O revolucionário paciente
Morreu Rinus Michels. Há uns meses, num jogo internacional visto na TV, uma daquelas panorâmicas pela bancada mostrara-nos um velhinho desgastado, a olhar para o relvado com expressão ausente. A verdade é que o senhor futebol total já cá não estava há bastante tempo.
E, no entanto, as memórias do Ajax e da selecção holandesa do Mundial de 1974 - a que venceu o Europeu de 1988 foi um epílogo justo e feliz para a sua carreira, mas sem a mesma importância histórica - merecem que se sublinhe o contexto em que surgiu a sua revolução.
Ponta-de-lança mediano (foi duas vezes campeão e chegou a internacional, mas numa altura em que a Holanda jogava taco a taco com o Luxemburgo na cauda do futebol europeu), Michels tornou-se treinador em 1960, nos amadores do JOS, e assumiu o comando do Ajax em 1965.
Na Europa iniciava-se a era do «catenaccio», com o Inter de Helenio Herrera e o Milan de Nereo Rocco a coleccionarem Taças dos Campeões. A táctica e o cinismo eram as chaves do sucesso ao mesmo tempo que em Inglaterra e na Alemanha se preparavam antídotos, à base de muito músculo, corrida, choque e coragem. Em tudo isto a bola ocupava um papel secundário.
O maior mérito de Michels foi o de ter seguido um caminho alternativo e improvável para o sucesso. Pegando num futebol de lenhadores, sem tradição de técnica ou táctica digna de registo, o «General» privilegiou o trabalho de formação, voltando a colocar a bola no centro da discussão. Mas, acima de tudo, colectivizou o talento, vendo na inteligência das movimentações em equipa a melhor forma de ultrapassar as limitações naturais de homens que não nasciam a jogar na rua ou na praia, como os latinos, nem eram compilações de quilos e centímetros, como os atléticos anglo-saxões.
O aparecimento de um fenómeno chamado Johann Cruijff deu-lhe a eficácia necessária para fazer vingar as suas ideias, porque no futebol as boas ideias precisam de resultados para sobreviver. Mas tudo o que aconteceu depois, os cinco títulos de campeão da Holanda, a Taça dos Campeões em 1971, o título espanhol em 1974, um mês antes da final perdida em Munique, com a Alemanha, e a consagração outonal, em 1988, no mesmo Olímpico de Munique onde a glória suprema lhe fugira por entre os dedos, não são o mais importante. São, apenas, o justo tributo que o futebol pagou, em prata e glória, ao homem que, com paciência e bons fundamentos, o ajudou a fugir às trevas.
(by Espoliado de Incheon)
E, no entanto, as memórias do Ajax e da selecção holandesa do Mundial de 1974 - a que venceu o Europeu de 1988 foi um epílogo justo e feliz para a sua carreira, mas sem a mesma importância histórica - merecem que se sublinhe o contexto em que surgiu a sua revolução.
Ponta-de-lança mediano (foi duas vezes campeão e chegou a internacional, mas numa altura em que a Holanda jogava taco a taco com o Luxemburgo na cauda do futebol europeu), Michels tornou-se treinador em 1960, nos amadores do JOS, e assumiu o comando do Ajax em 1965.
Na Europa iniciava-se a era do «catenaccio», com o Inter de Helenio Herrera e o Milan de Nereo Rocco a coleccionarem Taças dos Campeões. A táctica e o cinismo eram as chaves do sucesso ao mesmo tempo que em Inglaterra e na Alemanha se preparavam antídotos, à base de muito músculo, corrida, choque e coragem. Em tudo isto a bola ocupava um papel secundário.
O maior mérito de Michels foi o de ter seguido um caminho alternativo e improvável para o sucesso. Pegando num futebol de lenhadores, sem tradição de técnica ou táctica digna de registo, o «General» privilegiou o trabalho de formação, voltando a colocar a bola no centro da discussão. Mas, acima de tudo, colectivizou o talento, vendo na inteligência das movimentações em equipa a melhor forma de ultrapassar as limitações naturais de homens que não nasciam a jogar na rua ou na praia, como os latinos, nem eram compilações de quilos e centímetros, como os atléticos anglo-saxões.
O aparecimento de um fenómeno chamado Johann Cruijff deu-lhe a eficácia necessária para fazer vingar as suas ideias, porque no futebol as boas ideias precisam de resultados para sobreviver. Mas tudo o que aconteceu depois, os cinco títulos de campeão da Holanda, a Taça dos Campeões em 1971, o título espanhol em 1974, um mês antes da final perdida em Munique, com a Alemanha, e a consagração outonal, em 1988, no mesmo Olímpico de Munique onde a glória suprema lhe fugira por entre os dedos, não são o mais importante. São, apenas, o justo tributo que o futebol pagou, em prata e glória, ao homem que, com paciência e bons fundamentos, o ajudou a fugir às trevas.
(by Espoliado de Incheon)
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