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quarta-feira, maio 11, 2005

Parábola confusa e de moral obscura

Quando era miúdo e acreditava que podia ser o melhor jogador do mundo tinha a mania de roer as unhas. Entre golos impossíveis e recitais de dribles, entregava-me a verdadeiras orgias roedoras, só parando quando as pontas avermelhadas dos dedos semidevorados me tornavam impossível qualquer movimento de mãos.

Depois, na adolescência, fase mística por excelência, refinei os procedimentos. Em vez de roer as unhas todos os dias, instituía a «semana da abstinência», antes de jogos importantes. Resistia à tentação e as unhas iam crescendo, dia após dia. Ficavam cheinhas, apetitosas, e no dia do jogo eu entrava em campo duplamente motivado. Com a perspectiva de ser o melhor do mundo mas, acima de tudo, com o momento em que finalmente pudesse metê-las na boca, roendo uma após outra, com brio (mindinho), denodo (anelar), pundonor (médio), arreganho (indicador) e pertinácia (polegar).

Tudo isto para dizer que não foram as semanas de abstinência que me fizeram deixar de roer as unhas. Isso só aconteceu no dia em que percebi que havia tantos sítios estimulantes onde pôr os dedos que a tentação de colocá-los na minha própria boca era o traço de alguém com horizontes limitados e mundos estreitos. E então deixei-me de tretas: assumi que ser o melhor do mundo não era para mim e parti para outra.

(by Espoliado de Incheon)

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