Lobo Antunes, o treinador ideal
Li recentemente uma entrevista do eterno quase-Nobel António Lobo Antunes. Aviso já que sou fã, que devorei "A Morte de Carlos Gardel" e o "Não Entres tão Depressa nessa Noite Escura", fechando cada livro com cuidado não fosse desassossegar o génio que vive naquelas páginas. Mas não é por isso que escrevo. Escrevo porque uma frase despertou-me para o que já vi tantas vezes por esses estádios. Era mais ou menos assim: "Como não tenho talento, tive de trabalhar muito".
O que tem isto que ver com o futebol? Tudo. Fez com que lembrasse a infância, ou melhor os inícios da adolescência, já que acordei tarde para o jogo da bola. Fez com que lembrasse como passei das galochas à chuva, tratando o cautchú com pés-de-tijolo, para a suavidade dos ténis de pano, com dribles bonitos, trabalhados a partir das jogadas da TV ou de VHS alugados no videoclube. Lembra-me que se nasci com talento para o couro a culpa de não se perceber não era das galochas. Era minha. Tive de trabalhar o meu talento. Primeiro, plagiando. Depois, criando.
Lembro-me que era um zero com o pé esquerdo com as galochas calçadas, avançando a toques de direita como se fosse a galope de um cavalo invisível. Lembro-me do treinador a perguntar-me anos depois, após o primeiro treino: "És canhoto? Não? E fintas com o pé esquerdo?". Lembro-me de marcar grandes golos assim, de treinar pontapés de bicicleta e cabeceamentos de cima para baixo, de inventar fintas com o calcanhar. Hoje, corro mas não saio do mesmo sítio. Hoje, sei que trabalhei o meu talento e esqueci-me de emagrecer.
Assusta-me encontrar falhanços que a ansiedade por si não explica. Jogadores que nunca dominaram a bola ou marcaram golos com o pé esquerdo, que nunca festejaram golos de cabeça. Jogadores que nasceram assim, mas que nunca quiseram ser melhores do que são. Perdoa-lhes, António! Eles não sabem o que fazem. Talvez se tu fosses treinador...
(by El Pibe da Trafaria)
O que tem isto que ver com o futebol? Tudo. Fez com que lembrasse a infância, ou melhor os inícios da adolescência, já que acordei tarde para o jogo da bola. Fez com que lembrasse como passei das galochas à chuva, tratando o cautchú com pés-de-tijolo, para a suavidade dos ténis de pano, com dribles bonitos, trabalhados a partir das jogadas da TV ou de VHS alugados no videoclube. Lembra-me que se nasci com talento para o couro a culpa de não se perceber não era das galochas. Era minha. Tive de trabalhar o meu talento. Primeiro, plagiando. Depois, criando.
Lembro-me que era um zero com o pé esquerdo com as galochas calçadas, avançando a toques de direita como se fosse a galope de um cavalo invisível. Lembro-me do treinador a perguntar-me anos depois, após o primeiro treino: "És canhoto? Não? E fintas com o pé esquerdo?". Lembro-me de marcar grandes golos assim, de treinar pontapés de bicicleta e cabeceamentos de cima para baixo, de inventar fintas com o calcanhar. Hoje, corro mas não saio do mesmo sítio. Hoje, sei que trabalhei o meu talento e esqueci-me de emagrecer.
Assusta-me encontrar falhanços que a ansiedade por si não explica. Jogadores que nunca dominaram a bola ou marcaram golos com o pé esquerdo, que nunca festejaram golos de cabeça. Jogadores que nasceram assim, mas que nunca quiseram ser melhores do que são. Perdoa-lhes, António! Eles não sabem o que fazem. Talvez se tu fosses treinador...
(by El Pibe da Trafaria)
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