A malta gosta de bola, prontos. Uma vez até fizemos um site, que se chama maisfutebol. Somos jornalistas e tudo. Mas aqui não. Diagnósticos, prognósticos e inseguranças técnico-tácticas para maisfutebol@iol.pt

segunda-feira, janeiro 31, 2005

Cinco razões para o F.C. Porto estar como está (...ou cinco passos de um ciclo vicioso)

O F.C. Porto está em crise porque

1) Não tem política desportiva, compra ao desbarato
(Leo Lima para o lugar de Carlos Alberto, Leandro para o de Rossato, Pitbull para o de Derlei - o plantel tinha melhores soluções do que agora parece ter, apesar de se reconhecer talento nos reforços);

2) Fernández não contraria a "política desportiva" e põe os novos a jogar
(As sucessivas mudanças criam instabilidade no grupo e o treinador espanhol não serve de factor de equilíbrio entre novos e velhos. Ao não dar aos reforços um "estágio" antes da estreia, Fernández dá a entender aos mais antigos que o seu tempo no onze já era);

3) O treinador ainda não percebeu o que quer fazer da equipa
(Talvez devido à constante entrada e saída de jogadores, Victor Fernández continua a fazer muitas alterações. Para uma equipa que ainda não está perto dos 80/90 por cento do seu potencial, isso é um risco enorme);

4) A equipa joga em explosões de individualismo
(Com novos elementos em cada encontro, o jogador portista não tem rotinas criadas com a maior parte dos companheiros. Como, sobretudo em casa, a pressão é maior, está obrigado a tentar decidir tudo sozinho. Por vezes resulta, na maior parte dos casos não);

5) Há pressão a mais no Dragão
(Os adeptos do F.C. Porto estavam habituados a ganhar por causa de Mourinho. Este ano, a fasquia estava demasiado alta. A pressão sobre quem ficou também. As derrotas geram derrotas, a intranquilidade gera intranquilidade, o sobressalto faz com que se regresse ao mercado para tentar voltar a equilibrar o plantel). Seguir para o ponto 1

(by El Pibe da Trafaria)

Assis, um bom 9 e meio

Não podia ter desejado melhor estreia. Titularidade, um golo, palavras elogiosas do treinador. Nuno Assis colocou bem alta a fasquia no primeiro jogo com a camisola do Benfica e agora tudo o que fizer tem de andar próximo do encontro de Guimarães. Tem talento para isso, mas sabe que um passo em falso pode custar-lhe o estado de graça perante os exigentes adeptos encarnados.

Quem pensa que Nuno Assis é um tradicional número 10 está enganado. No limite, trata-se de um nove e meio, nem avançado-centro nem fantasista, para lembrar esse epíteto atribuído em Itália a quem tem mais talento que os outros e faz jogar em redor de si a própria equipa, como Rui Costa.

Para nove e meio, o ex-vimaranense nem está nada mal. Marca os seus golos, não é egoísta à frente da baliza e tem pulmão para correr pelos pedaços de relva onde as duas espécies - o 10 e o 9 - costumam saborear o seu jogo. Talvez por isso tenha sido uma boa ideia. Talvez por isso e pelo talento que não se pode negar-lhe, pode vingar na Luz. Mas ele sabe que terá de resistir às ondas e às paixões dos quatro anéis do novo estádio. E sabe também que quanto maior for a responsabilidade maior será o risco de desiludir.

(by El Pibe da Trafaria)

Lobo Antunes, o treinador ideal

Li recentemente uma entrevista do eterno quase-Nobel António Lobo Antunes. Aviso já que sou fã, que devorei "A Morte de Carlos Gardel" e o "Não Entres tão Depressa nessa Noite Escura", fechando cada livro com cuidado não fosse desassossegar o génio que vive naquelas páginas. Mas não é por isso que escrevo. Escrevo porque uma frase despertou-me para o que já vi tantas vezes por esses estádios. Era mais ou menos assim: "Como não tenho talento, tive de trabalhar muito".

O que tem isto que ver com o futebol? Tudo. Fez com que lembrasse a infância, ou melhor os inícios da adolescência, já que acordei tarde para o jogo da bola. Fez com que lembrasse como passei das galochas à chuva, tratando o cautchú com pés-de-tijolo, para a suavidade dos ténis de pano, com dribles bonitos, trabalhados a partir das jogadas da TV ou de VHS alugados no videoclube. Lembra-me que se nasci com talento para o couro a culpa de não se perceber não era das galochas. Era minha. Tive de trabalhar o meu talento. Primeiro, plagiando. Depois, criando.

