A malta gosta de bola, prontos. Uma vez até fizemos um site, que se chama maisfutebol. Somos jornalistas e tudo. Mas aqui não. Diagnósticos, prognósticos e inseguranças técnico-tácticas para maisfutebol@iol.pt

quinta-feira, junho 30, 2005

Tentativa de resposta à dúvida existencial precedente:

Eh, pá: eu se fosse argentino estava um bocado preocupado com isso. Mas como não sou e gosto é de ver a bola a mexer, não me preocupo nada: se der certo, é muito, muito bom e a Argentina dá show de bola. Se não der, é muito provável que, como aconteceu ontem, um bom adversário aproveite aquele meio-campo estilo passador e dê show de bola por sua vez. Por isso, deixem lá jogar o Riquelme. E o Aimar. E o Saviola. E o Tevez. E o Lucho. De uma maneira ou de outra estamos sempre garantidos...

(by Espoliado de Incheon)

quarta-feira, junho 29, 2005

Desculpem lá, eu não queria incomodar, mas tenho uma dúvida existencial

Será que se pode considerar candidato ao título uma selecção (Argentina) que tem um jogador (Riquelme) que só corre quando tem a bola nos pés?

P.S. Devo referir que acho o Riquelme um regalo para os olhos (ou antes, o futebol do Riquelme), embora possa não parecer, e que me passei com a segunda parte que fez frente à Alemanha ao lado do Aimar...

(by O Homem a quem lhe aconteceu não sei o quê)

segunda-feira, junho 27, 2005

Trapattoni quer Karadas...

... E o Estugarda oferece dois milhões de euros pelo noruguês.

Bem, a confirmar-se a notícia a Velha Raposa começa a arriscar tornar-se o homem que mais fez pelo Benfica desde os tempos do Eusébio.

(by O Homem a quem lhe aconteceu não sei o quê)

Como eu vinguei Armando Gama com um balázio de pé esquerdo no estádio da Luz

Recuem no tempo até 1983. Imaginem a plateia do Carnegie Hall. Algures na 4ª fila, à espera de que o Frank Sinatra acabe o concerto, Armando Gama espreita a oportunidade. A orquestra embrulha os restos de «New York, New York», o público aplaude, levanta-se e sai. Armando não. Armando espera, esconde-se entre as cadeiras, evita as rondas dos seguranças, dilui-se no escuro. 40 minutos depois, a aberta: pela socapa, já com as luzes apagadas e os microfones desligados Armando consegue chegar ao palco, e perante o olhar atónito dos seguranças, senta-se ao piano a tocar «Adoro Chopin, adoro Chopin».

Está feliz. Por uma fracção de segundo pensa que, com um pouco de sorte, o Frank (o bom e velho Frank) até pode vir espreitar à porta do camarim («Hey Johnny, check out who's that portuguese guy, he sounds great») quem sabe até talvez convidá-lo para um copo de whisky, trocar umas piadas entre profissionais e números de telefone, ensaiar os primeiros compassos de «Beautiful, beautiful this ballad I give you», talvez o título do próximo álbum do Frankie, disponível para refrescar o reportório com o contributo do «my very good friend Are-mahn-du».

Será este o princípio de uma bela amizade? pergunta-se Armando enquanto os seguranças, firmes mas correctos, o agarram por debaixo dos braços e o conduzem para a saída. Como James Cagney em White Heat, tem vontade de gritar «Made it, ma! Top of the world!» antes de rebentar com o reservatório de combustível. Mas murmura apenas, perante os acenos compassivos e preocupados dos homens que o escoltam: «Adoro Chopin, adoro Chopin».

Agora avancem no tempo até 2005 e ao estádio da Luz. Vêem aquele ali ao fundo? Sou eu. Eu a pousar o saco, eu a tirar as botas do saco, a equipar-me, no mesmo balneário onde os gregos fizeram História. Eu a sair para o relvado pelas portas deslizantes do túnel. Eu a cheirar a erva cortada, a olhar para as bancadas vazias. (Felizmente vazias, que o ridículo mata, mas o ridículo sem testemunhas mata menos um bocadinho e naquela manhã não havia testemunhas, apenas cúmplices). Sou eu a correr, a respirar fundo, a tocar a bola a intervalos regulares, a encher o pé e a fazer História, - ou pelo menos a fazer a minha pequena história - na mesma baliza onde o Postiga traumatizou o James para o resto da vida.

