com muita antecedência, às portas do Mundial-2006. Talvez seja, por isso, boa altura para lembrar evidências que, de tão óbvias, correm o risco de ser esquecidas.

A história recente de sucesso da Selecção passa, claro, pelo talento dos jogadores e pela capacidade demonstrada por Scolari para consolidar um grupo, por muito discutíveis que sejam algumas das suas opções. Mas passa também, decisivamente, pela existência de uma estrutura competente, um departamento organizado e um conjunto de pessoas que sabe trabalhar na sombra com objectivos a prazo e funções definidas. Parece fácil, mas a gestão da maioria dos clubes portugueses demonstra o contrário.

Por que é que me lembrei disto? Por nada de especial, apenas porque em Portugal, e em especial no futebol português, a memória é curta e os vícios persistentes. E, apesar de parecer muito longe, o Mundial-2002 foi há menos de três anos.

(by Espoliado de Incheon)

terça-feira, março 22, 2005

Condenados do Tribunal

A todos aqueles que duvidam da qualidade da arbitragem, eu respondo que já foi muito pior. Quem tiver dúvidas basta dar uma salto ao Tribunal de O Jogo e ver como ex-árbitros analisam as jogadas mais polémicas do clássico. O mais ridículo é que eles até têm recurso a imagens televisivas. Impressionante o salto que deu a qualidade da arbitragem!

(by O Homem a quem lhe aconteceu não sei o quê)

-O clássico! -Qual clássico? -O clássico! -Ah!!... Qual clássico?

Então é para falar do Sporting-F.C. Porto, não é? Pois, pá, não sei como dizer isto, mas a verdade é que não vi. Não, peraí, afinal vi. Vi, sim senhor! Mas não me lembro. Quer dizer, também não é bem isto, pá. Vi, e lembro-me de algumas coisas, pois lembro. Mas não muito. A verdade é esta: vi e não gostei. Desculpem, ainda não estou a ser exacto. Vi, mas foi como se não tivesse visto: foi, para ser franco, e pondo as contabilidades de parte, uma completa perda de tempo. E acho que esta é das coisas mais tristes que já escrevi sobre um clássico. Qual clássico?

(by Espoliado de Incheon)

segunda-feira, março 21, 2005

O Benfica joga o melhor futebol do país

É claro que é mentira, mas um dia destes vamos ver esta tese defendida por aí. Aquele jeito italiano de olhar para o futebol adequa-se à Superliga que temos e Trapattoni já esteve bem mais longe de conseguir o feito de não perder este campeonato. Para muitos, vai começar agora a aproximação às teses do Benfica. Já dei para esse peditório. Alguém há-de ganhar este campeonato, é inevitável, mas não me peçam para gostar.

(by Falso lento)

Uma ideia estúpida

Uma das grandes cabeças do país desportivo escreveu esta semana que uma vitória do Benfica na Superliga pode trazer mudança que se veja a Portugal. É apenas uma ideia estúpida. Mas vai ter seguidores.

(by Falso lento)

domingo, março 20, 2005

Uma questão de calendário

A «Gazzetta dello Sport», publicação desportiva italiana, escreveu que Léo Lima está nos planos do Inter de Milão. Quando li a notícia sobre o brasileiro do F.C. Porto, a minha primeira reacção foi procurar um calendário. Exactamente, um calendário. Para quê? Para confirmar se hoje era dia 1 de Abril...

(by Livre de Marcação)

quinta-feira, março 17, 2005

Abel, o dinossauro

Quem pensava e andava a jurar desde os tempos do Liverpool que Abel Xavier estava acabado como futebolista teve ontem a terceira prova (depois de Galatasaray e Hannover) de que não podia estar mais enganado. O antigo internacional ajudou a Roma a seguir em frente na Taça (Ok, teve um erro que podia ter ditado a eliminação da equipa, mas, como se diz, quem anda à chuva...)

O Abel pode falhar constantemente na escolha do cabeleireiro, mas mostra-se um dos dinossauros mais resistentes de uma geração que mudou o futebol português.


Foto: Lusa

(by El Pibe da Trafaria)

quarta-feira, março 16, 2005

Homens e rapazinhos

Afinal ainda tenho mais uma coisa a dizer sobre o Inter-F.C. Porto. E é esta: os jogos decisivos servem muitas vezes para distinguir os craques dos outros (olá, Adriano); mas servem, ainda mais claramente, para avaliar a personalidade de quem lá anda dentro.

Mais do que aquilo que renderam em campo, foi o contraste de atitudes entre Costinha, Jorge Costa e Pedro Emanuel, de um lado, e entre Diego, Hélder Postiga e Ricardo Quaresma, do outro, a recordar essa evidência. Quando, por entre os incidentes atabalhoados do jogo, os planos da realização mostravam Jorge Costa a distribuir «broncas» fumegantes à direita e à esquerda, por se sentir traído pela falta de personalidade de alguns, ou Costinha a deixar o campo por entre lágrimas, no meio do conformismo indiferente de muitos, ficou claro que os jogos decisivos fazem, antes de mais, a separação das águas entre homens feitos, que sabem o que querem da vida e rapazinhos perdidos e inconsequentes. E isto já não tem só a ver com futebol.

(by Espoliado de Incheon)

Comparar o incomparável

Depois do jogo com o Inter, devem terminar as comparações algo forçadas entre José Couceiro e José Mourinho. Os discursos são diferentes, as personalidades muito distintas e quanto a opções tácticas e leitura do jogo não há muito mais para dizer. Mourinho nunca faria uma alteração radical no sistema táctico numa partida com aquela importância nem esperaria o «tal momento» para assumir o jogo. Assumia logo e começava a fazê-lo ainda na conferência de imprensa.

Em comum os dois Josés têm apenas o nome, a geração e a cor do cabelo. Não há comparação possível. E fazê-lo é o mesmo que comparar Paulo Sérgio com Beckham. Há quem o faça, mas faltam outros argumentos que não as semelhanças capilares. Que se podem conseguir em qualquer cabeleireiro ou supermercado. As qualidades mais importantes, porém, não compram nem se imitam. São inatas.

(by Situação perfeitamente normal)

terça-feira, março 15, 2005

Um. Dois. Três

Um central, dois centrais, três centrais.
Um golo de Adriano, dois golos de Adriano, três golos de Adriano.
Uma competição perdida, duas competições perdidas, três competições perdidas (dentro de menos de um mês)
Um treinador despedido, dois treinadores despedidos, três treinadores despedidos (será?)

(by Arquero)

354ª reposição

Não gosto de me repetir. O que tinha a dizer sobre o Inter-F.C. Porto já o disse aqui, há três semanas. Se tiverem paciência vão lá ver. Se não, também não perdem grande coisa.