Lembro-me que era um zero com o pé esquerdo com as galochas calçadas, avançando a toques de direita como se fosse a galope de um cavalo invisível. Lembro-me do treinador a perguntar-me anos depois, após o primeiro treino: "És canhoto? Não? E fintas com o pé esquerdo?". Lembro-me de marcar grandes golos assim, de treinar pontapés de bicicleta e cabeceamentos de cima para baixo, de inventar fintas com o calcanhar. Hoje, corro mas não saio do mesmo sítio. Hoje, sei que trabalhei o meu talento e esqueci-me de emagrecer.

Assusta-me encontrar falhanços que a ansiedade por si não explica. Jogadores que nunca dominaram a bola ou marcaram golos com o pé esquerdo, que nunca festejaram golos de cabeça. Jogadores que nasceram assim, mas que nunca quiseram ser melhores do que são. Perdoa-lhes, António! Eles não sabem o que fazem. Talvez se tu fosses treinador...

(by El Pibe da Trafaria)

sexta-feira, janeiro 28, 2005

Não há fome que não dê em fartura? Isso queria eu!

Na passada quarta-feira à noite empanturrei-me com um delicioso bacalhau com todos. Foi do melhor, excelente, como há muito não comia um. Foi comer até fartar. Mais tarde pensei que houve um bocadinho de gula; que não foi normal... Talvez. Mas não fez mal algum - só acontece de vez em quando (de 10 em 10 anos...). Estava a saber mesmo bem. E nunca mais acabava. E só acabou quando não havia mais - nem espinhas, pois o gato também é gente. Depois desta pratada, por incrível que pareça, ainda tive estômago para rematar a faustosa comesaina lusitana com um par de scones e um chazinho – genuínos, do outro lado do canal. Caiu a preceito (mas só entrou porque trazia garantia de qualidade). Confesso, a única coisa que ainda podia caber.

O que chateia é que na generalidade das semanas costuma ser ao contrário: sou «obrigado» a enfardar uma pratada de rosbife para saciar a fome (sempre fui um rapaz de muito apetite...) e é só então, quando já comi o suficiente de todas as refeições, que chega a vez da aguardente de medronho, se bem que quase sempre rasca (com rótulo do Algarve, mas fabricada em Marrocos) - e eu que nem aprecio muito carne mal passada, mas rosbife é assim que se come... e depois de terem descoberto a mostarda de Dijon, agora até já o temperam todas as semanas com umas folhas de louro, que acaba por dar um travo bem português...

Mas não é a mesma coisa. O ideal era o bacalhau uma vez, o cozido outra, a galinha de cabidela, os rojões, as açordas, as alheiras, etc., etc.... O peixe e batatas fritas, o esparguete carbonara, a lasanha, a paelha deveriam servir para intercalar o calendário gastronómico; não para o dominarem - o estômago português, volta-e-meia, queixa-se disso. E como bom português que gosta de grandes almoçaradas e jantaradas, digam lá se não seria bom comer até não poder mais, na tal volta-e-meia, a discutir com os nossos companheiros de empreitada «Então? O que é que vamos deitar abaixo hoje? Começamos por um queijinho de Serpa?...»
(by Em Busca do Prejuízo Perdido)

quinta-feira, janeiro 27, 2005

Ronaldo, porque é diferente

Sim, o Chelsea! Fiquei colado à televisão para a segunda parte do diferido da RTP, apesar de já conhecer o resultado, os marcadores e a forma como os golos aconteceram. Mesmo assim quis ver até ao fim, jogada a jogada, falhanço a falhanço, defesa a defesa. Se não soubesse o resultado, já partiria para o jogo com a certeza de que Mourinho (não o Chelsea) venceria. Porque sim.

Mas não foi o jogo em si que me deixou agarrado ao ecrã. Do primeiro ao último minuto da segunda parte, descobri um Ronaldo mais maduro que os restantes companheiros de equipa. Um Ronaldo que sabia o tempo exacto em que tinha de assumir a bola ou passá-la, que descia à sua área para ajudar, ganhar bolas, recuperar. Mérito de Ferguson, claro, que o soube gerir. Que o tem na conta exacta do seu talento.

Agora sim, estou convencido (como se ainda tivesse dúvidas...). Ronaldo vai ser mesmo o melhor do mundo!

(by El Pibe da Trafaria)

Voltei a acreditar em treinadores

José Mourinho devolveu-me a crença de que os treinadores fazem sentido e são mesmo necessários. Quer dizer, alguém tem de mandar, mas os últimos tempos só acrescentaram argumentos à tese que elaborei (a palavra não é a melhor) aos treze anos.