Sim, eu também já marquei um golo no relvado principal da Luz - rói-te de inveja, David Beckham! - e tenho testemunhas disso. Não, não fui arrastado para a saída pelos seguranças, e também não tive a sorte de o Rui Costa vir espreitar o meu toque de bola e mudar-me a vida de um momento para o outro. Mas quando o jogo acabou e voltei para o vestiário dei por mim a assobiar baixinho «Adoro Chopin, adoro Chopin».

Armando Gama, meu semelhante, meu irmão, aqui te faço uma jura. Se algum dia eu voltar a jogar na Luz, desta vez com bancadas cheias, prometo-te que vais actuar no círculo central, antes do pontapé de saída, com o teu piano branco. Lá do alto, o Frank há-de estar a ver e, quem sabe, a lamentar a oportunidade perdida naquela noite no Carnegie Hall. E não me agradeças: nós, os medíocres de todos os ramos da vida, temos de ser uns para os outros.

(by Espoliado de Incheon)

quinta-feira, junho 23, 2005

Tempos difíceis

É nesta altura que tudo se complica: as botas ficam penduradas a um canto, a relva seca, as bolas murcham e os únicos acessórios que ganham vitalidade são as gravatas, cada vez mais falantes, cada vez mais inteiriçadas. E nós a fingir que o que se ouve é importante. E nós, disfarçando um bocejo, a simular interesse pelos representantes, pelos advogados, pelos directores desportivos, pelas renovações de contratos, pelos conselheiros e delegados e observadores e porta-vozes.

Pior ainda. Os clubes transformados em passadeira rolante para negociatas de fundos de jogadores. Os empresários transformados em testas-de-ferro de lavandarias de dinheiro. Os treinadores em silêncio, ou a fazer de conta de que sim senhor, aqueles jogadores até vinham mesmo a calhar. Os adeptos a fazer de conta de que sim senhor, estão prontos a acolher o craque no lado esquerdo do peito e no cofre-forte das memórias sagradas, assim ele o permita.

O melhor, mesmo, para quem puder, é fazer uma cura de desintoxicação de pseudo-notícias. E, quando os astros se conjugarem, procurar um relvado com sombra, calçar as chuteiras e ir lá para dentro. Para, assim que a bola saltar por nossa culpa, lembrarmos a principal - a única? - razão de gostarmos tanto disto.

(by Espoliado de Incheon)

segunda-feira, junho 20, 2005

Nós e os árbitros

Esta segunda-feira à tarde juntaram para aí uns vinte jornalistas de desporto na mesma sala (e não era uma redacção). Aconteceu na posse da nova direcção do CNID, mas nem o aspecto solene do acto impediu alguns dos presentes de resolver logo ali os problemas da arbitragem, entre um rissol, um croquete e uma daquelas coisas com sal que fazem mal (ou bem, nunca percebo) ao colesterol.

O segredo para isto dos árbitros funcionar é não deixar o sector da arbitragem entregue a ex-árbitros. Como é óbvio.

Depois segue-se a prática moderna e contrata-se uma empresa externa para escolher os árbitros, em cada jornada.

Para que tudo seja mais eficaz, opta-se por uma companhia norte-americana. Afinal, quanto menos perceberem de futebol melhor.

Em seguida a empresa recebe os currículos dos árbitros e envia observadores (de preferência antigos agentes da CIA) a todos os jogos. Os dados, recolhidos através de questionários de cruzinha, são posteriormente colocados num potente computador que todas as terças-feiras dita as nomações.

Porque estamos na União Europeia, o banco de árbitros será alargado aos 25 países. Não é justo privar um árbitro holandês da experiência única que é apitar um jogo no Marco ou em Gondomar.

A empresa não terá sede ou conta num paraíso fiscal.