(by Espoliado de Incheon)

Destinos comuns

Posso escrever um sacrilégio? Aí vai: Mantorras teve uma actuação mediana no último Benfica-Gil Vicente. Agora que já está escrito deixem-me acrescentar: não tem a mínima importância. Porque Mantorras tem o dom de despertar ilusões assim que entra em campo e esse é um dos maiores valores a que um futebolista pode aspirar. Mantorras no relvado não é só Mantorras: é também, além de uma história comovente de luta contra a má sorte, a memória, ou a ilusão, daquilo que todos – adeptos do Benfica ou não - julgamos já o ter visto fazer, ou acreditamos ser-lhe possível. Por isso aquele belíssimo golo seria sempre menos belo com outra assinatura na ponta da bota.

Aí vai outro sacrilégio: Hugo não é aquele mau jogador que todos – a começar pelos sportinguistas – apontam a dedo. Mas, tal como Mantorras, quando Hugo entra em campo é algo mais a estar lá em baixo. É um passado que se cola à pele como uma tatuagem, a memória e a expectativa de um falhanço decisivo que todos intuímos estar ali à mão de semear. Por vezes acontece mesmo. Outras não. Mas Hugo e Mantorras, cada qual à sua maneira, já atingiram aquele estatuto ingrato dos cantores consagrados, ou dos cómicos geniais: basta-lhes entrar em palco, sem abrir a boca, para despertarem reacções histéricas na plateia. Às vezes dá jeito. Outras vezes é um pesadelo interminável.

(by Espoliado de Incheon)

Cartaz de espectáculos

Esta semana: Ugo2 em Alvalade, Silence 4 no Dragão, Happy Mondays na Luz.

Teorema do peladeiro em pré-reforma


Fórmula: M->(D*I)/(30+x)+ (Kg-10a)

Postulado: a probabilidade de desenvolver uma lesão muscular (M) numa pelada de segunda-feira à noite é inversamente proporcional à duração do aquecimento (D), multiplicada pela intensidade do mesmo (I), a dividir pela idade acima dos 30 anos(30 + x) e a somar aos quilos acima do peso que se tinha há dez anos (Kg-10a).

Corolário: não vale a pena fazer contas. Quem está em idade de se preocupar com estas coisas já tem a garantia, pelo menos, de uma microrrotura pelo simples facto de entrar em campo.

(by Espoliado de Incheon)

Incoerências

Não é a primeira vez que acontece; também não será a última. O caso promete mais episódios. Mais elogios. Mais palavras duras. Mais críticas. Não sabem de quem se trata? Pois bem, Jaime Pacheco. Durante os treinos é o mais severo possível com as tropas. Diz nomes feios e ridiculariza os jogadores por pequenos nadas. No final dos jogos, as palavras são sempre as mesmas e chegam ao elogio fácil. «Os meus jogadores têm sido fantásticos», disse na sala de Imprensa depois da vitória frente ao Belenenses. Jaime, em que ficamos?

(by Livre de Marcação)

segunda-feira, março 14, 2005

Hugo e o tilt

Escrevi há uns meses no Maisfutebol que uma bola nos pés de Hugo fazia "tilt". A expressão foi mesmo esta. Não esperava que agora, num jogo tão importante para o Sporting, o central me desse razão (bem, algum dia tinha de acontecer...).

Aquela escorregadela para o segundo golo do Penafiel até poderia ser acompanhado pela intensidade de Monserrat Cabballe e de Placido Domingo (risquei do libretto o Freddy Mercury) numa área de ópera na banda sonora de um DVD com as maiores broncas de sempre... Ficaria bem. O que me chateia é que ele não merece. Por ser bom profissional, por dar sempre o máximo, por que quando não é amigo dos erros é um exemplo para os companheiros.

Hugo podia lutar pelo título de jogador mais azarado do mundo. É um exagero porque Frank Sinclair foi o rei dos autogolos em Inglaterra e porque quando o Famalicão estava na I divisão morava lá um tal de Celestino. Esses dois serão difíceis de destronar no ranking. Aquele escorregar foi azar, deixem-me dizê-lo, mesmo que não seja verdade nua e crua. Mesmo que pudesse ter feito um milhar de coisas antes de sentir o pé de apoio a deslocar-se no sentido contrário à relva.

O problema de Hugo é a imagem. Toda a gente pressente que ele vai falhar mesmo antes de isso acontecer... Lembram-se de Polga em alguns momentos esta época. Foi azar, não foi?
(by El Pibe da Trafaria)

Kaká...

O melhor número 10 do futebol mundial mora no Milan. Bem, isto não é novo. Vou começar outra vez. O grande jogador dos próximos anos é treinado por um técnico mediano chamado Ancelotti. Bem, voltei a falhar. Não me interessa, vou correr o risco do plágio, dizer o que outros disseram, fazendo meu - como qualquer bom escritor de há séculos - o que os outros inventaram.

O golo de Kaká à "Samp" aumenta as fronteiras do que é um número 10. De cabeça, após cruzamento da direita, bola colocada junto ao poste. Um golo à ponta-de-lança, metros à frente de onde devia andar o habitual "fantasista" de uma equipa. Um golo à Crespo, à Shevchenko, à Tomasson, agora à Kaká. O brasileiro, a exemplo do que fazia Zidane na selecção francesa, é muitas vezes criador e finalizador. Talvez porque Rui Costa agora é compatível - tanto tempo depois Ancelotti percebeu - com o seu talento. Apesar de ser o fã número 3 ou 4 de Rui Costa (deixo os dois primeiros lugares da aficción para quem o elogia há mais tempo) e de o colocar entre os maiores das últimas duas décadas, lembro que o o Rui nunca conseguiria marcar um golo assim...

Percebo por que Mourinho sonha com ele. Percebo por que para Ancelotti é Kaká e mais dez. Percebo por que quando Ronaldinho já não jogar, toda a gente se vai virar para o "rossonero"...
(by El Pibe da Trafaria)

domingo, março 13, 2005

O Hugo é o Anselmo do futebol

O Anselmo é o sujeito que, ao ter tirado as matrículas do carro para endireitá-las, ficou sem carro porque o mandaram pelos ares por não ter matrículas.

(by Em Busca do Prejuízo Perdido)

Serviço (im)pudico de televisão

Tome-se por base as palavras com que é feita a máxima de que a RTP é o tal canal público de televisão para falar de outros «serviços» e de que forma estão a ser «prestados». E a SIC? É o quê? Ou está a tornar-se o quê? Cada vez mais o tal canal em que a necessidade de «alimentar» os propósitos (auto)propostos está a descambar no mais básico comportamento de desrespeito pelos colegas de profissão e na falta de ética profissional.

Já não espanta, tal é a frequência, a resenha diária de notícias de terceiros para fazer os telejornais do dia – a falta de respeito não é o comportamento correcto, mas, nos dias de hoje, lamentavelmente, a situação de excepção parece ser «não a ter»...

