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terça-feira, março 15, 2005

Destinos comuns

Posso escrever um sacrilégio? Aí vai: Mantorras teve uma actuação mediana no último Benfica-Gil Vicente. Agora que já está escrito deixem-me acrescentar: não tem a mínima importância. Porque Mantorras tem o dom de despertar ilusões assim que entra em campo e esse é um dos maiores valores a que um futebolista pode aspirar. Mantorras no relvado não é só Mantorras: é também, além de uma história comovente de luta contra a má sorte, a memória, ou a ilusão, daquilo que todos – adeptos do Benfica ou não - julgamos já o ter visto fazer, ou acreditamos ser-lhe possível. Por isso aquele belíssimo golo seria sempre menos belo com outra assinatura na ponta da bota.

Aí vai outro sacrilégio: Hugo não é aquele mau jogador que todos – a começar pelos sportinguistas – apontam a dedo. Mas, tal como Mantorras, quando Hugo entra em campo é algo mais a estar lá em baixo. É um passado que se cola à pele como uma tatuagem, a memória e a expectativa de um falhanço decisivo que todos intuímos estar ali à mão de semear. Por vezes acontece mesmo. Outras não. Mas Hugo e Mantorras, cada qual à sua maneira, já atingiram aquele estatuto ingrato dos cantores consagrados, ou dos cómicos geniais: basta-lhes entrar em palco, sem abrir a boca, para despertarem reacções histéricas na plateia. Às vezes dá jeito. Outras vezes é um pesadelo interminável.

(by Espoliado de Incheon)

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