O telefone do administrador da empresa não será divulgado.

Os árbitros receberão a nomeação por sms, tal como os jornalistas e todos os portugueses que quiserem saber em primeira mão o nome do juíz que vai dirigir o jogo da sua equipa. Basta subscrever um serviço, cuja receita servirá para pagar à empresa norte-americana.

Se nada disto resultar, chamem o major.

P.S.: Na sala também havia jornalistas de desporto em perfeitas condições. Não julguem que estamos todos afectados. Ou que passamos os dias a falar de árbitros.

(by Falso lento)

Sorteio de árbitros?

É impressão minha ou todos os dirigentes do futebol português sofrem do mesmo problema que a Dory, o fantástico peixe azul e amarelo que acompanha Marlin na demanda pelo filho Nemo. E não é por abrirem e fecharem a boca muito depressa quando estão fora de água! Será por nadarem em círculos e não se lembrarem que já passaram por ali?
(by El Pibe da Trafaria)

domingo, junho 19, 2005

Alguém tem alguma ideia...

... de como vai ser a equipa do F.C. Porto na próxima época? O onze base? Os avançados? Os médios? Os defesas? O sistema táctico?

Acho que nem Adriaanse!
(by El Pibe da Trafaria)

O novo Ronaldinho

Tirei o som à televisão. Estou farto de ouvir que o Anderson, que vai jogar no F.C. Porto, é o novo Ronaldinho. Esta mania de catalogar jogadores com o talento de outros é quase tão arrepiante como ouvir o "Gaby" dizer que o golo do Adriano à Tunísia, depois de um grande remate de fora da área, é "à ponta-de-lança".

A história está cheia de exemplos de futebolistas que não fizeram jus ao rótulo. Os tempos são outros: ser um novo Pelé ou Maradona não seria fácil no seu tempo e é quase impossível agora. Ser o novo Ronaldinho, apesar da conjuntura parecer mais favorável, nunca será para todos os que se dizem seus sucessores. Muitos até não o querem ser. E têm esse direito. Qualquer dia estamos a clonar craques antigos porque não conseguimos viver sem eles e não conseguimos compreender que existam outros. Ou então, deixamos de ir aos estádios e passamos a ficar a jogar em casa o excelente Pro Evolution Soccer, que já nos permite contratar Marcos van Basten, Maradonas e Pelés para os tempos modernos.

Dizer aos 17 anos a Anderson que é o novo Ronaldinho é complicar-lhe a vida. É dizer-lhe que tem de fazer o que o Ronaldinho faz: parar uma bola com as costas, driblar oito adversários, marcar golos de todos os ângulos. Numa altura em que o miúdo, que vai viver o próximo ano ainda na companhia da mãe e do irmão, se encontra perante um novo mundo, pode ser o princípio do fim.

E isto levanta algumas dúvidas: quantos novos Figos vão surgir em Portugal nas próximas décadas; será Robinho tão ofuscante quanto Pelé; Riquelme ainda terá tempo para evoluir até ser o novo Maradona; Mantorras será tão grande quanto Eusébio; Ronaldo será ainda mais assustador que Figo; será Ibrahimovic melhor que Van Nistelrooij que por sua vez será melhor que Van Basten? Uff, há por aí um copo de água?
(by El Pibe da Trafaria)

O dez-composto

Estou a começar a apreciar a RTP Memória, sobretudo a partir das 0h00. Ontem, tive a oportunidade de rever uma das grandes derrotas de Johann Cruijff enquanto treinador. De um lado, o Milan de Fabio Capello. Do outro, o Barcelona do mítico holandês (e de Ronald Koeman, novo treinador do Benfica). As duas equipas encontravam-se para a final da Liga dos Campeões de 1993/94.

Lembram-se do resultado? Os italianos venceram por 4-0, com um bis oportuno de Massaro, um chapéu redondo de Savicevic e uma declaração de potência muscular de Desailly. Fiquei satisfeito por ter voltado a ver em acção o 4x2x3x1 dos "rossoneri", em que o tridente formado por Boban, Savicevic e Donadoni era implacável no ataque.

