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quinta-feira, novembro 03, 2005

Um frango é um frango é um frango

Quando eu era miúdo, pouco tempo depois de perceber que o Pai Natal não existia, fiquei chocado quando vi o Bento dar um frango. Algum tempo depois vi acontecer a mesma coisa ao Damas e o choque aumentou. Quando o Dassaev deu um dos frangos mais «National Geographic» que me foi dado contemplar no futebol percebi que não havia como ficar chocado: os frangos faziam parte da coisa e do carisma dos melhores guarda-redes do mundo.

Depois disso cresci. E já vi o Vítor Baía a franguejar. O Schmeichel a dar «pirús». O Kahn a deixar escapar bolas com penas por entre as pernas. O Preud'homme a enganar-se no caminho, com desvio pelo Entroncamento. E também já vi uns quantos frangos do Ricardo, com perdão pela redundância.

Serve isto para dizer que é inútil maquilhar os frangos com outra coisa qualquer, seja a relva molhada, a trajectória esquisita da bola ou a iluminação em cheio nos olhos. Tudo isso pode ajudar a enganar o guarda-redes, mas não apaga a evidência de que, como dizia o poeta, «um frango é um frango é um frango». O guarda-redes que, contra todas as evidências, insiste em explicar à base de eufemismos que nenhum dos golos que sofreu foi galináceo torna-se aquele puto teimoso que faz birra por uma coisa em que já nem sequer ele próprio acredita. E o mesmo acontece aos adeptos teimosos ou à crítica complacente que contorna palavras como quem evita pisar ovos.

Assim, falemos claro: o golo do Villarreal diante do Benfica foi um frango, com todos os atributos da espécie. O facto de Rui Nereu ter apenas 19 anos deve aligeirar, logicamente, o tom das críticas: é cruel e injusto crucificá-lo em manchete. Mas não o isenta de dar frangos. Porque não é criando realidades artificiais que se faz crescer um jovem guarda-redes. Nereu virá a ser tão bom quanto o seu talento e persistência lho permitirem. Isso não tem nada a ver com a escolha de palavras. Ou com frangos maquilhados.

(by Espoliado de Incheon)

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