Infelizmente, como que já quase que é «normal» ver nos noticiários «deles» notícias conseguidas e trabalhadas por «outros». E a reacção já vai sendo de habituação: «Olha!... Lá está mais uma notícia que eu, hoje, já li não sei onde...»

Mas fazer um pivot cujo teleponto é um decalque ipsis verbis de um texto publicado em outro órgão de comunicação social é um bocado de mais. Extravasa em muito aquilo a que (já) nos habituaram. Não acham?

Aconteceu na passada sexta-feira na Edição da Noite da SIC Notícias na síntese de lançamento, às 23h00. A notícia foi a do rapto da mãe de Luís Fabiano; o texto foi o do Maisfutebol. Só não percebi foi como ouvi na televisão o que foi escrito por um elemento da redacção de que faço parte – a nossa interactividade ainda não chegou a esse ponto... e a voz até era um pouco mais grave do que a do autor...

Pelo menos que haja um mínimo de pudor fundido com a dose equivalente de brio, pois, isso, não faz mal a ninguém. Acreditem! É bom. A sério! Se não um pouco mais de respeito, pelo menos um pouco mais de vergonha, se fazem favor.

P.S. A SIC não detém a patente deste comportamento e bastas são as vezes em que órgãos de comunicação social utilizam para seu proveito notícias de outros órgãos sem cumprirem sequer o dever mínimo de citá-los. Mas quando se quer dar um exemplo de algo convém dar o «melhor» de todos, não é?...

(by Em Busca do Prejuízo Perdido)

sábado, março 12, 2005

Um golo comovente

Um golo de Pedro Mantorras é algo que me deixa sempre levemente comovido. Ver a felicidade de alguém que sofreu tanto é tocante. Esta noite o angolano foi titular pela primeira vez depois de muitos meses a ver os outros jogar e marcou. Ele merece, sabemos todos.

(by Falso lento)

Os erros de Couceiro

Dois erros primários de José Couceiro no terrível F.C. Porto-Nacional que terminou com uma pesada goleada para a equipa da casa:

1º Oferecer a titularidade a Luís Fabiano. O avançado vive o momento mais sensível da sua carreira, assolado por uma crise de confiança que o impede de marcar golos e mostrar por que é apelidado de «Fabuloso». Fragilizado pelo sequestro da mãe, o jogador pouco ou nada poderia oferecer à equipa. Se num quadro normal as suas exibições são confrangedoras, nestas circunstâncias específicas a sua prestação seria sempre penosa;

2º Tirar Seitaridis ao intervalo. Expôs o F.C. Porto aos mais variados contra-ataques do Nacional, que nem pensou muito: atacou quase sempre pelo lado esquerdo para explorar o vazio junto à linha. Assim, marcou dois golos. As equipas constroem-se de equilíbrio e nunca no número de jogadores ofensivos. Fez lembrar a derrota do Sporting com o Benfica nos célebres 6-3. Lembram-se quando Queiroz tirou Paulo Torres e colocou Paulo Sousa a fechar (ou a abrir) a faixa lateral esquerda? No Dragão foi mais ou menos assim...

(by Livre de Marcação)

Depende do ponto de vista...

Compañero arquero: «O Estádio do Dragão transformou-se naquele local onde ninguém gosta de entrar»? Beira Mar, Boavista, Braga e Nacional discordam categoricamente. Estoril, U. Leiria, Benfica, V. Guimarães e Rio Ave também passaram a achar-lhe alguma piada. Nem vale a pena falar de CSKA, PSG e Inter para chegar à conclusão de que, se calhar, nunca tantos gostaram de entrar no Dragão como nos últimos seis meses...

(by Espoliado de Incheon)

A casa dos horrores

O Estádio do Dragão transformou-se naquele local onde ninguém gosta de entrar, escondido ao fundo da feira, recheado de fantasmas e assombrações. Silhuetas encobertas pelo escuro, pelos próprios receios de crianças que ainda não conhecem o real sofrimento do mundo. Quem ali entrar nessas circunstâncias arrisca-se a sofrer, sem saber bem porquê, enquanto os figurantes assistem, boquiabertos, ao lento caminhar para o abismo.

A culpa não é só do menino, mas de quem lhe deu um rebuçado e não percebeu que as mãos trémulas iam deixá-lo estatelar-se no chão. Nesta corrida, que é o futebol e todas as suas emoções, não há saída sem pecado. Ou se ganha, ou se perde. E quem gostou de saborear o melhor, também tem de estar preparado para encaixar o pior, mesmo que isso implique a mudança estrutural, visceral... total.

A derrota com o Nacional foi apenas mais um episódio, talvez o mais grave, de um período de mudança, pois serviu para destapar as fragilidades vincadas numa máquina que já não sabe como ganhar. Não está tudo mal, mas muito há a mudar e não apenas com sucessivas reflexões internas, em jeito de repressão. As culpas terão de ser repartidas por todos.

Enquanto isso não acontece, ficam algumas questões:
1 - Será que em circunstâncias normais Luís Fabiano seria titular, num dia em que soube que a sua mãe foi raptada e corria risco de vida?
2 - O que levou PC a não assistir à segunda parte, quando a equipa ainda «só» perdia por 0-1?
3 - Couceiro diz que não sabe com que jogadores pode contar para o Inter. Regressam McCarthy e Maniche, enquanto Costinha parece estar lesionado. Será que a dúvida está entre duas nulidades: Quaresma ou Postiga? Ou o problema está em Diego? Pitbull, o único que conseguiu rematar à baliza do Nacional, vai continuar no banco?
4 - Alguém arrisca canditados a treinador para a próxima época?

(by Arquero)

quinta-feira, março 10, 2005

Que susto

Ver Ricardo na baliza não é boa notícia. Perdoem-me a embirração, mas aquelas três saídas em falso na primeira parte com o «Boro» foram de autêntico principiante. Indesculpável para quem é titular, não só de uma das melhores equipas nacionais, mas também da Selecção. Valeu aquela estrutura ofensiva impecável, com Pedro Barbosa e Liedson a deliciarem-se no chumbo à táctica ultrapassada dos ingleses.

Vêmo-nos na final, desde que não apareça o Villarreal pelo caminho.

P.S.: Originalmente tinha escrito isto antes daquela reacção dos vermelhinhos. Job marcou um grande golo, mas, pior ainda, Ricardo não socou a bola e acabou por chocar com Rogério, entregando-a a Riggott, que aproveitou para relançar a eliminatória. Não havia necessidade.