Fabio Capello podia contar com um dez-composto, um cérebro com dois hemisférios: o direito, mais táctico, que preenchia os espaços, reconhecia o terreno, visualizava mentalmente as jogadas e estabelecia os ritmos da equipa (Boban); o esquerdo, mais operacional, que sobressaía pela habilidade, e pela matemática, geometria e lógica nos passes (Savicevic). Juntos, eram o 10 perfeito, apesar de ser o montenegrino a trazê-lo nas costas. Juntos, faziam o hoje treinador da Juventus o homem mais feliz da Europa.

Depois, havia Donadoni. Um médio destro, que libertava espaços do poder do adversário, ganhando os flancos. À esquerda, à direita. Até ao momento de oferecer o golo ao ponta-de-lança. Atrás, a tranquilidade de Maldini e Albertini, e a força de Desailly. À frente, Massaro aproveitava as lesões de Jean-Pierre Papin e Marco van Basten como poucos. Mas a verdadeira razão do sucesso da equipa da Lombardia estava na junção dos dois jugoslavos. Uma conclusão que espero ser tão proeminente como o nariz de Tassotti, o primeiro a beijar a taça de 1994.
(by El Pibe da Trafaria)

sábado, junho 18, 2005

A Cova da Moura e o futebol

Assim de repente, o futebol (e a música, talvez) é o único sector onde os imigrantes de segunda gerção conseguem integrar-se e chegar a figuras de primeiro plano. Eles sabem de bola, gostam, muitos têm talento de sobra. Exemplos não faltam.

Claro que isto não significa, como sabemos, que o racismo fique à porta dos estádios. Bem pelo contrário, apesar de algumas posições enérgicas da UEFA (infelizmente não seguidas em Portugal, por Liga e Federação).

Nunca dei por um jogador ser prejudicado por ter nascido na Cova da Moura. Pelo contrário, o futebol sempre se deu bem com os que nascem do lado errado da vida.

Até por isso, não estranhei que tivesse sido um campo de futebol o local escolhido para simbolizar a paz que a Cova da Moura (e os outros bairros que assustam - e se assustam - Lisboa) reclama: de um lado uma equipa de polícias, da outra jogadores que moram no bairro. Jorge Sampaio deu o pontapé de saída.

Infelizmente, a vida é mais imperfeita do que um jogo de futebol. E amanhã será um novo dia, já sem jornalistas, com polícias sem calções e sapatilhas e o presidente longe.

(by Falso lento)

Nós, os outros

Em França nasceu um importante projecto. Chama-se Agoravox (http://www.agoravox.fr/) e dá aos leitores a possibilidade de serem jornalistas ou pelo menos algo parecido, afinal são eles que escrevem as notícias. Nos Estados Unidos discute-se intensamente o jornalismo participativo. Uma das principais figuras do movimento é Dan Gillmor, cujo livro «Nós, os Media» recomendo (aos jornalistas e aos que não nos suportam).

Numa altura em que o jornalismo de desporto atravessa uma grave crise em Portugal, cercado pela necessidade de vender, pela pequenez do país e pela ausência de vergonha dos clubes maiores, é lamentável a pouca qualidade da intervenção da generalidade dos adeptos-consumidores de informação desportiva.

Ao longo de cinco intensos anos, só precisaria dos dedos das mãos para contar os comentários de leitores do Maisfutebol que tive prazer em aprovar.

A julgar pelo que escrevem, os adeptos de futebol em Portugal são ainda mais fracos do que os dirigentes. Enfim, sou capaz de estar a exagerar. Os dirigentes são mesmo fraquinhos.

(by Falso lento)

sexta-feira, junho 17, 2005

Boa, Valentim

Valentim Loureiro prometeu que desta vez vai (mesmo) embora. Mesmo que o «piquem».

Seria indecente dizer que só por o presidente da Liga mudar o futebol português irá melhorar.

Afirmá-lo seria defender que o único problema era o major. Nada mais injusto.

No entanto, o adeus de Valentim Loureiro não deixa de ser uma extraordinária notícia, capaz de encher de alegria os verdadeitos adeptos do futebol.

