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domingo, julho 17, 2005

A lição de Tomasson

Hoje, domingo, só um dos desportivos faz manchete com a transferência de Tomasson do Milan para o Estugarda, com passagem virtual de uma semana pela Luz.

Os outros dois dividem-se entre o regresso de Liedson aos golos (com o Barreirense...) e uma informação de agenda (o Chelsea joga na Luz esta noite).

No entanto ninguém duvida que a grande notícia de sábado foi o golpe que Giovanni Trapattoni deu no Benfica, levando Tomasson para o Estugarda, e impedindo o presidente dos «encarnados» de cumprir a promessa de apresentar dois grandes internacionais frente ao Chelsea.

Os adeptos acusam muitas vezes os jornalistas de «inventarem» nomes de jogadores, colocando-os na agenda dos clubes com o único fim de sobreviver aos períodos em que não há futebol mas é preciso continuar a vender jornais.

Nada mais injusto. Raramente os jornalistas se enganam redondamente. Poucas vezes «mentem», para usar a palavra mais utilizada pelos que discutem bola nos cafés.

O problema é outro.

Hoje em dia os clubes são bombardeados com propostas de empresários, têm acesso a toda a informação e por isso existem sempre nomes em carteira para as mais diversas necessidades. Jogadores louros, morenos, altos, baixos, de pé esquerdo, bons de cabeça, etc, etc. E, também não raro, os clubes telefonam a empresários e outros dirigentes a perguntar como está a vida do futebolista «x» ou «y».

A questão começa aqui. Os jornais desportivos, sobretudo eles, vivem a um nível de concorrência que talvez só encontre paralelo na guerra de audiências televisivas.

Muito por causa disso, mas não só, aquilo a que os jornais desportivos dão importância alterou-se muito nos últimos 20 anos. E dramaticamente nos últimos 5, 10.

Na prática, isto leva-os a oferecer a primeira págna a coisas que justificavam pouco mais do que uma breve e, por vezes, queimar etapas.

O caso Tomasson é um excelente exemplo.

No essencial, a notícia era verdadeira: o Benfica estava a conversar com o Milan sobre a transferência do dinamarquês.

Mas já não era verdade que Tomasson estivesse «no Benfica» há uma semana. Ou sequer na sexta-feira à noite ou no sábado de manhã.

A tentação de andar sempre um passo à frente, para bater a concorrência e poder dizer que deram «primeiro», às vezes acaba em erro.

Para os jornais desportivos, os factos parecem nunca satisfazer.

Se por trás desta inquietação até podia estar um saudável combate jornalístico, na verdade o resultado final é muitas vezes desajustado da realidade. E por isso deficiente.

Se os jornalistas de desporto sentem muitas vezes que a classe olha para eles como profissionais de segunda (não escrevemos sobre coisas cheias de charme como as greves dos polícias, a literatura light, o défice, Alberto João Jardim ou Cinha Jardim), ninguém mais interessado do que nós em reforçar o rigor.

Ninguém imagina um jornal generalista fazer, no espaço de uma semana, duas manchetes fortes, quase de página inteira, que a realidade desmente uns dias depois.

Nem sempre andar devagar significa chegar depois dos outros. Se querem uma moral para esta estória, ela aí fica. Se não querem, paciência. Podem sempre comprar os jornais.

(by Falso lento)

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