À falta de mais conhecimentos, parti da experiência própria. Apesar de todo o meu valor e de nunca faltar aos treinos, o mister (juro, era assim) passou o ano a levar-me com ele para o banco. O meu pai dizia-me que isso era sinal de que gostava muito de mim, queria-me sempre ali perto. A minha mãe ficava toda contente, assim não apanhava tanta chuva.

Infelizmente para a equipa era muito mais grave: ele não percebia nada daquilo.

A tese confirmou-se no fim da época.

Jogo decisivo, o lateral direito titular estava fraco nas aulas, os pais obrigaram-no a ficar em casa. Joguei eu. Fui o melhor num campo pelado, inclinado. Fiz um corte de bicicleta a impedir um contra-ataque do adversário, coisa que nunca vi repetida, e subi no terreno quando ainda apenas o Kaltz e o Gabriel tentavam. Conclusão: os pais do tipo que faltava às aulas percebiam mais de bola do que o treinador e quiseram dar-me a titularidade.

No ano seguinte fui sempre titular, no meio-campo. No terceiro ano da história passei a adjunto. No quarto assumi a equipa, no quinto achei que não tinha nascido para aquilo e fui para a faculdade.

Andei convencido de que os treinadores são apenas razoáveis suportes de bigode e mesmo assim têm dias.

Sempre sorri ao ler descritas nos jornais as grandes jogadas tácticas, as substituições miraculosas, convencido de que tudo tinha uma razão escolar por detrás. Provavelmente o jogador pedia para sair mais cedo para ir estudar ou simplesmente fugia ao descobrir os pais no estádio. Os jornalistas é que não percebiam.

Até que chegou Mourinho. Assim de repente, não me lembro de o ter visto resolver um jogo no banco. Até pode ter acontecido, numa altura em que ele encenava fúrias para despertar a equipa. Mas não está provado.

Ele é um treinador que resolve tudo antes de os jogos começarem. Estou até convencido de que resolve as coisas logo no princípio da temporada. Aliás, deve estar perto de ser corrido do Chelsea por colocar em risco a célebre competitividade do futebol inglês. A pobre, desempregada, emigrou para o sol e está há seis meses em Portugal, o único sítio onde Mourinho não trabalhará nos próximos anos.

Mourinho é um treinador que resolve tudo por antecipação. Deve dar-se muito bem com os directores das escolas de Londres. Nunca vi um dos seus jogadores sair apressado para estudar.

Depois destes anos todos, Mourinho conseguiu finalmente provar a teoria da minha mãe: se estudares e estiveres bem na escola vais ver que tudo sai melhor no futebol. E eu voltei a acreditar em treinadores.

by Falso lento

Alguns adeptos não merecem um Benfica-Sporting assim

O Benfica-Sporting de quarta-feira foi provavelmente o segundo melhor «derby» de que me lembro.

É uma afirmação que não vale muito, só vejo futebol há 25 anos, mas é a minha opinião.

O primeiro da lista terminou 6-3, para o Benfica, e decidiu um campeonato numa noite de chuva (não vi o «7-1», mas não pode ter sido melhor, são necessárias duas equipas para um jogo grande).

O de quarta-feira foi emocionante, pleno, capaz de nos fazer sentir bem no dia seguinte. A nós, os que gostamos de futebol antes de qualquer camisola, jogador, treinador ou dirigente.

Infelizmente, o grau de discussão à volta de um jogo assim, memorável na exacta dimensão da palavra, é baixo.

Muitos adeptos, de Benfica e Sporting, passaram o dia seguinte a discutir casos. A expulsão de Hugo Viana, a simulação de João Pereira e mais um sem número de coisas verdadeiras ridículas face à grandeza de um jogo como aquele.

Em Portugal o jogo é sofrível e as pessoas queixam-se com justiça da qualidade do espectáculo. No dia em que lhes é permitido observar um Benfica-Sporting como poucos, que fazem? Elegem o árbitro como referência.

No fundo, embora isto possa custar-me leitores e muitos comentários insultuosos, alguns adeptos não merecem grandes jogos. Porque simplesmente não sabem identificar um quando o vêem. Estão demasiado condicionados por anos e anos de discussão estéril que só serviu para perpetuar maus dirigentes e meia dúzia de treinadores incompetentes.

O Benfica ganhou nos penalties? Quero lá saber.

Para quem gosta de futebol, venceram duas equipas, dignas, repletas de jogadores em noite inspirada.

Quem gosta de futebol reterá na memória o golo de Paíto, o remate de Simão, a astúcia de Liedson, a entrega de Sá Pinto, o sentido de oportunidade de Geovanni, a luta constante de Petit.