Com ele na Liga, tudo continuaria como já sabemos.

Sem ele pelo menos existe a esperança. Ou lá o que é.

(by Falso lento)

quinta-feira, junho 16, 2005

Uma estória de Verão

Funciona mais ou menos assim, nos dias maus.
É preciso encher uma das páginas do jornal com noticiário de um clube.
É preciso descobrir o nome do ponta-de-lança do clube maior.
Ninguém se abre.
Viaja-se pela net.
Dá-se preferência ao país do novo treinador.
Escolhem-se dois nomes.
Embrulha-se o cenário. Sem um facto.
Depois é preciso fazer a primeira página.
O cenário passa a manchete.
No dia seguinte o jornal aparece na televisão que precisa de ter informação a toda a hora.
No dia a seguir ao dia seguinte, um empresário, o próprio jogador, um director desportivo, a mãe, o pai, o primo ou o canário dizem que seria uma honra.
No dia seguinte ao dia seguinte do dia seguinte, o próprio jogador, outro director desportivo, a avó, o bisavô ou o periquito desmentem.
E entretanto passaram três difíceis dias de Verão.

(by Falso lento)

O melhor não-golo da história

1970, 7 de Junho. Guadalajara, México. Primeiros minutos de um Brasil-Inglaterra, a contar ainda para a primeira fase do Mundial. Ex-campeão do mundo contra campeão do mundo em título. Tese e antítese. Yin e Yang. Que se atraem e repelem. Movimento contínuo entre dois pólos. Negativo e positivo. O fabuloso Jairzinho corre pela direita, ameaçando as anti-aéreas britânicas. Olha e vê Pelé. Pelé olha e vê Jairzinho. O cruzamento sai poeticamente perfeito, limpo, sem espinhas, fazendo ângulo de 90 graus com o círculo de cal que marca o penalty. Um inglês salta, Pelé fica bem mais perto dos deuses. Pára no ar. Sente-se o poder do semi-deus, as nuvens podiam queixar-se em trovões que ninguém ficaria surpreendido. O movimento dos bracos do "rei" prepara a fatalidade, a catarse.

O coro já canta a tragédia, quando a cabeça coroada do 10 brasileiro traz a bola ainda mais para baixo, até bater na relva à frente do guarda-redes inglês. Morde-se a palavra gol como se fosse algo colocado na nossa boca para resistir à tortura. Gordon Banks voa, ninguém acredita. Os resultados e soluções encontram-se com equações e algoritmos, e no campo não há quem tenha tempo ou cabeça para os fazer. O inglês suspende-se no ar. E mergulha. Para o lado direito. A mão direita viaja em colher, em raquete. A bola. A mão. Tocam-se. Banks cai e o golo transforma-se no seu negativo, na continuidade. Até a trave parece surpreendida quando o couro lhe passa por cima. A perfeição.

Pode uma jogada que não seja feliz tornar-se maior do que todas as outras? Um guarda-redes provou-o. Se é à perfeição que a humanidade aspira, nada houve mais perfeito sobre a relva. Mas o futebol é injusto. Ninguém consegue pôr no mesmo patamar os golos de Carlos Alberto, Maradona e esta defesa de Banks. Porque o jogo não admite que tudo seja perfeito. Para que uns sejam melhores, outros devem ser piores. Para que um seja feliz, outro tem de ser infeliz. Talvez os deuses tenham conspirado para o que aconteceu depois. Em 1972, um acidente de automóvel atirou Banks para fora dos relvados. Com um profundo corte na zona do olho. Tentou voltar em 1973, mas já não era o mesmo. Enfim, a vida não é perfeita. Mas nunca devia castigar os audazes.

(by El Pibe da Trafaria)

quinta-feira, junho 09, 2005

TÁ-RÁ-TÁ-TÁ-TÁ-TÁ-RÁ-TÁAAAAAAAA...(BUUUM!)

