A malta gosta de bola, prontos. Uma vez até fizemos um site, que se chama maisfutebol. Somos jornalistas e tudo. Mas aqui não. Diagnósticos, prognósticos e inseguranças técnico-tácticas para maisfutebol@iol.pt

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Conversa para loucos

- Sr. Nuno! Telefone!!
- Quem é?
- É o Zé!

(by O Homem a quem lhe aconteceu não sei o quê)

Recapitulando:

um ano começámos a escrever disparates por aqui. Não mudámos muito desde então.O futebol também não. O último a sair que apague a vela. Não sei por quê, parece-me que vou ser eu.

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Causa e efeito

Na primeira página do «Record» de hoje pode ler-se: «Cavaco presidente, Antchouet agride adepto». Percebo a frustração de Antchouet. Mas duvido que o adepto em causa tivesse mais culpa do que os outros 3301587 abstencionistas.

(by Espoliado de Incheon)

terça-feira, janeiro 17, 2006

A verdade é que...

... por imperativos de serviço (o que faz de mim uma pessoa respeitável e não mais um adolescente tardio a espremer borbulhas para cima da colecção de cromos) ando há semanas a viver no futebol dos anos 60 e 70. E não tenho grande vontade de sair de lá.

(by Espoliado de Incheon)

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Lamento

Já ninguém se lembra do Tahamata, o holandês-malaio-anão que partia as pernas aos adversários à força de dribles e vudu, uma espécie de Zé Dominguez que deu certo após dez minutos de microondas: vi-o acabar com a carreira do Freitas, nas Antas, em 1981, jogando pelo Standard de Liège, numa equipa que também tinha um jovem Preud'homme na baliza, provando-se assim que houve um tempo em que Preud'homme foi jovem, e ainda um barbudo Gerets a lateral-direito (e ainda hoje acho que todos os laterais-direitos deviam ser obrigados a usar barba, ou pelo menos um bigode à Gabriel Pietra) e era treinado por Raymond Goethals, alcunhado de Elvis Presley pelos seus jogadores, por causa da poupa pintada de castanho, um belga jarreta que trocava o nome dos adversários e dos seus, marca de estilo mais tarde copiada por Artur Jorge, quando ainda tinha bigode à Gabriel Pietra mas já não podia jogar, nem mesmo a lateral-direito, e que quando era seleccionador chamava Laureta ao Pauleta, o que é muito bem feito para os dois, porque quem aceita ficar conhecido o resto da vida por uma alcunha que rima com perneta, corneta e outras coisas acabadas em «eta» dificilmente pode ser levado a sério, mesmo que venha a tornar-se o melhor marcador da história da selecção, ultrapassando um Eusébio que, sendo o maior dos maiores, e tendo feito milagres semana sim semana sim com uma bola nos pés, que eu saiba nunca partiu a perna a qualquer adversário, nem com dribles nem com vudu, talvez por não ser indonésio, ou malaio, ou sumatrense e não ter um nome tão assustador como Tahamata, que se não tivesse sido extremo no Ajax, no Standard e no Feyenoord seria, com toda a certeza, imediato do Sandokan e dos seus tigres de Mompracem, embora tivesse uma classe natural incomparavelmente superior à do canastrão do Kabir Bedi, que fazia um Sandokan a falar italiano mas besuntava os lábios com baton para o cieiro e punha rimel nas pestanas e tinha posters a meio-corpo nos barbeiros da minha infância, entre o Bruce Lee e o Charles Bronson, e eu achava que quando o episódio do Sandokan acabava ele ia mostrar a pilinha à Mariana, talvez por não ter nada de mais interessante para fazer, talvez por saber que nunca seria capaz de partir pernas a adversários com dribles e vudu, como o seu ajudante de campo Tahamata, que quando não andava à trolha com os navios ingleses do James Brooke se entretinha a driblar adversários pela lateral, e talvez o Freitas não tivesse televisão, ou talvez não visse os episódios do Sandokan, porque nem desconfiou quando o Tahamata passou por ele a primeira vez, depois a segunda, depois a terceira, e o Freitas a perder peças, a perna a ficar para trás, depois para a frente, depois para o lado, o corpo a mostrar-lhe caminhos que a perna já não podia seguir, e o Tahamata, agarrado às cordas do veleiro, a driblar com o punhal entre os dentes, de lá para cá, de cá para lá e eu a ver tudo, na Superior Norte, a pensar que nunca na vida ia esquecer o Tahamata e o Sandokan e, acima de tudo, o olhar meigo da Mariana, a quem, estou certo, no silêncio conformado dos ajudantes leais, o Tahamata dedicava dribles e pernas partidas da mesma forma que os toureiros dedicam faenas e orelhas cortadas às Verónicas desta vida.

Já ninguém se lembra do Tahamata e eu tenho pena.

(by Espoliado de Incheon)

segunda-feira, janeiro 02, 2006

Palavra do Senhor

Título alternativo: «como isto poderia ter sido o nosso estatuto editorial se tivéssemos encontrado o texto há mais tempo»

«(...)Desde já discordo de quem, concordando comigo, sustenta que o futebol era muito mais bonito no passado. Ao contrário de nós mortais, que éramos todos mais bonitos no passado, os craques do passado são ainda melhores hoje. Penduraram as chuteiras, mas na permanente edição da nossa memória vão produzindo novos lances memoráveis. Posso vê-los sempre de uniforme, uniformes diferentes uns dos outros, num vestiário com o teto cheio de chuteiras penduradas. Reúnem-se em torno do técnico, ouvem a preleção em silêncio, mas não prestam muita atenção. Dispensam alongamentos, entram em campo e já começam a jogar. Não dão entrevistas. Não fazem cera, não atrasam a bola, não cobram lateral, não ficam na barreira, faz cada qual o que lhe dá na telha. E no entanto exibem um belo conjunto, mantendo-se invictos há anos e anos, mesmo porque contra eles não há quem se atreva a jogar(...)»

Chico Buarque, in «O Globo», 14 de Junho de 1998

Quem quiser ler o resto pode clicar aqui e procurar em «artigos» o que tem por título «com os meus botões»

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