A BBC do nosso contentamento
No Euro 2004 olhávamos para o lado e sorríamos: eles tinham tudo. Um imenso camião para personalizar a emissão, mais uns carritos. Um toldo, uma mesa e umas cadeiras para suportar o calor português. Um senhor que só fazia tostas mistas e servia cervejas. Uma senhora que passava a roupa a ferro. E, claro, na BBC estavam alguns dos nossos ídolos que entretanto tinham passado de jogadores a comentadores.
Às vezes íamos ver os jogos para o que sobrava do toldo deles. Foi o mais perto que estive de trabalhar na BBC (uma vez em Glasgow também utilizei um microfone deles, mas era BBC Escócia, enfim).
Entre os comentadores estava o Gary Lineker. Aliás, era o pivot. O jogo acabava e ele, mais dois ou três só em camisa, descontraídos, explicavam tudo. Sempre com imagens, sempre com aquela economia de palavras que só o inglês permite. Era tão bom que irritava. Tão simples.
Dei por mim a pensar exactamente isso ao ver o documentário de José Mourinho, apresentado por Gary Lineker e produzido pela BBC. O irritante é que não há ali nada de particularmente novo, nenhuma ideia especialmente brilhante, nenhum ângulo surpreendente (a não ser talvez ter conseguido pôr Vale e Azevedo a falar, ele que supostamente estava proibido de se aproximar de um microfone). É bom, muito bem feito, «só» isso.
As peças estão todas no local certo. Eles falaram com as pessoas correctas (enfim, podiam ter detalhado um pouco mais os anos em Portugal...), tinham as melhores imagens (resulta sempre muito bem rever as pessoas com menos 10, 15 anos), os «figurantes» diziam apenas o essencial, a entrevista com Mourinho (ele ajuda muito...) excelente.
Depois de recolhido o material, a montagem é o momento em que tudo pode falhar. Com a BBC nunca falha. Os vivos escolhidos tinham sempre a dimensão certa, não faltava a musiquinha, Mourinho aparecia e desaparecia com subtileza e propriedade. E depois havia Lineker. Fez todas as perguntas. Sempre no tom certo, entrando no momento exacto, com o sentido de oportunidade que o transformou num dos maiores goleadores da história do futebol inglês. A pergunta «Alguma vez teve falta de confiança?» foi a minha preferida, pela forma como Lineker a fez, parecendo por um instante encontrar uma brecha, uma sombra de dúvida, na história de Mourinho.
Num ambiente assim, o treinador do Chelsea falou de tudo e mais alguma coisa. Fui ver aos jornais e parece que o documentário teve 45 minutos, mais coisa menos coisa. Para mim foi como beber um copo de água numa tarde de Verão. Perfeito.
(by Falso lento)
Às vezes íamos ver os jogos para o que sobrava do toldo deles. Foi o mais perto que estive de trabalhar na BBC (uma vez em Glasgow também utilizei um microfone deles, mas era BBC Escócia, enfim).
Entre os comentadores estava o Gary Lineker. Aliás, era o pivot. O jogo acabava e ele, mais dois ou três só em camisa, descontraídos, explicavam tudo. Sempre com imagens, sempre com aquela economia de palavras que só o inglês permite. Era tão bom que irritava. Tão simples.
Dei por mim a pensar exactamente isso ao ver o documentário de José Mourinho, apresentado por Gary Lineker e produzido pela BBC. O irritante é que não há ali nada de particularmente novo, nenhuma ideia especialmente brilhante, nenhum ângulo surpreendente (a não ser talvez ter conseguido pôr Vale e Azevedo a falar, ele que supostamente estava proibido de se aproximar de um microfone). É bom, muito bem feito, «só» isso.
As peças estão todas no local certo. Eles falaram com as pessoas correctas (enfim, podiam ter detalhado um pouco mais os anos em Portugal...), tinham as melhores imagens (resulta sempre muito bem rever as pessoas com menos 10, 15 anos), os «figurantes» diziam apenas o essencial, a entrevista com Mourinho (ele ajuda muito...) excelente.
Depois de recolhido o material, a montagem é o momento em que tudo pode falhar. Com a BBC nunca falha. Os vivos escolhidos tinham sempre a dimensão certa, não faltava a musiquinha, Mourinho aparecia e desaparecia com subtileza e propriedade. E depois havia Lineker. Fez todas as perguntas. Sempre no tom certo, entrando no momento exacto, com o sentido de oportunidade que o transformou num dos maiores goleadores da história do futebol inglês. A pergunta «Alguma vez teve falta de confiança?» foi a minha preferida, pela forma como Lineker a fez, parecendo por um instante encontrar uma brecha, uma sombra de dúvida, na história de Mourinho.
Num ambiente assim, o treinador do Chelsea falou de tudo e mais alguma coisa. Fui ver aos jornais e parece que o documentário teve 45 minutos, mais coisa menos coisa. Para mim foi como beber um copo de água numa tarde de Verão. Perfeito.
(by Falso lento)
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