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quarta-feira, setembro 21, 2005

Vai em frente, Co

Desconfio que existe uma altura na vida em que toca uma campainha e descobrimos que ganhar não é tudo . Aliás, desconfio segunda vez no mesmo parágrafo, há dias em que vencer assemelha-se demasiado com nada. Aprendi-o aos 14 anos, em 1982, e desde já aviso que o mérito é alheio.

Agradeço ao Brasil de Zico, Sócrates, Júnior e Falcão (o meu preferido). Eu estava pela Itália antes de o Mundial 82 começar. Mas naquela tarde de 5 de Julho compreendi tudo: jamais veria outro jogo assim, a minha selecção ganhara e eu estava triste. Duas décadas depois aquele «escrete» permanece um notável exemplo do que é jogar bem. A Itália continuou a ser a Itália.

Lembrei-me disto porque nos últimos dias conversou-se sobre a qualidade do jogo. O treinador do F.C. Porto, Adriaanse, atirou-se às equipas que abusam das faltas e aos que são cúmplices. Curiosamente, em Inglaterra o tema também se discute. Wenger diz que as equipas têm obrigação de dar espectáculo e entreter os adeptos, Mourinho acha que nem por isso.

Andam preocupados, os ingleses, porque os jogos estão a tornar-se previsíveis, que é outra forma de demonstrar incómodo por o Chelsea estar a dar ainda menos hipóteses. Queixam-se um pouco de barriga cheia. Em 2004/05 os estádios tiveram uma taxa de ocupação superior a 94 por cento. Esta temporada parece haver menos público e por isso eles correram a formar um grupo de sábios que estude o problema e proponha soluções. Têm medo que depois de dez anos a criar uma liga exemplar algo de errado esteja a suceder. E fazem bem.

Em Portugal há vários anos que o relatório anual da «Deloitte» revela que a média de espectadores nos estádios portugueses ronda os seis mil por jogo. Que se saiba a Liga nunca procurou qualquer solução para o problema (no último relatório escreveu Valentim Loureiro: «Urge encarar, urge reflectir». E a seguir continuou em campanha eleitoral). Até há quem jure que se joga bem no nosso campeonato. É muitas vezes mentira, confirma-se ao fins-de-semana.

Os dirigentes dos clubes, com escassas excepções, não demonstram especial preocupação com a falta de adeptos e durante o Verão só discutiram se os árbitros deveriam ser sorteados ou nomeados. Provavelmente, a maior parte não descobriria as diferenças entre o Brasil e a Itália, mesmo que a solução estivesse escrita página, logo ao lado das gravuras, como nos livros para crianças.

Porque é assim, acho que Co Adriaanse tem razão: bate-se muito, joga-se pouco e ninguém diz nada. Temos um futebol de cábulas, uma turma com demasiados alunos satisfeitos por passar com «10». O F.C. Porto pode nem ganhar, mas agora que o Sporting vive uma crise de identidade é o mais parecido que temos com uma equipa que se preocupa em jogar bem. Como em Portugal urge reflectir mas não se reflecte, urge encarar mas não se encara e a qualidade do jogo é discussão de aborrecidos, sobram as conclusões empíricas e apressadas. Deixo a minha: deve ser a promessa de futebol de qualidade que faz encher o Dragão. É o miúdo de 14 anos que vive em mim que vos diz.

(by Falso lento)

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