Na quarta-feira à noite, depois de mais de duas horas de um jogo perfeito, por acaso uma das equipas seguiu em frente na Taça. Mas não é disso que vou lembrar-me daqui por uns anos.

(by Falso lento)

Olha que chatice!

Mais uma vitória para o Chelski. Mas sem o dinheiro do russo ficava à vista de toda a gente que o homem não passa de um bazófias, todo embrulhado em parlapié de engana-tolos e em fatos Hugo Boss. Com um clube daqueles, com jogadores daqueles, qualquer um ganha, até o Ranieri. Bom, pensando melhor, o Ranieri não. Mas, se o homem é assim tão bom como dizem, ele que aceite este desafio: fazer do V. Setúbal campeão europeu em dois anos, sem estrangeiros, e a começar sempre os jogos com dez e a perder por 3-0. Aí é que vamos ver se ele é tudo isso que andam para aí a dizer...
(by Espoliado de Incheon)

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Que bonito!


Paíto - fazem o favor de reparar que foi pelo lado de João Pereira: Deus não dorme... - e Simão - com um copy/paste do golo de Rui Costa à Inglaterra - deram a nota final de grandiosidade a este jogo e apagaram a traição de há pouco do camisola 47. Por mim, os penalties já não têm qualquer importância. Ganhou o futebol. Parabéns.
(by Espoliado de Incheon)

Que feio!


Estou colado à TV a ver o Benfica-Sporting da Taça. Estamos a meio do prolongamento e não sei quem vai ganhar, nem me interessa. Interessa-me, sim, dizer que a esperteza saloia de João Pereira, que origina a expulsão de Hugo Viana, é indigna deste jogo, e de tudo o que os outros andaram a fazer em campo nestes mais de 100 minutos. Depois de tanta luta, generosidade, empenho, erros, emoção e falhanços de parte a parte, querer resolver um jogo tão bonito com manha de taxista de aeroporto é simplesmente inaceitável. Por vocês não sei. Eu senti-me defraudado como se, a meio de um recital, a Maria João Pires assinalasse o fim de uma sonata de Schubert com um sonorosíssimo traque.
(by Espoliado de Incheon)

O ponto G das balizas

O orgasmo do bibota alertou-me para outro aspecto da complexibilidade do futebol. Aposto que o tal de Grafenberg andava bem mais obcecado com o seu humano objecto de estudo - e ainda bem para ele! - do que com o toca-e-corre do couro. Por isso, tenho a certeza de que nunca se lembrou disto. Se, como diz o Fernando, um golo é como um orgasmo, a baliza também há-de ter algo a ganhar com isso. Mas, com tantos metros de alto e largo, onde será o seu ponto G?
Acho que os brasileiros é que devem entender da coisa. Não é por acaso que são pentacampeões mundiais. A minha teoria é que eles perceberam mais cedo do que os outros como se tornar os favoritos das balizas: andam ali à volta, a apalpar terreno, em fintas, dribles, passes, passos à frente e atrás, antes do tal orgasmo do golo. São amantes perfeitos e, claro, a baliza gosta mais deles.

P.S. Se esta teoria for provada, não sei o que vamos fazer a todas aquelas t-shirts estampadas com a frase "Portuguese do it better".
(by El Pibe da Trafaria)

O futebol é (3)

... marcar autogolos com classe, o guarda-redes a voar para uma bola à qual sabe que não vai chegar, jogar de meias caídas porque dá estilo, usar guita para o cabelo para chutar do meio da rua, ter adesivos no nariz para correr mais que os outros, inventar inclinações no campo quando se perde, um árbitro a cair sempre em fora-de-jogo ou aquele lançamento de linha lateral com a bola a escorregar das mãos. É gritar e dar murros no prato de tremoços e entornar a imperial, é atirar o telecomando à televisão e tentar fazer zapping com este estragado quando se está a perder, é mandar sms aos amigos a gozar com eles e vestir a camisola do nosso clube na segunda-feira de manhã. É gritar Goloooo aos saltos e puxar as calças para cima pelo descuido. O futebol é isto mesmo. Salvo seja.
(by El Pibe da Trafaria)

O Platini da Luz

O velho Trap percebe da coisa. Em defesa de Paulo Almeida, que sempre julguei ser o croissant do outro lado da Segunda Circular, o treinador do Benfica fez uma analogia com o antigo pupilo Platini, que se fartou de jogar à bola lá por Turim e por outros campos de chincha do mundo. Disse que o francês nem tocava na redonda nos primeiros seis meses. Fiquei descansado como adepto de futebol: o Benfica tem o seu número 10 escondido no plantel, mas bem mais penteadinho. Daqui a uns jogos, o brasileiro vai desatar a fazer assistências para golo e a marcar livres de folha-seca. Viva o luxo!
(by El Pibe da Trafaria)

