Voltaste a arrepiar-me, Jorge
A TSF acaba de dar a notícia: Jorge Perestrelo morreu. A jornalista segurou a voz enquanto pôde e levou a palavra até ao registo que trouxe o Jorge de volta: relatava o golo de Miguel Garcia, em Alkmaar. Arrepiei-me, Jorge. Sempre que nos juntamos nestas viagens à volta dos clubes aproveitamos para falar de tudo, comparamos estilos, avaliamos o que muda e o que se mantém. Tu nunca cabias em categorias. Ainda na quinta-feira falámos nisso, pela milésima vez. Sempre achaste piada à diferença. Nunca quiseste ser um tipo fácil. Partes depois dos repetidos «eu te amo Sporting» que arrepiam. Quando era a sério, Jorge, quando era preciso dar tudo, tu eras o melhor. O mais forte, o mais ousado. De ti vou guardar a irreverência perante os que se acham poderosos. As noites ao teu lado, a contar jogos. O carinho que sempre me deste. O apoio e a confiança. Eu era um miúdo, nem sei bem quem teve a lata de me pôr a comentar jogos ao teu lado. Na tua voz, eu dizia sempre coisas muito inteligentes. Na quarta-feira vi o teu contentamento quando um miúdo do Sporting, que te ouvia em Londres pela net, te pediu um autógrafo e quis tirar uma fotografia contigo, para mostrar ao pai quando voltasse a casa. É o que ele deve estar a fazer agora, Jorge. Tenho a certeza que está. Por mim, guardarei na memória e no coração todas as vezes que nos emocionámos, na bancada de um estádio, por causa de um jogo de futebol. Acabei de ouvir o golo do Miguel Garcia dito por ti. Ficou muito bem. Foste grande, Jorge.
Luís Sobral
Luís Sobral
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