(by Arquero)

quarta-feira, março 09, 2005

Chelsea-Barcelona (V)

Acho que não vou conseguir explicar-me. Mas tento. Esta foi a primeira vez, assim de repente, que Mourinho não teve muito a ver com uma grande vitória da equipa que treina. Daí a alegria incontrolada no final. Ele esteve presente antes do jogo, ao escolher uma estrutura diferente, com um avançado extra, Lampard mais recuado e Makelele entregue a si próprio, como nos tempos de Madrid. Mas depois tudo aquilo acelerou de tal forma que só voltámos a reparar em Mourinho quando o alemão Huth entrou. Fazer desta uma vitória de Mourinho e uma derrota de Rijkaard parece-me um erro de perspectiva. Este jogo fugiu da mão dos criadores e andou livre, para nosso divertimento e satisfação.

(by Falso lento)

Chelsea-Barcelona (IV)

Umas horas depois do Jogo (caixa alta, claro), a RTP N serve-nos uma dose de realidade. Três senhores, um deles com uma camisola patrocinada, discutem sumaríssimos, elegem o presidente do Sporting como o melhor da semana e o líder dos árbitros como o pior. Alegro-me por as minhas filhas já estarem na cama. Percebo finalmente por que motivo estes programas vão para o ar tão tarde: o serviço público faz mal às crianças.

(by Falso lento)

Chelsea-Barcelona (III)

Depois do festim, imponho-me a dieta do Milan-Manchester United, a meias com o Eusébio do livro do Afonso. Levanto a cabeça sempre que oiço «Costa...» lá ao fundo ou o tom do comentário sobe. Pouso o livro a vinte minutos do fim e delicio-me a ver aquela forma, italiana como só ela, de liquidar um adversário. Ferguson perde sempre da mesma maneira e nunca vai perceber.

(by Falso lento)

Chelsea-Barcelona (II)

Pergunta da Joana, seis anos muito mais de bonecas: «Pai, foi a este estádio que prometeste levar-me?». Minto que sim.

(by Falso lento)

Chelsea-Barcelona (I)

Perspectiva egoísta do jogo: foi muito bom tê-lo visto com as minhas filhas ao lado. Da próxima vez que perguntarem a pergunta mais difícil («Pai, por que gostas tanto de futebol?»), responderei um sorriso confiante: «Lembram-se do Chelsea-Barcelona?»

(by Falso lento)

Haja respeito!

OK, OK, admito que um jogo destes não se perde nem se ganha com a cabeça fria. Admito até que tenha havido, entre funcionários e adeptos do Chelsea, gente que não tenha sabido merecer uma vitória tão épica. Admito mesmo, embora a contragosto, que haja quem ache piada a reduzir uma eliminatória tão imensa a erros de arbitragem (a expulsão de Drogba no primeiro jogo, o quarto golo do Chelsea no segundo, etc.). Agora dizer, como diz este senhor que aquele sublime desarme de Ricardo Carvalho na área do Chelsea, ainda com 3-2 no marcador, foi «penalty», isso já é outra coisa: é simplesmente um insulto ao futebol. Vejam e revejam: é quase tão bonito como o golo de Ronaldinho Gaúcho. Mas muito mais difícil.

(by Espoliado de Incheon)

terça-feira, março 08, 2005

Brrrrb...

Acabou o Chelsea-Barcelona... e sinto-me um puto extasiado a olhar para uma pista de carros arrancada à força da árvore de natal e dos conceitos sádicos de pais que sempre ligaram demasiado a datas e ao verde e vermelho dos semáforos. Faço um movimento infantil com os dedos nos lábios, emito um som que não consigo descrever e grito em voz alta para quem me quiser ouvir: "Thank God it´s Christmas!"
(by El Pibe da Trafaria)

Uma vida inteira

Pronto, acabou o Chelsea-Barcelona e a equipa por quem torci - e torci intensamente, como já não me acontecia há muito tempo - ganhou. Mais: ganhou um jogo épico, monumental, para a eternidade. Então por que razão me sinto vagamente triste com este desfecho?

Em primeiro lugar por Ronaldinho Gaúcho. Porque, apesar do enorme apreço que tenho por Mourinho, na minha escala de afectos o melhor jogador do Mundo continua a ser mais importante do que o melhor treinador do Mundo. Mourinho já o era antes deste jogo e continuaria a sê-lo mesmo se tivesse perdido a eliminatória, como esteve quase a acontecer. Mas o que Ronaldinho fez em Londres selou a certeza definitiva de que estamos perante o melhor de todos os que, por esse mundo fora, calçam as botas para ir lá para dentro.

Em segundo lugar pelo Barcelona. Porque poucas equipas traduzem tão bem os conceitos de jogo que mais me atraem como o «Barça» deste ano. E porque uma equipa que não se esconde em argumentos medíocres de «incompatibilidades» e consegue gerir os talentos de Ronaldinho, Deco e Xavi sem espírito de contabilista, merece ser feliz.

Em terceiro lugar porque, como escrevi ao intervalo, não gosto de finais jogadas antes do tempo. E aconteça o que acontecer nesta edição da «Champions», a final (isto é, a decisão entre os melhores) já foi jogada esta noite em Londres, quando o seu tempo certo era Maio, e o palco certo Istambul.

Em quarto e último lugar porque esgotei o meu «stock» de palavrões quando Frank Lampard transformou aquele contra-ataque de 3 para 2, no último minuto, numa mesquinha e anónima queima de tempo junto à bandeirola. Por momentos, alguns momentos apenas, senti-me traído. Depois, quando Collina apitou, senti-me outra vez feliz. Feliz mas um pouco triste, repito. Feliz por gostar de futebol. Um pouco triste porque jogos destes deviam durar mais de 90 minutos. Talvez uma vida inteira, se não fosse pedir de mais.

(by Espoliado de Incheon)

Erro de calendário

Alguém da UEFA se enganou: a final da Liga dos Campeões está a ser jogada neste momento, dois meses e meio antes do tempo, em Stamford Bridge. Bem distribuídos, estes primeiros 45 minutos davam futebol para meia dúzia de partidas e ainda nos sobravam emoções. Isto não é um jogo, é um autêntico concentrado de bola. «It doesn't get much better than this».

(by Espoliado de Incheon)

Que saudades dos dias da Rádio...

Primeiro, instaurou-se um processo (cujo carácter sumaríssimo «tende a não deixar dúvidas» sobre a necessidade/urgência «da coisa») com base em imagens televisivas. Depois, são essas mesmas imagens, cuja deficiente suficiência é várias vezes salientada numa análise a posteriori, que servem de base ao arquivamento do processo; a par com testemunhos (ou ausência deles, como «já tinha acontecido em campo») cuja utilidade maior acaba por ser atestar a inutilidade das ditas.

Sugere-se que o melhor será carregar no «off» do telecomando. A finalidade é óbvia: pára-se com «zappings» mentais que em mais não resultam do que em perda de tempo para o intelecto. O favor que nos farão é ainda mais claro, porque um acto de civilidade: poupa-se energia.