Agora foi o Roberto Carlos a mandar o pé às compras e a metê-la na gaveta com a violência gratuita dos filmes do Tom e Jerry. Aquela bola a entrar a 200 kms/h no ângulo da Argentina é o equivalente à bigorna de 16 toneladas a cair nos dedinhos dos pés do gato mauzão no mesmo momento em que lhe rebenta nas mãos uma carga de dinamite e um bastão de basebol lhe faz estilhaçar os dentes. Nós rimo-nos porque sabemos que, de tão exagerado, nada daquilo pode ser verdade.

Com este já são dois golaços em pouco mais de uma hora. Para não me fazerem gastar a corneta em sucessivos toques de alvorada, o melhor é fazerem como eu e não dormirem mesmo. Até porque nunca gostei de contemplar monumentos sozinho.

(by Espoliado de Incheon)

TÁ-RÁ-TÁ-TÁ-TÁ-TÁ-RÁ-TÁAAAAAAAA

TOCA A ACORDÁAAARI!! São 2.17 da matina e o Riquelme acaba de inventar um monumento para o segundo da Argentina contra o Brasil. Um monumento, digo bem. E não ficaria em paz com a minha consciência se não desse o toque de alvorada a tempo de verem pelo menos uma ou duas repetições. Nada que agradecer, estamos cá para isto mesmo.

(by Espoliado de Incheon)

terça-feira, junho 07, 2005

Parece mas não é (2)

... Se bem que, depois do título conquistado por Trapattoni (que chegou à Luz com 65 anos), a aposta em Roux (66) pudesse ser uma excelente forma de preparar a entrada triunfal de Bobby Robson (72, and counting). Infelizmente, a NOS já anunciou que Ronald Koeman, esse puto imberbe de 42 aninhos, assina esta quarta, provocando assim um profundo desgosto em todos aqueles que ainda se comovem quando se deparam com a 521ª reposição do «Cocoon» na TV.

(by Espoliado de Incheon)

Parece mas não é

Esclarecimento aos leitores: os dois «posts» imediatamente abaixo deste não têm qualquer relação entre si. Em momento algum este blog insinuou ou pretendeu insinuar que Guy Roux poderia ser mais um candidato a treinador do Benfica. Até porque o ex-treinador do Auxerre é um homem de prazos alargados e, mesmo com toda a boa vontade do mundo, não consigo imaginá-lo a trabalhar na Luz durante outros 44 anos.

(by Espoliado de Incheon)

Ó Vieira, hoje ainda não almocei

Olha mais três nomes para treinador do Benfica: Claudio Raneiri, Jacques Santini e Bobby Robson. Depois liga a dizer onde marcaste mesa, tá? Um abraço.

(by O Homem a quem lhe aconteceu não sei o quê

segunda-feira, junho 06, 2005

Quantos 90 minutos cabem em 16 mil dias?

Chegou a uma terreola igual a milhares de outras e pegou num clube de vão de escada. Em 1961, com apenas 22 anos iniciou o paciente percurso de uma vida. Foi subindo os degraus, um a um, formando talentos, ganhando jogos, superando objectivos. IV divisão, III divisão, II divisão, I divisão, provas europeias, Taça de França, campeonato de França... Aos 66 anos, depois de ganhar mais uma Taça, a quarta, Guy Roux fez as contas e correu os taipais: 44 anos, 528 meses, mais de 16 mil dias a construir um castelo de cartas, gesto a gesto, pausa a pausa, num mundo cada vez mais apressado.

Falei duas vezes com ele, sempre contactos fugidios e a contra-relógio. Não posso, por isso, dizer que o treinador do Auxerre tenha deixado em mim qualquer impressão além do que é superficial e imediato. Mas há percursos e carreiras que estão muito para além das nossas insignificantes impressões. Aliás, há percursos e carreiras que recomendam apenas a expressão do mais profundo respeito. E, logo depois, o mais prudente silêncio . Por isso, lamentando não usar chapéu para poder tirá-lo nestas circunstâncias, prudentemente calo-me.

(by Espoliado de Incheon)

domingo, junho 05, 2005

Se eu fosse eslovaco...

