Por falar em faxes
Tenho saudades do Verão quente de 93. Isso é que eram tempos. Isso é que eram rescisões valentes.
Ninguém perdia tempo a escrever uma carta de dez páginas.
Julgo até que em Alvalade já tinham um formulário. Era só assinar e pedir à funcionária para enviar para a Luz. Por faxe.
Aquilo começou a ser tão ridículo que os dirigentes do Benfica, num rasgo, mandaram desligar o faxe do departamento de futebol. Consta que nunca mais o utilizaram (por isso devem vender barato...), daí o Miguel ter optado por carta registada.
Tenho saudades do Verão de 93.
Vivíamos na Luz. Nós, os jornalistas, mas também os dirigentes. E os empresários. E os adeptos, às dúzias, no tempo em que se sofria pelo Benfica e o famoso «grupo da árvore» (meia dúzia de tipos antigos e pouco ocupados que se reuniam debaixo de uma árvore, em frente ao departamento de futebol) ditava a lei.
Nesses tempos loucos em que o Benfica ganhava muitas vezes, os jogadores iam a pé para o campo de treinos e aproveitavam os 100 metros no asfalto para darem autógrafos ou ouvirem críticas, conforme o resultado da véspera. Nunca se escondiam.
Havia um senhor que todos os dias se plantava à saída do balneário. Gostava sobretudo do Toni. Mas ajudava os treinadores por igual. À sexta-feira, discretamente, caminhavam uns metros lado-a-lado e depois o treinador seguia o seu caminho, com um papel na algibeira. Era o «onze» para o jogo de domingo. Só não era campeão quem não queria.
Mas no Verão não havia treinos, só o ruído do faxe. E o telefone.
A sala de imprensa ficava mesmo em frente ao gabinete da telefonista (não havia telemóveis, pedíamos-lhe que nos encomendasse as pizzas para as madrugadas loucas). Como o tempo custa a passar a todos, ao fim de uns dias de gentil conversa já era possível saber quem ligava. Assim se acompanhava o drama do Benfica .
De vez em quando telefonava Manuel Barbosa, «o» empresário de então. Ficou célebre a frase «Paulo, liga para a tua mãe», proferida no dia em que o faxe recebeu a rescisão do médio. O «Paulo» não ligou e acabou campeão da Europa, uns meses depois, com a Juventus e o Borussia Dortmund.
Sempre que ouço falar em rescisões fico assim, nostálgico.
Gosto dos faxes, pronto.
(by Falso lento)
Ninguém perdia tempo a escrever uma carta de dez páginas.
Julgo até que em Alvalade já tinham um formulário. Era só assinar e pedir à funcionária para enviar para a Luz. Por faxe.
Aquilo começou a ser tão ridículo que os dirigentes do Benfica, num rasgo, mandaram desligar o faxe do departamento de futebol. Consta que nunca mais o utilizaram (por isso devem vender barato...), daí o Miguel ter optado por carta registada.
Tenho saudades do Verão de 93.
Vivíamos na Luz. Nós, os jornalistas, mas também os dirigentes. E os empresários. E os adeptos, às dúzias, no tempo em que se sofria pelo Benfica e o famoso «grupo da árvore» (meia dúzia de tipos antigos e pouco ocupados que se reuniam debaixo de uma árvore, em frente ao departamento de futebol) ditava a lei.
Nesses tempos loucos em que o Benfica ganhava muitas vezes, os jogadores iam a pé para o campo de treinos e aproveitavam os 100 metros no asfalto para darem autógrafos ou ouvirem críticas, conforme o resultado da véspera. Nunca se escondiam.
Havia um senhor que todos os dias se plantava à saída do balneário. Gostava sobretudo do Toni. Mas ajudava os treinadores por igual. À sexta-feira, discretamente, caminhavam uns metros lado-a-lado e depois o treinador seguia o seu caminho, com um papel na algibeira. Era o «onze» para o jogo de domingo. Só não era campeão quem não queria.
Mas no Verão não havia treinos, só o ruído do faxe. E o telefone.
A sala de imprensa ficava mesmo em frente ao gabinete da telefonista (não havia telemóveis, pedíamos-lhe que nos encomendasse as pizzas para as madrugadas loucas). Como o tempo custa a passar a todos, ao fim de uns dias de gentil conversa já era possível saber quem ligava. Assim se acompanhava o drama do Benfica .
De vez em quando telefonava Manuel Barbosa, «o» empresário de então. Ficou célebre a frase «Paulo, liga para a tua mãe», proferida no dia em que o faxe recebeu a rescisão do médio. O «Paulo» não ligou e acabou campeão da Europa, uns meses depois, com a Juventus e o Borussia Dortmund.
Sempre que ouço falar em rescisões fico assim, nostálgico.
Gosto dos faxes, pronto.
(by Falso lento)
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