(by Em Busca do Prejuízo Perdido)

Efémeride

Passaram exactamente 71 anos, quatro meses e dezoito dias sobre o nascimento de Garrincha. Não podíamos deixar de assinalar a data. Porque todos os dias são bons para lembrar Garrincha.

(by Espoliado de Incheon)

Civis... quê?

Conta o jornal «Ás» que o presidente do Barcelona, o shôr Laporta, esteve segunda-feira na London School of Economics para dar uma conferência sobre os três valores de sempre do barcelonismo: o civismo, o catalanismo progressista e a língua catalã. Ora foi precisamente sobre o primeiro que me despertou a curiosidade. Um valor catalão acima de qualquer suspeita, obviamente. Figo era o outro homem que podia falar sobre ele.

(by O Homem a quem lhe aconteceu não sei o quê)

Estás verde, ó Campos

Ouvir o discurso de um treinador depois de uma derrota pode ser uma boa lição de psicologia. Percebe-se quem sabe perder e quem não sabe e também se percebe quem tem carácter e condições de vir a fazer uma boa carreira.

Na passada jornada, Gil Vicente e Beira Mar perderam. Ulisses Morais não hesitou em dar a cara assumindo-se como único responsável. Luís Campos, o homem que um dia chamou burros aos jogadores do Varzim, mostrou que continua fiel ao seu princípio: quando perde, a culpa nunca é dele. Desta vez, e para não variar, os culpados voltaram a ser os jogadores.

O treinador do Beira Mar, que é já um perito em «chicotadas psicológicas», ainda não entendeu que é mais fácil despedir uma equipa técnica do que um plantel inteiro. E esqueceu-se que o mercado dos treinadores nunca fecha.

(by Situação perfeitamente normal)

Aquilo cujo nome não ousamos dizer

Um susto, outra vez um susto tremendo. Por razões óbvias, atendendo ao passado recente, sempre que acontece no relvado um incidente perigoso, é impossível deixarmos de trocar olhares angustiados, receando o pior. Depois daquela noite tétrica de 25 de Janeiro de 2004 já aconteceu pelo menos três vezes: com Filipe Alvim (num Académica F.C. Porto), com Costinha (num Guimarães-F.C. Porto) e agora com Veríssimo, no V. Setúbal-Sp. Braga.

De todas as vezes a angústia, os «replays» inquietantes, a espera impaciente por notícias tranquilizadoras. A verdade é que depois de Guimarães houve uma inocência que se perdeu, dando lugar a uma espécie de complexo de culpa por aplicarmos tantas energias, sentimentos e emoções em coisas que, de um momento para o outro, parecem perder todo o significado.

Enquanto a angústia dura sentimo-nos vagamente fúteis, vagamente envergonhados, e muito concretamente assustados. Depois, quando a boa notícia chega, podemos voltar a ser miúdos fascinados com uma bola que gira e que nos ajuda a perceber o sentido em que roda o mundo. Veríssimo está bem. Alegremo-nos, irmãos. Logo à noite há Liga dos Campeões e o nosso entusiasmo, novamente sem culpas, ser-lhe-á também dedicado.

(by Espoliado de Incheon)

Curta visita do professor Marcelo

«Eusébio. Ponto final.» Assim começa e assim acaba o livro de Afonso de Melo sobre o maior fenómeno do futebol português, «Viagem em redor do planeta Eusébio» (Prime Books). Pelo meio há muitas outras palavras, todas elas certas, todas elas dispensáveis, como lembra o autor, porque Eusébio se escreve a ele mesmo e talvez não fosse preciso dizer mais nada. Mas leiam-no, ainda assim. Porque mesmo tratando de uma história conhecida é sempre importante ler um livro muito bem escrito. Aliás, todos os livros verdadeiramente bem escritos transformam histórias conhecidas numa nova história. E, acima de tudo, leiam-no porque este livro nos remete para as duas coisas verdadeiramente essenciais no futebol: memórias e glória. Ou seja: alma. Tudo o resto é acessório, e quem ainda não percebeu isto não percebe nada de futebol. Ia a escrever «da vida», mas talvez seja exagerado. Que se lixe, escrevo mesmo: da vida.

(by Espoliado de Incheon)

A ordem das coisas

Arsène Wenger, Alex Ferguson, and José Mourinho all perish in a plane crash and went to meet their maker. The supreme deity turned to Wenger and asked, tell what is important about yourself. Wenger responded that he felt that the earth was the ultimate importance and that protecting the earth's ecological system was most important. God looked to Wenger and said, "I like the way you think, come and sit at my left hand". God then asked Ferguson what he revered most. Ferguson responded that he felt people and their personal choices were most important. God responded, "I like the way you think, come and sit at my right hand". God then turned to Mourinho, who was staring at him indignantly. God asked "What is your problem Mourinho?" Mourinho responded "I think you are sitting in my chair".

(by Apanha-bolas)

segunda-feira, março 07, 2005

Assistência gratuita

Segundo fontes geralmente bem informadas, a Liga decidiu avançar com uma linha gratuita de apoio às equipas treinadas por Luís Campos. Aqui deixamos o número para os interessados: 0800 10 10 10. Repete-se, por extenso: zero oitocentos, desce, desce, desce.

(by Em Busca do Prejuízo Perdido)

domingo, março 06, 2005

Finais e outras que tais

«As finais fizeram-se para ganhar». Onde já ouvi isto? Qualquer semelhança com a realidade será pura ficção, pois esta mesmíssima frase foi utilizada por José Couceiro na sala de imprensa de Penafiel depois de uma vitória altamente emocional. O contexto é o facto do F.C. Porto ter onze finais no campeonato, blá, blá, blá, e que é preciso vencer todas elas para alcançar o título. Há quem esteja muito atento às semelhanças entre Couceiro e Mourinho e estas até já vão ao nível do plágio de discurso, o que terá sempre repercussões, como acontece normalmente às fotocópias. Para já, a equipa ainda não perdeu com o novo técnico e mantém-se na liderança, mas a barreira entre o fracasso e o sucesso continua muito ténue.

Estas finais e outras que tais trazem-me à memória os instantes derradeiros daquele jogo em Penafiel. Couceiro a tremer de nervos, quase já sem conseguir trocar ideias com o braço direito Pedro Martins; Reinaldo Teles a responder aos insultos dos adeptos; e Pinto da Costa a exultar com a vitória, como se estivesse em Viena, Tóquio, Sevilha ou Gelsenkirchen. Nesta Superliga dos desenganos, qualquer pontinho conta, mesmo para celebrar vinganças.

