A vida é um líbero alemão
Beckenbauer, Schuster, Matthäus, Thon, Hässler. Sim, são todos alemães, mas têm outra coisa em comum: quando envelheceram e perderam pedalada passaram a jogar atrás, comandando toda a equipa a partir da posição de líbero. O maior de todos foi o velho Franz, um amigo cá da casa. Revelou-se ao Mundo no Inglaterra'66, como médio de ataque, mas só quando tranformou o acto de jogar à defesa numa coisa nobre, digna e criativa se tornou verdadeiramente imortal. A partir daí fez-se escola (não foram os alemães a inventar isto, claro, mas pragmáticos como sempre tiraram a patente à ideia) e todos os outros nomes que citei de entrada copiaram o mestre, obviamente com menos classe e sucesso.
Serve esta pequena aula de arqueologia futebolística para lançar uma dúvida: será que a vida imita o futebol alemão? Será que a partir de certa altura, quando as pernas e outras coisas nos começam a falhar, a atitude mais sensata é jogar à defesa? A saída mais digna é mesmo, com o benefício do recuo, comandar os outros com a voz autoritária de quem já não faz mas ainda se lembra como se fazia?
Quem souber que responda. Eu, que cada vez corro menos, atrás de uma bola ou de outra coisa qualquer, adoro ver jogar os bons líberos. Mas não consigo deixar de me angustiar com o momento seguinte. Aquele em que, tendo recuado tudo o que lhe era possível, o líbero acaba fora de campo, atrás da linha de fundo e dos placares publicitários, a resmungar baixinho ordens para dentro, e a reclamar a autoria moral daquele golo, daquele passe, daquele livro, daquele filme, daquela canção, daquela miúda que acabou de dobrar a esquina e nem sequer deu por nós...
(by Espoliado de Incheon)
Serve esta pequena aula de arqueologia futebolística para lançar uma dúvida: será que a vida imita o futebol alemão? Será que a partir de certa altura, quando as pernas e outras coisas nos começam a falhar, a atitude mais sensata é jogar à defesa? A saída mais digna é mesmo, com o benefício do recuo, comandar os outros com a voz autoritária de quem já não faz mas ainda se lembra como se fazia?
Quem souber que responda. Eu, que cada vez corro menos, atrás de uma bola ou de outra coisa qualquer, adoro ver jogar os bons líberos. Mas não consigo deixar de me angustiar com o momento seguinte. Aquele em que, tendo recuado tudo o que lhe era possível, o líbero acaba fora de campo, atrás da linha de fundo e dos placares publicitários, a resmungar baixinho ordens para dentro, e a reclamar a autoria moral daquele golo, daquele passe, daquele livro, daquele filme, daquela canção, daquela miúda que acabou de dobrar a esquina e nem sequer deu por nós...
(by Espoliado de Incheon)
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