O contraditório do bibota

O bibota Fernando Gomes teve aqui há uns anos uma expressão que marcou o futebol. Pelo menos uma parte dele. Disse já não me lembro bem porquê, nem qual o contexto, que um golo é como um orgasmo. Passados estes anos, e como ninguém avançou com o contraditório, faço aqui uma tentativa: "Se isso é verdade, então um autogolo é como ficar com o dito preso no fecho éclair".
(by El Pibe da Trafaria)

terça-feira, janeiro 25, 2005

Agora é fácil gostar dele


Por uma vez as estatísticas confirmaram o que todos sabem: José Mourinho é o melhor treinador do Mundo.

Enfim, nestas coisas do futebol ninguém é propriamente o melhor. Está-se o melhor, que a bola continua redonda e dotada de vida própria.

Mourinho nem precisava de ter os números do seu lado, embora ganhar continue a dar muito jeito. Ele é bom e isso vale muito mais do que a simples soma de golos e pontos.

Filho de um treinador de futebol, aos 15 anos espiava as equipas adversárias e escrevia relatórios que só não eram perfeitos porque a mãe, professora, teimava em vigiar o Português. Os outros miúdos queriam ser jogadores, ele sonhava dirigi-los.

Por essa altura chamava «Gullit» ao cão lá de casa, hoje ganha muito mais do que o holandês, que passou de jogador genial a treinador mediano. Mourinho fez o percurso inverso, de futebolista jeitosinho a melhor treinador do Mundo.

Apesar de ter vencido muito e depressa em Portugal, só agora Mourinho começa a ser reconhecido por cá. Num país pintado a cor-de-rosa, para os distraídos e pobres de espírito as frases fortes e o estilo decidido sobrepuseram-se durante demasiado tempo ao talento.

Melhor do Mundo, Mourinho é também o mais adaptado ao seu tempo. Culto, viajado, lê muito, trabalha sempre, escreve bem, analisa com perspicácia. Percebeu antes da maioria o poder dos media e serve-se dele como ninguém.

Para os treinadores de futebol os dias andam difíceis. Os empresários exigem a circulação dos activos (bonita palavra, os que não se mexem ficam no banco), os dirigentes precisam de resultados, os jogadores querem dinheiro rápido. Os adeptos, indiferentes, apenas não apreciam ser gozados pelo amigo no café.

Mourinho gosta de ditar as leis.

Num mundo assim, recusa-se a fazer papel de figurante. Ganhou com uma equipa que desafiou o clube dos ricos, o F.C. Porto. Em Inglaterra construiu o Chelsea, até aí apenas um conjunto de jogadores de um presidente russo multimilionário.

Organizado, metódico, atento ao detalhe, na escola primária só saía para o recreio com lápis e borrachas correctamente arrumados no estojo. Agora, no topo do Mundo, Mourinho parece não ter mudado muito: normalmente só sai do campo com o adversário arrumado. (by Falso Lento)

O futebol é (2)


…um puto sozinho a jogar à chuva, de galochas. E a fazer o relato em voz alta.
(by Espoliado de Incheon)

O futebol é (1)


...um apreciador da ironia. Porque quanto mais e melhor o percebemos menos os nossos corpos envelhecidos podem traduzir a sabedoria em acções. Basta ver as minhas peladinhas de segunda-feira à noite para perceber isso. O meu luminoso –diria mesmo genial, não fosse a modéstia - conhecimento de todos os segredos do jogo só é comparável à mobilidade de pedregulho comatoso com que vou enchendo o campo. O curioso é que isto se aplica a quase todos os outros campos da vida: quanto mais conheço o mundo menos vontade tenho de escrever sobre ele, quanto mais sei sobre sexo menos quero dar aos quadris, etc.

Lembrei-me disto ao ver a demonstração de classe dada por Pedro Barbosa no último domingo. Um recital de «less is more», com o cérebro a substituir as pernas com ganhos óbvios. Este é um homem que caminha a passos largos – e lentos, como se impõe – para o conhecimento supremo. É um combate perdido, como se sabe: mais tarde ou mais cedo nós, os sábios (bem-vindo ao clube, Pedro), somos atirados para o caixote de lixo da história por uma legião de putos apressados que correm/escrevem/dão à bomba incansavelmente sem fazer a mínima ideia para onde vão. Se eles soubessem como nos rimos deles, do alto da nossa flácida, inútil e gloriosa perfeição virtual...
(by Espoliado de Incheon)

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