Momento de poesia
Rui Costa recebeu a bola na zona central, a quinze metros da área do Brescia. Guinou para a lateral esquerda, fez que ia para a linha de fundo mas, como tem a camisola 10 em vez da 7 ou da 11, não foi. Voltou para trás, contornou quase com carinho o meco de camisola azul que lhe apareceu à frente, passou cuidadosamente de largo sobre a quina da área, porque os caminhos mais bonitos raramente são os mais óbvios. Depois, como quem desliza sobre a relva, seguiu em paralelo à linha até chegar à terra prometida. Aí, desenhou uma parábola perfeita, com um pé direito que, naquela altura, transportava toda a sabedoria de 120 anos de futebol no mundo. A bola não tinha escolha: seguiu o único caminho que lhe era admissível até encontrar o ângulo esquerdo. Castelazzi, o guarda-redes, cumpriu um papel importante na cena: ficou a olhar, esmagado pela dimensão do que lhe estava a acontecer naquela altura. Teve o privilégio de assistir em lugar VIP a algo com que muitos mortais não se cruzam durante toda uma vida: um momento de perfeição absoluta. Depois, o mundo voltou a girar sobre o seu eixo e a vida continuou como dantes. Minto: apenas um pouco melhor do que antes.
(by Espoliado de Incheon)
(by Espoliado de Incheon)
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