...estava com azar porque não sei falar eslovaco. Se eu fosse eslovaco e jogador de futebol, estava com muito azar porque, não falando eslovaco, não me entendia com o treinador. Se eu fosse eslovaco, jogador de futebol e mesmo não falando eslovaco chegasse à selecção, estava com um azar do caraças. Se eu fosse eslovaco, jogador de futebol, chegasse à selecção e viesse jogar à Luz estava com um azar tão grande que começava a considerar a hipótese de ingressar na IURD. Agora se eu fosse eslovaco, jogador de futebol, chegasse à selecção, viesse jogar à Luz e o treinador me explicasse - por gestos, como não falo eslovaco - que ia marcar o Cristiano Ronaldo, porra, eu juro por tudo que pegava numa «bazooka» e não me responsabilizava pelo resto.

(by Espoliado de Incheon)

sexta-feira, junho 03, 2005

Só vantagens

Segundo «A Bola», uma das vantagens do novo cartão de sócio do Benfica é a possibilidade de ir ao McDonald's e ter um «menu normal pelo preço de um menu grande». Deduzo, portanto, que o prometido desconto de 15% seja na taxa de colesterol.

(by Espoliado de Incheon)

quinta-feira, junho 02, 2005

O melhor golo de todos os tempos

Não é um, são dois. E nesses dois golos - o de Maradona à Inglaterra, em 1986, e o de Carlos Alberto à Itália, em 1970 - moram, em versão condensada, todas as nuances da cultura ocidental desde a Odisseia, pelo menos. Mais: as atitudes perante esses golos definem a personalidade de quem os vê, com mais precisão e rigor do que qualquer questionário de Proust, qualquer grelha de posicionamento político, qualquer teste de Rorschach.

A insolência individualista de Maradona subverteu as leis da geometria e descobriu que o caminho mais curto entre dois pontos é uma sucessão de ziguezagues. E demonstrou também que um inglês bom é um inglês sentado. À parte isso, foi uma das mais absolutas manifestações do génio humano que os últimos 20 anos nos deram, e neste «uma das» abro caminho para dois ou três filmes, um ou dois livros e um ou nenhum CD.

O golo de Carlos Alberto é outra coisa. É a utopia passada a letra de forma, a demonstração prática do que poderia ser uma sociedade perfeita em acção, a liberdade, igualdade e fraternidade em tons de verde, amarelo e azul, a distribuição da terra a quem a trabalha, parcela a parcela, numa lógica irrecusável que mistura justiça, moral, produtividade e busca do lucro em doses iguais.

Seguem-se seis parágrafos perfeitamente dispensáveis para quem viu esse golo recentemente ou para quem tem o bom senso de não gostar de descrições hiperbólicas e exaltadas. A conclusão está a seguir ao itálico, podem fazer forward para lá.

(Dos onze jogadores brasileiros dessa final do Azteca apenas dois não tocam na bola. O guarda-redes Félix, cuja farda azul lhe reserva um papel de polícia distante, tornado inútil pela força revolucionária das circunstâncias e o central Brito, cujo nome de funcionário público desaconselha o mergulho na lenda.

De resto, tudo começa numa recuperação defensiva do ponta-de-lança Tostão, no lado esquerdo da defesa canarinha. O toque ligeiro sobre um italiano dá sentido ao carrinho de Everaldo, cujo esforço permite a Tostão o toque tranquilo para o central Piazza. A partir daqui, estabelecidas as bases da revolução, é altura de construir.

Piazza dá a Clodoaldo, um trinco que nunca o foi. Pelé entra na cena para dar um toque curto para Gérson, que devolve a Clodoaldo. Com a equipa equilibrada, o médio decide introduzir um pouco de humor rodopiando e trocando as pernas sobre quatro italianos. Para quê? Para o mesmo que as pessoas usam o humor nas suas vidas: para ganhar tempo, para enfrentar as injustiças da vida, para preparar o futuro.