P.S.: O grande ausente da «magnífica» tribuna de honra do pior estádio do principal campeonato português foi António Oliveira. Preocupado com as emoções ou com a imagem que passaria para os adeptos, o futuro candidato à presidência do F.C. Porto preferiu assistir ao jogo em casa. Fica registado...

(by Arquero)

sábado, março 05, 2005

«Fast forward»

Antes de inventarem o DVD às vezes acontecia-me ir ao clube de vídeo alugar um filme que se revelava uma grande banhada. Como me fazia impressão a ideia de deitar dinheiro fora continuava a vê-lo até ao fim, sempre com o dedo no botão de «fast forward». O filme continuava a ser fraco, mas pelo menos as coisas aconteciam muito mais depressa. Não sei porquê, mas desconfio que aos 80 minutos do Estoril-Boavista alguém da Sport TV descobriu maneira de fazer a mesma coisa com o futebol.

(by Espoliado de Incheon)

«Post» ainda ensonado

Se, como defendem alguns, marcar um golo é o equivalente futebolístico a um orgasmo, pela mesma lógica a inversa também deve ser verdadeira. Por isso, como bom desportista, venho por este meio felicitar o meu vizinho do lado pelo seu «hat-trick» desta madrugada.

(by Espoliado de Incheon)

sexta-feira, março 04, 2005

O revolucionário paciente

Morreu Rinus Michels. Há uns meses, num jogo internacional visto na TV, uma daquelas panorâmicas pela bancada mostrara-nos um velhinho desgastado, a olhar para o relvado com expressão ausente. A verdade é que o senhor futebol total já cá não estava há bastante tempo.

E, no entanto, as memórias do Ajax e da selecção holandesa do Mundial de 1974 - a que venceu o Europeu de 1988 foi um epílogo justo e feliz para a sua carreira, mas sem a mesma importância histórica - merecem que se sublinhe o contexto em que surgiu a sua revolução.

Ponta-de-lança mediano (foi duas vezes campeão e chegou a internacional, mas numa altura em que a Holanda jogava taco a taco com o Luxemburgo na cauda do futebol europeu), Michels tornou-se treinador em 1960, nos amadores do JOS, e assumiu o comando do Ajax em 1965.

Na Europa iniciava-se a era do «catenaccio», com o Inter de Helenio Herrera e o Milan de Nereo Rocco a coleccionarem Taças dos Campeões. A táctica e o cinismo eram as chaves do sucesso ao mesmo tempo que em Inglaterra e na Alemanha se preparavam antídotos, à base de muito músculo, corrida, choque e coragem. Em tudo isto a bola ocupava um papel secundário.

O maior mérito de Michels foi o de ter seguido um caminho alternativo e improvável para o sucesso. Pegando num futebol de lenhadores, sem tradição de técnica ou táctica digna de registo, o «General» privilegiou o trabalho de formação, voltando a colocar a bola no centro da discussão. Mas, acima de tudo, colectivizou o talento, vendo na inteligência das movimentações em equipa a melhor forma de ultrapassar as limitações naturais de homens que não nasciam a jogar na rua ou na praia, como os latinos, nem eram compilações de quilos e centímetros, como os atléticos anglo-saxões.

O aparecimento de um fenómeno chamado Johann Cruijff deu-lhe a eficácia necessária para fazer vingar as suas ideias, porque no futebol as boas ideias precisam de resultados para sobreviver. Mas tudo o que aconteceu depois, os cinco títulos de campeão da Holanda, a Taça dos Campeões em 1971, o título espanhol em 1974, um mês antes da final perdida em Munique, com a Alemanha, e a consagração outonal, em 1988, no mesmo Olímpico de Munique onde a glória suprema lhe fugira por entre os dedos, não são o mais importante. São, apenas, o justo tributo que o futebol pagou, em prata e glória, ao homem que, com paciência e bons fundamentos, o ajudou a fugir às trevas.

(by Espoliado de Incheon)

E a polícia a dormir...

Real Madrid-Bétis. O árbitro mete os pés pelas mãos e assinala (mal) um livre indirecto a favor do Real, na grande área do Bétis. Um arrepio percorre as bancadas. Toda a gente pensa o mesmo. Quem acompanha o jogo pela TV, também. Enquanto os jogadores das duas equipas se colocam em campo, os grandes planos do realizador provam que lá em baixo, na relva, está toda a gente a pensar o mesmo: «Alguém vai tocar a bola para trás, o Roberto Carlos manda o pé às compras e rebenta com a escala». Rufam os tambores, soa o apito, alguém toca a bola para trás, o Roberto Carlos manda o pé às compras e rebenta com a escala. Um golo a 144 km/h, consumando uma infracção muito grave, mesmo para quem circula em auto-estrada.

Um dos maiores encantos do futebol é a capacidade que tem para nos surpreender. Mas nem sempre. Às vezes, um dos seus maiores encantos é a capacidade que tem para fazer acontecer exactamente aquilo que toda a gente espera.

(by Espoliado de Incheon)

quinta-feira, março 03, 2005

Em que equipa jogava Ícaro?

Voar com umas asas com penas de pássaro, coladas a cera, em direcção ao sol não é desafiar os deuses. Talvez a gravidade. A inteligência? Ou melhor, é desafiar os deuses da mesma forma que os irmãos Wright o fizeram. A diferença entre os dois mitos é que o segundo é realidade e o primeiro ficção. E não se pode dizer que Ícaro jogava na equipa dos génios...

Ao desafiar os deuses com a imitação do génio, Postiga foi feliz. O que aconteceu depois deveu-se a ter pensado que já alcançara esse estatuto. O portista chegou perto do sol e o seu alter-ego permaneceu lá em cima, deliciado a olhar para o amarelo-laranja intenso, enquanto o corpo caía dramaticamente e se estatelava como desenho animado. Bip. Bip. Até um surpreendido Narciso se desequilibrou para o lago-espelho à sua frente.

Já Vata foi um pouco diferente. Perguntem a qualquer indonésio que encontrem na rua quem ele era. Depois de uns primeiros segundos a tentarem perceber se estão a falar coreano, todos vão dizer que nunca ouviram falar. Nós os portugueses sabemos quem foi. Pelas boas e más razões. A mão que levou o Marselha ao tapete (foi muito mais rápido que Bernard Tapie, aliás) inscreveu o nome do angolano nos cadernos do futebol português.

O que está em causa não é o desafio dos deuses, mas o desafio da lei. O futebol não é uma tragédia grega, o golo não é a catarse. O castigo deve ser imediato e não por obra e graça de um homem que puxe marionetas. Aconteceu no golo com a mão de Postiga - com o repúdio por parte de adeptos e treinadores ingleses - e no de Bruno Moraes, com o assinalar da falta. É menos romântico, mas ao menos não mete deuses ao barulho. Quanto a Maradona, esqueçam tudo o que disse neste parágrafo. Aliás, como jogador foi mesmo inclassificável.

