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quinta-feira, janeiro 27, 2005

Voltei a acreditar em treinadores

José Mourinho devolveu-me a crença de que os treinadores fazem sentido e são mesmo necessários. Quer dizer, alguém tem de mandar, mas os últimos tempos só acrescentaram argumentos à tese que elaborei (a palavra não é a melhor) aos treze anos.

À falta de mais conhecimentos, parti da experiência própria. Apesar de todo o meu valor e de nunca faltar aos treinos, o mister (juro, era assim) passou o ano a levar-me com ele para o banco. O meu pai dizia-me que isso era sinal de que gostava muito de mim, queria-me sempre ali perto. A minha mãe ficava toda contente, assim não apanhava tanta chuva.

Infelizmente para a equipa era muito mais grave: ele não percebia nada daquilo.

A tese confirmou-se no fim da época.

Jogo decisivo, o lateral direito titular estava fraco nas aulas, os pais obrigaram-no a ficar em casa. Joguei eu. Fui o melhor num campo pelado, inclinado. Fiz um corte de bicicleta a impedir um contra-ataque do adversário, coisa que nunca vi repetida, e subi no terreno quando ainda apenas o Kaltz e o Gabriel tentavam. Conclusão: os pais do tipo que faltava às aulas percebiam mais de bola do que o treinador e quiseram dar-me a titularidade.

No ano seguinte fui sempre titular, no meio-campo. No terceiro ano da história passei a adjunto. No quarto assumi a equipa, no quinto achei que não tinha nascido para aquilo e fui para a faculdade.

Andei convencido de que os treinadores são apenas razoáveis suportes de bigode e mesmo assim têm dias.

Sempre sorri ao ler descritas nos jornais as grandes jogadas tácticas, as substituições miraculosas, convencido de que tudo tinha uma razão escolar por detrás. Provavelmente o jogador pedia para sair mais cedo para ir estudar ou simplesmente fugia ao descobrir os pais no estádio. Os jornalistas é que não percebiam.

Até que chegou Mourinho. Assim de repente, não me lembro de o ter visto resolver um jogo no banco. Até pode ter acontecido, numa altura em que ele encenava fúrias para despertar a equipa. Mas não está provado.

Ele é um treinador que resolve tudo antes de os jogos começarem. Estou até convencido de que resolve as coisas logo no princípio da temporada. Aliás, deve estar perto de ser corrido do Chelsea por colocar em risco a célebre competitividade do futebol inglês. A pobre, desempregada, emigrou para o sol e está há seis meses em Portugal, o único sítio onde Mourinho não trabalhará nos próximos anos.

Mourinho é um treinador que resolve tudo por antecipação. Deve dar-se muito bem com os directores das escolas de Londres. Nunca vi um dos seus jogadores sair apressado para estudar.

Depois destes anos todos, Mourinho conseguiu finalmente provar a teoria da minha mãe: se estudares e estiveres bem na escola vais ver que tudo sai melhor no futebol. E eu voltei a acreditar em treinadores.

by Falso lento

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