O futuro, neste caso, é um passe para Rivelino, na lateral-esquerda, sobre a linha do meio campo. E aqui o absurdo traz-nos o grão de loucura necessário para todas as histórias felizes: trinta metros à frente, Jairzinho espera, colado à linha do mesmo lado. Que o extremo-direito espere tranquilamente pela bola, no ponto oposto ao das suas obrigações e da lógica, eis o que desencadeia o desequilíbrio definitivo na conservadora Itália: Jairzinho começa a correr em paralelo à linha da grande área, até encontrar Pelé, um pouco antes da meia-lua. Tostão faz um movimento para o interior, arrastando a marcação de Rosato e Facchetti. E pela cratera aberta com a mudança de flanco de Jairzinho e a simulação de Tostão entra, a todo o vapor, a última personagem desta história: o lateral direito Carlos Alberto, que o início do filme apanha junto à grande área do Brasil, a passo, com a indolência de quem rói uma maçã e que agora acelera em direcção à história.

Pelé trava o movimento, faz suspender o tempo com a arrogância dos imortais e solta-lhe uma bola que de tão lenta e perfeita transporta toda a sabedoria do mundo. Carlos Alberto beneficia de um pequeno ressalto num tufo de relva, uma fracção de segundo antes do contacto: a bola sobe o suficiente para ser agredida no ponto G, aquele que a solta com a força e a precisão desenhada nas estrelas, e que só muito de vez em quando os melhores jogadores conseguem encontrar.

As redes abanam, Carlos Alberto prossegue a corrida para trás da baliza de Albertosi, trava o passo, abre os braços para o céu e grita, marcando bem as consoantes: «Pppputtttta qqque pppppariu!». E nenhum outro comentário poderia ilustrar melhor o que realmente aconteceu naqueles 39 segundos de epifania e comunhão com o Absoluto)


Entre o génio solitário de Maradona, a construir uma catedral em movimento com a perna esquerda, e a perfeição sorridente e sábia do colectivo canarinho a desmontar o status quo a golpes alternados de lógica e absurdo, competência e arte, rigor e fantasia está tudo aquilo a que aspiramos durante uma vida. E aquilo que somos define-se pela escolha que fazemos entre um e outro caminho, sempre que nos põem a bola nos pés.

Mesmo falhando – e falhamos quase sempre – esta nunca é uma opção inocente: diz-me como jogas, dir-te-ei quem és. Para mim é fácil e instintivo catalogar as pessoas com quem me cruzo nestas duas categorias, maradonistas e albertianos. Só não sei dizer-vos qual destes dois é o melhor golo de todos os tempos. Mas tenho esperança de saber a resposta antes de morrer.

(by Espoliado de Incheon)

Não me lixem com o Rachão

Toda a gente viu que foi o Luís Lourenço quem dirigiu o Vitória de Setúbal na final da Taça. Ou será que fui o único a reparar que ele tinha no bolso do fato o gorro do Rui Faria e olhava contantemente para trás em busca dos recados do Silvino?! De tanto conviver com Mourinho, para escrever o livro do treinador do Chelsea, o homem da SAD do Vitória só mandava o Rachão dar pulos nos golos para disfarçar. Mas na prática a Taça é dele. E do Mourinho, claro, que nunca engoliu bem o golo do Fyssas, no ano passado. Se na próxima época os do Sado chegarem às meias-finais da Taça UEFA, por favor não me lixem com o Norton de Matos.

(by Falso lento)

quarta-feira, junho 01, 2005

O olho azul do velho (?!) Trap

O olho azul do Trapattoni brilha que se farta, quando visto de perto. Se chegar aos 66 anos e alguém quiser oferecer-me um olhar assim, faça favor. Está provado, ganhar faz muito bem à saúde.

(by Falso lento)

Eu juro...

...solenemente que nunca deixarei as minhas filhas sentarem-se à mesma mesa de Gilberto Madail e Sebastião, o Lobo do marketing da Federação. Infelizmente, nada posso fazer em relação à criança que tinha uma camisola da selecção vestida no momento em que escapou ao tsunami, lá longe. Mas tenho muita pena. O aproveitamento da fraqueza alheia é aviltante. Que vergonha, que insensibilidade, que nojo. A FPF tem todo o direito de ajudar quem quiser, mas esta promoção da bondade, de tão programada e plastificada, é vazia e chocante. Deixem respirar o Martunis, por favor.

(by Falso lento)

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