As histórias de Postiga e Vata apenas provam que a História nunca foi uma linha recta. Maradona provou no campo, frente à mesma Inglaterra, que a sua vida era um slalom gigante.

P.S. Não confundir Ícaro com Ico, antigo jogador de V. Setúbal e Boavista.
(by El Pibe da Trafaria)

«Irae Dei omnipotentis»

Sim, é verdade. O Postiga imitou o Panenka e deu-se bem. Duas vezes, que eu visse: contra a França, em sub-21, e contra a Inglaterra, no Euro. E também imitou o Diego Armando contra a Inglaterra, em sub-21 (decididamente as selecções inglesas têm vocação para serem corneadas com a mão). Mas basta vê-lo jogar (jogar?) agora para perceber que ao fazer isso desafiou forças que lhe são superiores. Apesar de tudo, nem teve muito azar: um ano de jejum goleador e inutilidade absoluta não é pena demasiado severa para quem quer brincar aos deuses. Ao Ícaro aconteceu bem pior, por exemplo. E o Vata acabou a carreira a jogar na Indonésia...

(by Espoliado de Incheon)

Nota de rodapé sobre a infâmia

A confirmação, quase quinze anos depois, de que o brasileiro Branco foi mesmo drogado por uma garrafa de água vinda do banco da Argentina, no Mundial de 1990, é uma surpresa. Mas só para quem não saiba o mínimo sobre a personalidade do ex-seleccionador argentino, Carlos Salvador Bilardo.

Antigo defesa do Estudiantes, nos anos 60, Bilardo tinha a fama de usar alfinetes
para amansar os adversários nas bolas paradas. Acabada a carreira de jogador tornou-se médico do exército, nos anos da ditadura militar, e depois técnico de futebol. As suas equipas criaram uma sólida reputação de jogo violento e militarista, mas em 1986, no México, um anjo chamado Maradona abriu-lhe as portas da glória: campeão mundial.

Honra lhe seja feita, Bilardo não mudou de estilo: ainda há uns anos, quando treinava o Sevilha, as câmaras do Canal Plus espanhol captaram-no a insultar o seu massagista, por ter assistido um adversário lesionado: «Ao inimigo nem água, ouviste? Hay que pisarlo!», gritava, possesso. Um slogan que as revelações sobre o caso-Branco tornam pelo menos irónico.

As declarações do lateral brasileiro, após a derrota do escrete foram sempre vistas como desculpas folclóricas. E depois esquecidas. Até que, em Dezembro passado, os antigos internacionais Maradona e Basualdo vieram garantir que o brasileiro tinha razão. Esta semana, Maradona voltou a reforçar a história, numa entrevista a um canal de Buenos Aires. Bilardo, que durante anos desmentira tudo, já admitiu que algo aconteceu, mas sem o seu conhecimento. Pelo meio, não fosse haver dúvidas sobre o seu carácter, ameaçou Basualdo com a divulgação de um vídeo supostamente comprometedor, de uma saída nocturna quando o médio jogava no Boca Juniors, em 1996.

A moral desta fábula pouco edificante não é uma, são duas: a primeira, obriga-nos, a partir de agora, a conceder algum crédito a todas as desculpas para uma derrota, por absurdas que sejam; a segunda diz-nos que, mesmo maquilhado com um título de campeão mundial, um canalha será sempre um canalha.

(Jorge Luis Borges, o maior escritor argentino, escreveu em 1954 um livro chamado «História Universal da Infâmia». Felizmente para Bilardo, Borges já morreu. E além disso detestava futebol. Por isso, ficou a faltar um capítulo pequenito à obra. Ou apenas uma nota de rodapé)

(by Espoliado de Incheon)

Bruno, foste apanhado (III)

O miúdo não devia ter imitado o mestre. O guarda-redes não era o Shilton, mas sim Marco Tábuas. Não há antecedentes de guerra entre Setúbal e Braga, como havia entre Inglaterra e Argentina. E Maradona tem (tinha) muito mais jeito para a coisa mesmo a jogar com a mão. Por isso, o golo aos bifes teve muito mais piada...

Mas nisto de imitar o génio, há quem se tenha dado bem. Basta lembrar o penalty picado de Postiga e as comparações com o checo Panenka. Ambos foram felizes. Ambos tiveram pitadas de classe. Aqui, o plágio valeu a pena.
(by El Pibe da Trafaria)

Aos génios o que é dos génios ou: Bruno, foste apanhado (II)

Depois de Picasso, algum pintor se atreveu a descrever os horrores da guerra num quadro? Depois do Marlon Brando, algum actor se atreveu a fazer uma cena erótica com um pacote de manteiga? Depois da Sharon Stone, alguma actriz se atreveu a cruzar as pernas «au naturel» num filme policial? Depois do dr. Manuel Monteiro, mais algum demagogo se atreveu a fundar um partido em Portugal?

A resposta a todas estas perguntas é sempre a mesma: não. Quando os génios se exprimem, mesmo que de forma ilícita, manda o bom senso que os comuns mortais não tentem imitá-los. Ouviste, Bruno? Quando ganhares um Campeonato do Mundo sozinho podes voltar a tentar sem medo do ridículo. Até lá, tem juízo, rapaz.

(by Espoliado de Incheon)

O chip (IV, aqui não há confusão)

Há aqui uma coisa que me intriga: o que o árbitro vai fazer quando o chip ou o aparelho receptor avariar? A linguagem binária deixa de funcionar. Não há um ou zero. Volta o bloqueio. Repete-se o jogo? Fica parado durante 15 minutos até que haja uma solução? Volta-se à decisão humana? Pode o jogo ser protestado depois?

Uma coisa parece garantida. Alguém vai ganhar com isto, talvez as empresas fabricantes do maldito chip. Afinal, todas as bolas têm de ter um, não é verdade?

P.S. Qualquer semelhança entre os títulos destes posts e os livros do Milo Manara é pura coincidência.
(by El Pibe da Trafaria)

quarta-feira, março 02, 2005

Bruno, foste apanhado

A última coisa que me deixou feliz num jogo de futebol foi uma decisão de um árbitro. Aconteceu esta noite, em Setúbal, quando Pedro Henriques premiou com um amarelo o golpe baixo de Bruno Moraes.

Que um jogador utilize a mão para fazer um golo é coisa de mau desportista ou de Deus, dependendo da perspectiva e da importância do jogo. Que seja apanhado a fazê-lo é ridículo e merece castigo.

(by Falso lento)

O chip (III, não é?)

A FIFA aceitou. Depois de anos de discussão, após intensas gritarias, injustiças inesquecíveis, artigos inflamados, choros compulsivos e sorrisos envergonhados, a FIFA aceitou. Vai permitir um chip (ou lá o que é) no interior da bola que, fatalmente, deixará de ser a melhor coisa do futebol. A notícia não podia ser pior.

