Respeitinho, sim...
Um dia de chuva, campo pelado, perigoso, mas ainda sem lençóis de água. A equipa da casa massacrava-nos com bolas pelo ar para as torres que tinham na frente. Perdíamos por 3-1 e não tínhamos a bola mais do que em um ou dois passes a meio-campo.
Minutos antes tentara, fizera dois dribles e dois dos outros chocaram como numa piada fácil de Benny Hill, com as risadas e tudo gravadas no estúdio. Mas o treinador olhou-me de lado e fez aquele gesto com a mão direita de um lado para o outro, de cima para baixo. Sempre achei que aquilo era um lugar-comum, não queria dizer nada. Não dava para trocar a bola, estávamos sempre de coxas a queimar no chão, não aguentávamos mais de dois metros em progressão. Não eramos maus... Bem, acho que não.
Acenei que sim ao treinador e na primeira bola que tive no pé direito corri para a baliza. Joga, joga. Simulei à frente do primeiro e o gajo disparou para o outro lado. Passa a bola! Os meus colegas começaram a correr em todas as direcções, mas o sangue saltava-me e não podia arriscar o passe. Havia o fora-de-jogo também. Abrandei e depois arranquei outra vez. Abriu-se um buraco e lá estava o guarda-redes. Puxei o direito atrás, fiz pontaria acima da cabeça e a bola entrou sem espinhas. Não sei se levava força, porque também não sei se fechei os olhos. Talvez tenha fechado.
Boa, miúdo. É isso! Um polegar para cima, um bigode atrás. Sorrisos no banco atrás do treinador. O capitão veio ter comigo e deu-me uma carolada. Porra, quantas vezes te disse para fintares sempre que possas? Ganhámos o jogo. Não fiz mais nada de jeito, apesar de ter empurrado um outro golo duma poça em cima da linha. Foi um dia mais feliz.
Sempre gostei de jogadores que tentassem alterar o pH do futebol, que assumissem que tinham de fazer algo para mudar o instituído. Se não fosse assim, não teria tanta piada. Por isso, calo-me sempre quando todos disparam contra um individualista. Porque ele sabe por que fez o que fez. sabe que sentiu que podia derrubar o mundo. A sua confiança, naquele momento, podia transformá-lo num herói. E um futebolista é isso: uma mistura de talento e confiança. Que varia conforme o molde. E depois, é um jogo de lógica e probabilidades.
Imaginam o meu treinador sentado no banco a gritar com o Maradona depois de este ter passado por três ingleses e em corrida para a baliza de Shilton? Eu imagino!
(by El Pibe da Trafaria)
Minutos antes tentara, fizera dois dribles e dois dos outros chocaram como numa piada fácil de Benny Hill, com as risadas e tudo gravadas no estúdio. Mas o treinador olhou-me de lado e fez aquele gesto com a mão direita de um lado para o outro, de cima para baixo. Sempre achei que aquilo era um lugar-comum, não queria dizer nada. Não dava para trocar a bola, estávamos sempre de coxas a queimar no chão, não aguentávamos mais de dois metros em progressão. Não eramos maus... Bem, acho que não.
Acenei que sim ao treinador e na primeira bola que tive no pé direito corri para a baliza. Joga, joga. Simulei à frente do primeiro e o gajo disparou para o outro lado. Passa a bola! Os meus colegas começaram a correr em todas as direcções, mas o sangue saltava-me e não podia arriscar o passe. Havia o fora-de-jogo também. Abrandei e depois arranquei outra vez. Abriu-se um buraco e lá estava o guarda-redes. Puxei o direito atrás, fiz pontaria acima da cabeça e a bola entrou sem espinhas. Não sei se levava força, porque também não sei se fechei os olhos. Talvez tenha fechado.
Boa, miúdo. É isso! Um polegar para cima, um bigode atrás. Sorrisos no banco atrás do treinador. O capitão veio ter comigo e deu-me uma carolada. Porra, quantas vezes te disse para fintares sempre que possas? Ganhámos o jogo. Não fiz mais nada de jeito, apesar de ter empurrado um outro golo duma poça em cima da linha. Foi um dia mais feliz.
Sempre gostei de jogadores que tentassem alterar o pH do futebol, que assumissem que tinham de fazer algo para mudar o instituído. Se não fosse assim, não teria tanta piada. Por isso, calo-me sempre quando todos disparam contra um individualista. Porque ele sabe por que fez o que fez. sabe que sentiu que podia derrubar o mundo. A sua confiança, naquele momento, podia transformá-lo num herói. E um futebolista é isso: uma mistura de talento e confiança. Que varia conforme o molde. E depois, é um jogo de lógica e probabilidades.
Imaginam o meu treinador sentado no banco a gritar com o Maradona depois de este ter passado por três ingleses e em corrida para a baliza de Shilton? Eu imagino!
(by El Pibe da Trafaria)
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