Aliás, duvido que seja legal. A experiência será feita num Mundial de sub-17 e é no mínimo indecente usar menores para estas coisas. Mexer nas entranhas da bola pode ser o princípio do fim. Até agora sabíamos perfeitamente quem culpar. O árbitro foi inventado para isso mesmo e insultá-lo faz parte da piada da coisa. Se bem me lembro do que aprendi em Antropologia, estes momentos de libertação permitida e controlada são o garante de que o mundo continua a girar, imperfeito como só ele.

Quando a bola for um chip, ocuparemos cadeiras ligadas à net. Em vez do cachecol e da bandeirinha teremos numa mão o rato e na outra o telemóvel, será proibido comer e beber para não estragar o teclado. Assim que surgir no ecrã a informação por que ansiamos (foi golo? estava fora-de-jogo? escovou os dentes depois do almoço?), poderemos imediatamente enviar um mail a reclamar e receberemos a resposta no instante seguinte, por sms, acompanhada de um gráfico que comprova a bondade da explicação científica e a nossa ignrância. As tribunas vip serão ocupadas por espectadores nascidos com chip.

O facto de termos agora um longínquo e desconhecido engenheiro coreano, e não a mãe do árbitro, para mandar à outra banda fará a inevitável diferença na nossa vida. (Toda a gente sabe que pior do que um golo mal anulado é não conseguir ligar um computador) Perder continuará a deixar-nos tristes. Mas muito mais frustrados. Há anos que nos ensinam que as derrotas (e até os empates, como o do Porto com o Benfica...) são, salvo honrosas excepções, provocadas por árbitros. E consta que basta um espirrar na Américã. No dia em que nos erguermos, vermelhos de raiva, e um vibrante «Fora o engenheiro!» sair pela nossa boca terá chegado o fim. Parece que já esteve mais longe.

P.S.: O futebol, essa coisa conservadora e fascinante, sempre resistiu muito bem aos números, que ainda não conseguiram dominá-lo. Por exemplo: Portugal tem o campeonato mais disputado de toda a Europa, com três equipas na frente e mais duas à espreita. Mas nem por isso andamos satisfeitos, reclamamos da qualidade com a convicção dos eleitos. O F.C. Porto já não é o que era, o Benfica tem um treinador duvidoso e o Sporting seria bonzinho se não dependesse tanto de um jogador. No entanto, os números dizem-nos que são eles os melhores. Deve ser falta do chip.

(by Falso lento)

O clássico e o título...

Vi no clássico duas equipas parecidas, à procura de uma identidade. Vejo no Sporting um conjunto que costuma falhar nos momentos decisivos, apesar de todo o potencial ofensivo que tem. Lamento, mas, aconteça o que acontecer, nenhuma das equipas da Superliga merece o título.
(by El Pibe da Trafaria)

Mais um, Zé!

Mourinho adora os "mental games". Nada do que diz ou faz é inocente, mesmo que por vezes tenha um resultado diferente do desejado. O treinador do Barcelona, Frank Rijkaard, disse antes do encontro com o Espanhol que o adversário no derby era mais ofensivo e praticava um futebol mais interessante que o Chelsea.

Parabéns, Frank. Acabaste de criar o ambiente ideal para o teu Barça em Stamford Bridge. Os "blues" vão ficar loucos para te provarem o erro. E pensar que só basta um golo... Era isto que tu querias, Zé?
(by El Pibe da Trafaria)

O chip (II)

Depois de colocar on-line o último post, arrependi-me. Chegou-me, talvez por telepatia de um adepto mais preocupado, a seguinte imagem:

Um jogador prepara-se para marcar um livre directo. O árbitro aponta para o apito e acena para o quarto árbitro. Nos ecrãs gigantes aparece uma mensagem. "Se quiser que a bola vá para junto do poste direito envie a mensagem escrita 'GOLO DTA' para o número 9989, se quiser que vá para a esquerda escreva 'GOLO ESQ' e envie para o número 9990." A bola descreve um arco e vai para a esquerda do guarda-redes... que se esqueceu do telemóvel nos balneários.
(by El Pibe da Trafaria)

O chip (I)

Anda meio mundo preocupado com o chip que vão enfiar numa bola para facilitar o julgamento do árbitro em situações complicadas. Dizem que vai tirar virtudes ao futebol, etc, etc. Só que eu acho precisamente o contrário: o futebol é que vai desvirtuar o chip. E com um pontapé do Roberto Carlos...
(by El Pibe da Trafaria)

O erro fatal

Ontem estava a praticar os meus dotes de futebolista num simulador, quando o meu número 10 usou todos os seus músculos para uma carga de ombro sobre um adversário. Logo a seguir, pasme-se, o ecrã ficou azul com a seguinte mensagem:

"Foi encontrado um erro fatal no programa que estava a correr. Foi-lhe instaurado um processo sumaríssimo. Deseja reenviar esta mensagem para o fabricante?"

Como bom português que sou, cancelei. Ainda o castigo é aumentado...
(by El Pibe da Trafaria)

terça-feira, março 01, 2005

Clássico

O clássico provou um aspecto curioso. Uma coisa são as palavras inflamadas dos dirigentes para atiçar a rivalidade; outra coisa é a postura dos jogadores dentro do campo. O primeiro factor não tocou - nem ao de leve - no segundo. Mas podia ter tido consequências. Grande jogo, sem casos, sem polémicas e muito bem ajuizado por António Costa. Mas o que se passou ao longo da semana não serve de exemplo para ninguém. Os jogadores serão sempre os heróis, nunca os dirigentes...

(by Livre de Marcação)

Sporting campeão

O meu favorito à conquista do título é o Sporting. Sei que ainda faltam muitas jornadas e que tem de jogar na Luz, no Bessa e em Braga, para além de receber o Porto, mas a equipa do senhor Peseiro enche-me as medidas. Descontando Ricardo e a defesa (um pormenor obviamente relevante), tudo o resto é bonito, desde Rochemback a Liedson, passado por Hugo Viana e até Sá Pinto. Noto ali muita solidariedade, vontade de vencer e, acima de tudo, o culto do bom futebol, que o treinador tanto gosta de apregoar.

Depois de um bom F.C. Porto-Benfica, em que fiquei com a certeza que este Porto deixou de ser o campeão assustador e dificilmente conseguirá lutar pelo título ou passar aos quartos-de-final da Liga dos Campeões, percebi que em Alvalde respiram-se bons ares. E isso é sinónimo de coisas positivas, de triunfos, de conquistas. Benfica e Boavista ainda podem baralhar as contas, mas vejo no Sporting uma equipa campeã.

(by Arquero)

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